domingo, 29 de março de 2015

Erasmo de Roterdã

  

- Autor de uma das mais célebres obras filosóficas do Renascimento.
 
- "O Elogio da Loucura" foi escrito originalmente em latim e publicada em Paris, no ano de 1511, pelo escritor, filósofo e teólogo Desidério Erasmo.

- Desde seu título, ela é uma homenagem a Thomas More, autor da "Utopia" e grande amigo de Erasmo.

- Observe a semelhança entre o nome More e Moria (loucura).
 
- "O Elogio da Loucura" fez grande sucesso à época de seu lançamento e continua atual.

- Deve-se destacar que se trata certamente de uma das obras filosóficas mais divertidas de todos os tempos, uma vez que seu autor resolveu escrevê-la de modo francamente satírico, em seus 68 breves capítulos.


CRISTIANISMO E PROTESTANTISMO
 
- No texto, a Loucura, personificada como uma entidade viva, faz seu próprio elogio e se demonstra a imperatriz da humanidade, uma vez que ela é a "mola oculta da vida" e ninguém lhe escapa.

- É assim, em tom de brincadeira, que Erasmo denuncia males reais, como:

** a ingratidão;
** a hipocrisia;
** a intolerância.
 
- Esta última, diga-se de passagem, ocupa uma posição de destaque na obra, de vez que se está num momento de grande litígio religioso.
 
- Lutero se erguera contra o papa, lançando as bases da Reforma protestante.

- Erasmo coloca-se numa posição equidistante entre católicos e protestantes, zombando tanto da pretensão destes últimos, que reinterpretam o cristianismo, quanto da arrogância dos cristãos.
 
- Exatamente por isso, o pensador se torna a grande expressão do humanismo cristão do período.

HUMANISMO

 
- O humanismo deve ser entendido como um movimento literário e filosófico que nasceu na Itália, na segunda metade do século XIV e se difundiu dali para os demais países da Europa, sendo a base ideológica do Renascimento.
 
O humanismo constitui-se do reconhecimento do valor do homem na sua totalidade e a tentativa de compreendê-lo em seu mundo:
** a natureza;

** a história.

- A perspectiva humanista considera o homem em sua totalidade, como ser formado de alma e corpo, destinado a viver no mundo e a dominá-lo.
 
- Nesse sentido, o humanismo faz mudar o foco dos estudos acadêmicos conforme eram orientados na Idade Média, deixando de lado a metafísica e afirmando a importância do conhecimento das leis, da natureza, da medicina e da ética. Isso constitui a base da ciência moderna.
 
Disponível em: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/elogio-da-loucura-obra-de-erasmo-de-roterda-marcou-. Consultado em 28/05/2015.

 

domingo, 22 de março de 2015

AGOSTINHO DE HIPONA (354-430)


Agostinho cria e tenta resolver problemas filosóficos pensando em si e nos seus dilemas e inquietudes morais e intelectuais. O que ele expôs como filosofia e teologia foram geralmente respostas para questionamentos seus. As suas investigações têm como centro a próprias características morais e intelectuais.
            O objetivo de Agostinho é conhecer a alma, ou seja, a sua própria interioridade e para isso ele tem que passar pelo conhecimento de Deus. Ele busca desvendar os mistérios da fé e esta é o fim das suas inquisições, mas a fé é também uma exigência e guia para que as investigações sejam feitas.
            A fé é um antecedente necessário da filosofia de Agostinho e para ele a fé é a percepção de ter sido tocado de alguma forma por Deus. Essa percepção além de mudar a forma de pensar muda também a forma de viver. A filosofia é um meio para melhor pensar, para melhor compreender a fé. Mas a fé não se coloca no lugar da inteligência, a fé incentiva a inteligência, o pensamento é também condição para que exista a fé. O conhecimento também não elimina a fé, esta se torna mais forte através da inteligência. A fé procura e a inteligência localiza e descobre.
            Agostinho busca conhecer Deus e a alma, mas para ele essa busca é uma só, pois Deus se faz conhecer no interior da alma. Para conhecer Deus devemos conhecer a nossa alma. É em nossa interioridade que devemos tentar encontrar Deus. Se não buscarmos a nós mesmos, ao mais profundo de nós mesmos, não encontraremos Deus e não vamos conhecê-lo.
            Além de Deus ser amor, Deus é a condição para que exista o amor. Para que possamos conhecer o amor de Deus temos que estar amando as outras pessoas. A esse amor aos homens Agostinho chama de amor fraterno ou caridade cristã. Amar a Deus é algo natural e intrínseco à natureza humana, pois somos imagens de Deus nosso criador que é a verdade eterna e a verdadeira eternidade.
            Deus é o criador de tudo que existe no tempo, mas ele é criador também do tempo. O tempo começou com a criação, antes dela não existia tempo e Deus está fora do tempo, pois é eterno. Em Deus não existe passado ou futuro, ele é imutável e um ser imutável como Deus vive um eterno presente.
            Para Agostinho o tempo do homem é medido pela alma e para nós existe um passado e um futuro porque somos seres mutáveis e não podemos viver em um eterno presente. O passado é uma memória guardada na alma e o futuro é a alma que espera os acontecimentos. O presente é um constante deixar de ser tanto do futuro como do passado, é uma intuição. Existem, portanto três tempos presentes, o presente do passado, o presente do presente e o presente do futuro. Esses três tempos encontram-se em nossa alma.
            O mal em Agostinho é o amor por si mesmo e o bem é o amor por Deus. Os homens que vivem para amar Deus formam a Cidade de Deus e os homens que vivem para amar a si mesmo formam a Cidade dos Homens. Na cidade de Deus vive-se segundo as regras do espírito e na cidade dos homens vive-se segundo as regras da carne. As duas cidades vivem mescladas uma com a outra desde que iniciou a história da humanidade e assim ficarão até o fim dos tempos. Cada ser humano tem que se questionar para saber a qual das duas ele faz parte.
            Deus não criou o mal. Agostinho acreditava que um ser em que só pode residir o bem não pode ser o criador do mal. Tudo que existe é bom e o mal é a ausência desse bem, é a ausência de Deus. Deus nos concedeu o Livre-Arbítrio, que é a nossa capacidade de decidir conforme nosso entendimento, e é dele que vem o mal. Deus nos criou independentes para que pudéssemos decidir por nossa vontade e através de nossa liberdade escolher o bem e não o mal. Quando o homem escolhe o mal ele se afasta de Deus.

Sentenças:
- Ame e faça o que quiser.
- Se não existir caridade não existe justiça.
- A suspeita é o veneno da amizade.
- Quem se casa está bem, quem não se casa está melhor.
- O mundo é um livro e quem não viaja lê somente uma página.
- Quem canta reza duas vezes.
- Com caridade o pobre é rico, sem caridade o rico é pobre.
- Errar é humano, continuar no erro é diabólico.
- A ignorância é a mãe da admiração.
- A medida do amor é amar sem medida.
- Os ociosos caminham lentamente e por isso os vícios os alcançam.
- Dai-me a castidade, mas não agora.
- No interior de todo homem existe Deus.
Disponível em: http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=42.

A ÉTICA DE SÓCRATES

Disponível em: https://jfariaadvogados.wordpress.com/2010/01/27/a-etica-de-socrates/.

Momentos finais da vida de Sócrates.
Uma das figuras mais emblemáticas da filosofia ocidental, Sócrates é um divisor de águas para a filosofia antiga. Isto porque situava o seu pensamento e especulações na natureza humana e suas implicações ético-sociais e não na cosmovisão das coisas e da natureza. Sócrates não deixou obras escritas, razão pela qual tudo o que sabemos a seu respeito tem origem no trabalho dos outros. Estima-se que tenha nascido em Atenas por volta do ano 469 a.C., tendo sido condenado à morte pelos juízes desta cidade no ano de 399 a.C.  Mas, o que faz o seu pensamento um importante marco na história da ética?
Pois bem, Sócrates erigiu uma linha de pensamento autônoma e originária que se voltava contra o despotismo das palavras, interagindo e reagindo ao movimento dos sofistas, muito em voga nesse período da história grega.  Seu método maiêutico era baseado na ironia e no diálogo, tendo como finalidade uma parturição de idéias. Logo, para Sócrates, todo erro é fruto da ignorância e toda virtude é conhecimento. Daí a importância de reconhecer que a maior luta humana deve ser pela educação e que a maior das virtudes é a de saber que nada se sabe.
A ética socrática reside no conhecimento e em vislumbrar na felicidade o fim da ação. Essa ética tem por objetivo preparar o homem para conhecer-se, tendo em vista que o conhecimento é a base do agir ético. Ao contrário de fomentar a desordem e o caos, a filosofia de Sócrates prima pela submissão, ou seja, pelo primado da ética do coletivo sobre a ética do individual. Neste sentido, para esse pensador, a obediência à lei era o limite entre a civilização e a barbárie. Segundo ele, onde residem as ideias de ordem e coesão, pode-se dizer garantida a existência e manutenção do corpo social. Trata-se da ética do respeito às leis,e, portanto, à coletividade.
A abnegação pela causa da educação dos homens e pelo bem da coletividade, levou Sócrates a se curvar ante o desvario decisório dos homens de seu tempo. Acusado de estar corrompendo a juventude e de cultuar outros deuses, foi condenado a beber cicuta pelo tribunal ateniense.  Sócrates resignou-se à injustiça de seus acusadores, em respeito à lei a que todos regia em Atenas.
Para esse proeminente filósofo grego, o homem enquanto integrado ao modo político de vida deve zelar pelo respeito absoluto às leis comuns a todos, mesmo em detrimento da própria vida. O ato de descumprimento da sentença imposta pela cidade representava para Sócrates a derrogação de um princípio básico do governo das leis, qual seja, a eficácia. Segundo Sócrates, com a eficácia das leis comprometida, a desordem social reinaria como princípio.

Assim, são muitas as lições trazidas pela ética socrática: o conhecimento como virtude; a educação como forma de conhecer a si mesmo e, por consequência, conhecer melhor o mundo para alcançar a felicidade; a primazia do coletivo sobre o individual e, a obediência às leis para garantir a ordem e a vida em sociedade. Sábias ideias. Se os agentes políticos e a sociedade em geral pensassem assim, teríamos, com certeza, um país mais justo e solidário.

domingo, 8 de março de 2015

CURSO DE FILOSOFIA II (OS PRÉ-SOCRÁTICOS)

Vídeo Aula:
https://www.youtube.com/watch?v=XrdTNJkupiY

I - Período pré-socrático (séc. VII-V a.C.)
Período Naturalista pré-socrático, em que o interesse filosófico é voltado para o mundo da natureza.
O primeiro período do pensamento grego toma a denominação substancial de período naturalista, porque a nascente especulação dos filósofos é instintivamente voltada para o mundo exterior, julgando-se encontrar aí também o princípio unitário de todas as coisas; e toma, outrossim, a denominação cronológica de período pré-socrático, porque precede Sócrates e os sofistas, que marcam uma mudança e um desenvolvimento e, por conseguinte, o começo de um novo período na história do pensamento grego. Esse primeiro período tem início no alvor do VI século a.C., e termina dois séculos depois, mais ou menos, nos fins do século V.
Surge e floresce fora da Grécia propriamente dita, nas prósperas colônias gregas da Ásia Menor, do Egeu (Jônia) e da Itália meridional, da Sicília, favorecido sem dúvida na sua obra crítica e especulativa pelas liberdades democráticas e pelo bem-estar econômico. Os filósofos deste período preocuparam-se quase exclusivamente com os problemas cosmológicos. Estudar o mundo exterior nos elementos que o constituem, na sua origem e nas contínuas mudanças a que está sujeito, é a grande questão que dá a este período seu caráter de unidade. Pelo modo de encarar e resolver, classificam-se os filósofos que nele floresceram em quatro escolas:

A) Escola Jônica;
B) Escola Itálica;
C) Escola Eleática;
D) Escola Atomística.

II - OS FILÓSOFOS

A) Tales de Mileto (624-548 a.C.) "Água"
Tales de Mileto, fenício de origem, é considerado o fundador da escola jônica. É o mais antigo filósofo grego. Tales não deixou nada escrito, mas sabemos que ele ensinava ser a água a substância única de todas as coisas. A terra era concebida como um disco boiando sobre a água, no oceano.
Cultivou também as matemáticas e a astronomia, predizendo, pela primeira vez, entre os gregos, os eclipses do sol e da lua. No plano da astronomia, fez estudos sobre solstícios a fim de elaborar um calendário, e examinou o movimento dos astros para orientar a navegação.
Provavelmente nada escreveu. Por isso, do seu pensamento só restam interpretações formuladas por outros filósofos que lhe atribuíram uma idéia básica: a de que tudo se origina da água. Segundo Tales, a água, ao se resfriar, torna-se densa e dá origem a terra; ao se aquecer transforma-se em vapor e ar, que retornam como chuva quando novamente esfriados. Desse ciclo de seu movimento (vapor, chuva, rio, mar, terra) nascem as diversas formas de vida, vegetal e animal. A cosmologia de Tales pode ser resumida nas seguintes proposições:

A) A terra flutua sobre a água;
B) A água é a causa material de todas as coisas;
C) Todas as coisas estão cheias de deuses.
D) O imã possui vida, pois atrai o ferro. 

B) Anaximandro de Mileto (611-547 a.C.) "Ápeiron"
Anaximandro de Mileto, geógrafo, matemático, astrônomo e político, discípulo e sucessor de Tales e autor de um tratado Da Natureza, põe como princípio universal uma substância indefinida, o ápeiron (ilimitado), isto é, quantitativamente infinita e qualitativamente indeterminada.
Deste ápeiron (ilimitado) primitivo, dotado de vida e imortalidade, por um processo de separação ou "segregação" derivam os diferentes corpos. Supõe também a geração espontânea dos seres vivos e a transformação dos peixes em homens. Anaximandro imagina a terra como um disco suspenso no ar. Eterno, o ápeiron está em constante movimento, e disto resulta uma série de pares opostos - água e fogo, frio e calor, etc. - que constituem o mundo.
O ápeiron é assim algo abstrato, que não se fixa diretamente em nenhum elemento palpável da natureza. Com essa concepção, Anaximandro prossegue na mesma via de Tales, porém dando um passo a mais na direção da independência do "princípio" em relação às coisas particulares. Para ele, o princípio da "physis" (natureza) é o ápeiron (ilimitado).
Atribui-se a Anaximandro a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia do uso do gnômon (relógio de sol) e a medição das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega). Ampliando a visão de Tales, foi o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo o processo cósmico total. Diz-se também, que preveniu o povo de Esparta de um terremoto. Anaximandro julga que o elemento primordial seria o indeterminado (ápeiron), infinito e em movimento perpétuo.

C) Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) "Ar"
Segundo Anaxímenes, a arkhé (comando) que comanda o mundo é o ar, um elemento não tão abstrato como o ápeiron, nem palpável demais como a água. Tudo provém do ar, através de seus movimentos: o ar é respiração e é vida; o fogo é o ar rarefeito; a água, a terra, a pedra são formas cada vez mais condensadas do ar. As diversas coisas que existem, mesmo apresentando qualidades diferentes entre si, reduzem-se a variações quantitativas (mais raro, mais denso) desse único elemento.
Atribuindo vida à matéria e identificando a divindade com o elemento primitivo gerador dos seres, os antigos jônios professavam o *hilozoísmo e o panteísmo naturalista. Dedicou-se especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe sua luz do Sol. Anaxímenes julga que o elemento primordial das coisas é o ar.

D) Pitágoras de Samos
Pitágoras, o fundador da escola pitagórica, nasceu em Samos pelos anos 571-70 a.C. Em 532-31 foi para a Itália, na Magna Grécia, e fundou em Crotona, colônia grega, uma associação científico-ético-política, que foi o centro de irradiação da escola e encontrou partidários entre os gregos da Itália meridional e da Sicília.
Pitágoras aspirava - e também conseguiu - a fazer com que a educação ética da escola se ampliasse e se tornasse reforma política; isto, porém, levantou oposições contra ele e foi constrangido a deixar Crotona, mudando-se para Metaponto, aí morrendo provavelmente em 497-96 a.C.
Segundo o pitagorismo, a essência, o princípio essencial de que são compostas todas as coisas, é o número, ou seja, as relações matemáticas. Os pitagóricos, não distinguindo ainda bem forma, lei e matéria, substância das coisas, consideraram o número como sendo a união de um e outro elemento. Da racional concepção de que tudo é regulado segundo relações numéricas, passa-se à visão fantástica de que o número seja a essência das coisas.
A doutrina e a vida de Pitágoras, desde os tempos da antiguidade, jaz envolta num véu de mistério.
A força mística do grande filósofo e reformador religioso, há 2.600 anos vem, poderosamente, influindo no pensamento Ocidental. Dentre as religiões de mistérios, de caráter iniciático, a doutrina pitagórica foi a que mais se difundiu na antiguidade.
Não consideramos apenas lenda o que se escreveu sobre essa vida maravilhosa, porque há, nessas descrições, sem dúvida, muito de histórico do que é fruto da imaginação e da cooperação ficcional dos que se dedicaram a descrever a vida do famoso filósofo de Samos.
O fato de negar-se, peremptoriamente, a historicidade de Pitágoras (como alguns o fazem), por não se ter às mãos documentação bastante, não impede que seja o pitagorismo uma realidade empolgante na história da filosofia, cuja influência atravessa os séculos até nossos dias.

E) Heráclito X Parmênides
Heráclito procura explicar o mundo pelo desenvolvimento de uma natureza comum a todas as coisas e em eterno movimento. Ele afirma a estrutura contraditória e dinâmica do real. Para ele, tudo está em constante modificação. Daí sua frase "Não nos banhamos duas vezes no mesmo rio", já que nem o rio nem quem nele se banha são os mesmos em dois momentos diferentes da existência. Parmênides, ao contrário, diz que o ser é unidade e imobilidade e que a mutação não passa de aparência. Para Parmênides, o ser é ainda completo, eterno e perfeito.

Heráclito e Parmênides: o surgimento da filosofia entre o ser e o vir-a-ser


- PARMÊNIDES

a) Divergências
Conta-se que Parmênides certa vez disse a respeito de Heráclito: "Fora com os homens que nada sabem e parecem ter duas cabeças! Junto deles está tudo, também seu pensamento, em fluxo. Eles admiram as coisas perenemente, mas precisam ser tão surdos quanto cegos para misturarem assim os contrários!".
De fato, enquanto um se baseava na lenta e dolorosa escalada da lógica pura, e outro muitas vezes parecia estar guiado pela intuição e até por um misticismo confuso, era natural que não apenas discordassem, mas que se desenvolvessem ânimos entre eles. No entanto, esse conflito nos é fundamental, pois teria sido o primeiro choque de idéias que ainda hoje encontra força e significado; afastando-se lentamente da Filosofia da Natureza e do misticismo de Pitágoras, Heráclito e Parmênides começam a desbravar um território que ainda hoje nos assombra - o estudo dos seres e dos não-seres. Ao questionar o que eles são, até que ponto eles são válidos e reais, ponto de divergência entre os dois, o que é, como ocorre e se ocorre o vir-a-ser (isto é, não ser então tornar-se) eles partem para um estudo mais aprofundado da realidade além de onde a ciência ou qualquer outra área do conhecimento com a exceção da filosofia alcançam.

b) O pensamento
Parmênides nasceu em Eleia na Itália, por volta de 530 a. c. Sua filosofia, dita Eleata, contrasta-se com a de Heráclito, dita Jônica, por seu tom cinza, frio e penetrante, mostrando um processo lógico de passos lentos, porém firmes; a filosofia de Parmênides pode ser dividida em duas fases, que servem inclusive para dividir o pensamento pré- socrático; em sua primeira fase, o pensamento de Parmênides é feito a partir de um sistema físico- filosófico; quando ele parte, no entanto, para a teoria do Ser, ele marca a divisão entre um pensamento anaximândrico e o pensamento parmenídico. Nos interessa, logicamente, apenas a segunda parte, onde se concentra o que há de inovador em sua filosofia;
O primeiro passo tomado por Parmênides é tentar ordenar a realidade; para isso, faz uso de duas classes; aquelas que são, e aquelas que não são- ao observar a luz e a escuridão, por exemplo, observou que a escuridão nada mais era que a negação as luz; como uma qualidade negativa; a partir daí partiu para outros pares de opostos, leve e pesado, sutil e denso, passivo e ativo, terra e fogo, frio e quente, etc. Parmênides relacionava uma das características à luz, ou positiva, e a sua oposta, à escuridão, ou negativa; depois que passou a denominá-las, simplesmente, "ser" (positiva) e não-ser (negativa) , e postula também, que "O Ser é, e o Não-Ser não é". Nessa seleção dos opostos, em vários momentos evidencia-se a disposição para um pensamento lógico livre de intuições sem fundamentos, uma característica que, aliás, marca Parmênides.

c) A lógica
Parmênides estava, então, diante de um grande problema; ele precisava explicar como ocorre o movimento, ou o vir-a-ser (ou seja, a mudança; um não-ser que se torna ser, ou um ser que se torna não-ser). Foi então que Parmênides fez uma constatação sem precedente- ao decidir por seguir a lógica, somente a lógica, Parmênides descobriu que não sabia de nada com certeza-livre de certezas intuitivas, não fosse questionável, nada que fosse realmente claro e certo. Assim, Parmênides partiu em uma busca por um pensamento fundamental, algo que fosse evidente em si. Em Parmênides, esse pensamento se manifestou como o Princípio da Identidade - "o que é, é", ou seja, "n" é igual a "n", e somente igual a "n" - se "n" for igual a "a", então nada mais pode ser do que "n" (você não pode ser igual e diferente ao mesmo tempo). Isso parecia ser tão óbvio e tão evidente que parecia ilógico que não fosse verdade.
Aqui entram as complicações de Parmênides- diante do Ser e do Não-Ser, e da Identidade, ele não podia enxergar um caminho para que ocorresse o vir-a-ser O Ser é, e o não-ser não é, pensava Parmênides: como pode-se dizer que "algo era", ou "algo será"? O ser não pode vir do não-ser, pois o não-ser, é o nada e nada pode surgir do nada; e se viesse do Ser, o que seria isso senão a criação de si mesmo? O perecimento - o deixar de ser - também sofre do mesmo problema. Nesse momento, Parmênides marcha para sua conclusão final- não há mudança, e, portanto, não há distinção entre seres e não-seres. O homem que criticara Heráclito por sua cegueira e surdez agora tinha como palavra de ordem a negação do que os "sentidos mentirosos" lhe mostravam - o Ser é Uno, um único grande Ser eterno que jamais se altera e a qual tudo, Seres e Não-Seres, são apenas ilusões de si mesmo.
É possível observar tocantes semelhantes de Parmênides e outros eleatas como Xenófanes com o Hinduísmo, e até mesmo com correntes de pensamentos que florescem em nosso tempo; e, embora várias críticas possam ser feitas a Parmênides, talvez a mais fundamental seja quanto a seu curso da lógica- hoje pensamos que a razão que deve se adequar à realidade, e não o contrário; assim, se a "lógica pura e bruta" diz que tudo é uma ilusão, então a falha deve estar na lógica, e não no mundo. Parmênides desenvolveu também um profundo estudo do infinito, juntamente com seu discípulo Zeno (ou Zenão de Eléia).

- HERÁCLITO

a) O ser e o não-ser
Parmênides cai no repouso universal; já um fragmento dos escritos de Heráclito diz: "Tudo flui e nada permanece; tudo se afasta e nada fica parado... Você não consegue se banhar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras sempre vão fluindo... É na mudança que as coisas acham repouso..."
De fato, enquanto Parmênides duvida do vir-a-ser, Heráclito faz deles um dos seus pontos de partida; dessa maneira, afirma que nada é permanente, que tudo está em constante mutação, incessantemente; nesse ponto enxerga-se um paralelo curioso com o pensamento oriental, embora as civilizações de onde surgiram conceitos tão semelhantes ainda não tivessem entrado em contato com umas com as outras.

b) O pensador exótico
A respeito de sua vida, Heráclito nasceu em Efésios; conhecido por desprezar quase todos, senão todos, os pensadores e poetas da sua época, não teve mestre, dizendo na adolescência que "não sabia nada", e, na idade adulta, que "sabia tudo". Heráclito, em seu comportamento anti-social, resolveu se afastar da cidade e habitar os campos, se alimentando apenas de ervas, o que lhe trouxe hidropisia, que acabou lhe matando. Conta-se que teria retornado a Efésios e perguntado se seria possível curá-lo esvaziando seus intestinos; como diziam que não, dizem que deitou em praça pública e deu o comando que lhe cobrissem de esterco, para que o calor fizesse evaporar a água que tanto lhe atormentava; tendo então morrido por sob uma pilha de esterco, alguns dizem que teria sido sepultado na própria praça pública, enquanto outros dizem que ele teria sido devorado pelos cachorros que ali passavam.

c) O obscuro
Heráclito foi também conhecido por Skoteinós, que quer dizer "O Obscuro"- de fato, seus pensamentos muitas vezes parecem contraditórios e sem sentido, e apesar de seu amor declarado por Lógos (a lógica, a razão) ele não parece disposto a se utilizar tão exclusivamente dela, como Parmênides, mesmo que seus pensamentos a respeito da lógica tenham sido de fundamental importância para grandes pensadores como Aristóteles e Hegel. Heráclito declara que tudo está em mutação, mas apenas o que permanece é - e o que permanece, senão a própria mudança? Assim, ele denomina como Lógos essa lei universal da mudança- o modo com que as coisas mudam- e ainda: "Todos fazemos e dizemos segundo a participação do Lógos. Por isso devemos seguir apenas a este entendimento universal. Muitos, porém, vivem como se tivessem um entendimento próprio; o entendimento, porém, não é outra coisa que a interpretação (o tomar consciência, a exposição, a convicção) dos modos da ordenação do todo. Por isso, na medida em que tomamos no saber dele, estamos na verdade; mas, na medida em que temos coisas particulares (próprias), estamos na ilusão".

d) Os dois polos
Heráclito também parte da divisão do universo entre dois pólos, "Seres" e "Não-Seres", e, também, enxerga a unidade entre eles. No entanto, enquanto a unidade de Parmênides é idêntica e imutável, a de Heráclito é "tensionada entre dois pólos"; assim, mesmo que o Ser e o Não-Ser sejam parte e coabitem o mesmo, e, como diz em suas obscuras palavras, "O ser é tão pouco como o não- ser; o devir é e também não é", mesmo apesar de tudo isso, não quer dizer que você possa descartá-los como simples ilusão. Dessa maneira, enquanto os eleatas mergulham fundo em busca da essência verdadeira, daquilo que factualmente existe, Heráclito faz uso de uma representação, o que, não se pode negar, é um avanço considerável.

e) A luta dos contrários
A partir dessa nova visão dos pares de opostos Heráclito cria idéias interessantes a partir de pares como "o todo e a parte", "o que se une e o que se opõe"; dessa idéia de que os polos sejam simples abstrações e habitem o mesmo, conclui que, em suas próprias palavras, "O Um, diferenciado de si mesmo, une-se consigo mesmo, como a harmonia do arco e da lira". Essa harmonia seria Lógos, a razão, que une os opostos em sons consoantes; como a composição grega é horizontal e não vertical, por harmonia entende-se a maneira como sons tocados em sequência equilibram-se entre si; daí a metáfora torna-se perfeita, como mudança.
Heráclito também teve uma participação marcante juntamente dos jônicos, voltando-se novamente aos modelos físico- filosóficos; e nesse ponto a partir de diferentes fontes encontra-se diferentes visões a respeito de qual seria a essência ontológica; essas aparentes contradições parecem ruir, pelo outro lado, quando se lembra que nada era permanente para Heráclito (senão Lógos, a mudança em si) , e que ele parece estar mais preocupado com determinar o ciclo de mudanças e a maneira como esta ocorre - e daí a indicação do tempo como uma das essências ontológicas. Mesmo assim, ele acende e se apaga.

f) Antagonismos
De um lado, um mundo em repouso, onde tudo que se movimenta é ilusão, nascida da lógica; pelo outro lado, um mundo onde tudo é movimentado, onde as coisas nascem mas, nas palavras de Buda, "Você deveria saber que todas as coisas nesse mundo são efêmeras- unir-se significa inevitavelmente separar-se. Não se entristeça, pois tal é a natureza da vida", uma visão gerada pela razão, mas também por um recém-nascido método especulativo, baseado em como Lógos alcança a mente humana, e, no fundo, muitos traços se intuição e misticismo, condenáveis não ao pensador, mas ao ser humano por trás dele. E assim nascia a Filosofia.

F) Zenão de Eleia

a) O defensor de Parmênides
Zenão floresceu cerca de 464/461 a.C. Nasceu em Eleia (Itália). Ao contrário de Heráclito, interveio na política, dando leis à sua pátria. Tendo conspirado contra a tirania e o tirano (Nearco?), acabou preso, torturado e, por não revelar o nome dos comparsas, perdeu a vida.
Escreveu várias obras em prosa: Discussões, Contra os Físicos, Sobre a Natureza, Explicação Crítica de Empédocles. - Considerado criador da dialética (entendida como argumentação combativa ou erística), Zenão erigiu-se em defensor de seu mestre, Parmênides, contra as críticas dos adversários, principalmente os pitagóricos. Defendeu o ser uno, contínuo e indivisível de Parmênides contra o ser múltiplo, descontínuo e divisível dos pitagóricos.
A característica de Zenão é a dialética. Ele é o mestre da Escola Eleática; nela seu puro pensamento torna-se o movimento do conceito em si mesmo, a alma pura da ciência - é o iniciador da dialética.

G) Leucipo e Demócrito de Abdera

a) Separação (morte), união (vida)
Para Demócrito é impossível o não ser. O ser é pleno, o não ser é o vazio. As coisas nascem quando se juntam e a morte é a separação das coisas. O que origina as coisas reais é um infinito número de corpos que são invisíveis porque tem um volume muito pequeno. Esses corpos são os átomos que em grego significa não divisível. Eles não são divisíveis porque se fossem divisíveis ao infinito eles iriam se dissolver no vazio.

b) Os átomos e o alfabeto
Os átomos são naturalmente indestrutíveis, não criados e imutáveis. Os átomos não se diferenciam quanto à qualidade, todos eles são igualmente um ser completo, o que os diferencia é a forma ou a figura geométrica que eles assumem. São diversos entre si como as letras do alfabeto, mas podem formar diversas palavras e discursos através das suas combinações. O átomo tem uma forma originária e única. A forma do átomo também é indivisível. O que diferencia um átomo dos outros é a sua figura, a sua posição e a sua organização. Esses três elementos que distinguem um átomo do outro podem assumir variações infinitas. Os nossos sentidos não conseguem perceber o átomo, mas a nossa inteligência consegue conhecê-los. Eles são eternamente contínuos o por isso diferente dos outros corpos que são a junção de diferentes e diversos átomos. A qualidade de todos os corpos depende da forma e da ordem dos átomos que os compõem.

c) As sensações são ilusórias
Os átomos possuem qualidades próprias como movimento, número, dureza e forma, mas cor, sabor, odor, calor e frio são aparências que provocam sensações em nossos sentidos, mas não pertencem aos átomos. Os átomos provocam essas qualidades objetivas devido à suas combinações.

d) Mundos infinitos
Os átomos são espontaneamente animados, eles se chocam ou se ricocheteiam entre si, gerando o nascimento a morte ou a mudança das coisas. As leis que regem o movimento dos átomos são imutáveis. O movimento dos átomos é giratório e eles ao girar chocam-se em todas as direções produzindo um vértice, nesse movimento as partes mais pesadas vão para o centro e as mais leves vão para a periferia. No movimento vertical os átomos mais pesados descem empurrando os átomos mais leves para cima. Através desse movimento são gerados infinitos mundos que se criam e se dissolvem também infinitamente.

e) O aparente não é o real
O conhecimento também é explicado através desse movimento. A imagem que emana do átomo produz nas pessoas uma sensação, essas sensações são percebidas através do tato que é gerado pelo contato dos átomos com o corpo das pessoas. Mas mesmo com essas possibilidades para Demócrito nosso conhecimento ainda é limitado. Além de limitado o conhecimento modifica de pessoa para pessoa e vai depender também das circunstâncias. Esse conhecimento não nos dá um critério incontestável para definirmos a verdade e a falsidade. Podemos chegar a um conhecimento mais aprofundado dessa realidade utilizando o conhecimento racional que é uma ferramenta mais sensível que possuímos. Através do conhecimento racional pode ser distinguida a aparência da realidade.

f) A Ética
A concepção de ética em Demócrito não tem relação com as suas concepções físicas. Para ele o mais nobre bem que o homem pode alcançar é a felicidade. Essa felicidade não está no possuir as coisas, na riqueza. A felicidade mora somente na alma. A justiça e a razão é que nos tornam felizes. Somente através da razão vamos conseguir superar o medo da morte. Os excessos perturbam a alma do homem pois geram nele movimentos muito fortes. Os excessos geram movimentos de um extremo ao outro criando a inconstância e o descontentamento no homem. A alegria espiritual não está ligada ao prazer que não é em si mesmo um bem. O que é realmente necessário vai vir do belo. Devemos respeitar a nós mesmos antes de qualquer coisa.

g) Casamento: mais é menos
Demócrito condenava o matrimônio porque este se fundamenta nas relações sexuais e as relações sexuais reduzem o domínio que o homem tem de si mesmo. Condenava o casamento também porque a educação dos filhos diminui a dedicação ao trabalho.

Sentenças:
- Fama e riqueza sem inteligência não são posses seguras.
- Para mim um homem vale tanto quanto uma multidão e uma multidão tanto quanto um homem.
- O ignorante pensa sempre que não tem o que ele não conheça.
- Tudo que existe no universo é fruto do acaso e da necessidade.
- Não por medo, mas por obrigação, temos que nos distanciar dos erros.
- Em matéria de virtude é necessário esforçar-se por fatos e atitudes e não por palavras.
- É arrogância querer falar de tudo e não querer ouvir nada.
- A música é a mais jovem das artes, porque não é feita por necessidade, mas surge do supérfluo.
- Os homens em sua fuga da morte a vai perseguindo.
- Uma vida sem festas é um longo caminho sem repouso.
- Nada existe além de átomos e do vazio.
- O animal é tão ou mais sábio do que o homem: conhece a medida da sua necessidade enquanto o homem a ignora

Sistematizado de:
http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=13
Em 08/03/2015. Cacau ":¬)


CURSO DE FILOSOFIA I (DO PENSAMENTO MÍTICO AO FILOSÓFICO)

Vídeo Aula:



I - INTRODUÇÃO/RESUMO

Pretendemos neste capítulo discorrer sobre a passagem do mito à filosofia e a participação que a astronomia/cosmologia tem nesse processo, tendo em vista que os primeiros filósofos eram voltados à natureza ou a physis como veremos.
Para isto começamos esclarecendo o que vem a ser o chamado mythos. Ilustramos isso com alguns exemplos de mitos da criação do mundo. Lembramos que alguns permanecem nos dias de hoje. Damos alguns exemplos de corpos celestes que tiveram seus nomes oriundos nos diversos mitos da antiguidade. Distinguimos cosmogonia de cosmologia e mito de filosofia. Mostramos como surge a filosofia, em que condições históricas, quais são os fatores determinantes para a sua origem, e quais são as características desse pensamento filosófico. Comentamos sobre o legado que os chamados pré-socráticos deixam para a cosmologia e a astronomia não só para a modernidade como para os nossos dias na contemporaneidade.

II - MITO E COSMOGONIA

A) O MITO
Mito segundo o Dicionário básico de filosofia de Japiassú e Marcondes é uma: “Narrativa lendária, pertencente à tradição cultural de um povo, que explica através do apelo ao sobrenatural, ao divino e ao misterioso, a origem do universo, o funcionamento da natureza e a origem e os valores básicos do próprio povo. Ex.: o mito de Ísis e Osíris, o mito de prometeu etc. O surgimento do pensamento filosófico-científico na Grécia antiga (séc. VI  a.C.) é visto como uma ruptura com o pensamento mítico, já que a realidade passa a ser explicada a partir da consideração da natureza pela própria, a qual pode ser conhecida racionalmente pelo homem, podendo essa explicação ser objeto de crítica e reformulação; daí a oposição tradicional entre mito e logos”. (2006, p.189).

Vamos, portanto, percorrer neste capítulo, a passagem desse mito à filosofia  e o quanto for possível e pertinente mencionar uma configuração do surgimento da ciência e da astronomia científica ou cosmologia que se difere da cosmogonia, como veremos neste processo.

B) A COSMOGONIA
Cosmogonia segundo Japiassú: (gr. Kosmogonia: criação do mundo) Teoria sobre a origem do universo, geralmente fundada em lendas ou mitos e ligada a uma metafísica. Em sua origem, designa toda explicação da formação do universo e dos objetos celestes. Atualmente, designa as explicações de caráter mítico. (2006, p.59)

Assim assumiremos neste texto este posicionamento, esta distinção entre cosmologia e cosmogonia considerando, portanto, esta última como “mítica”, ou melhor, não pautada em “leis físicas”.
Na Antiguidade podíamos dizer que o “conhecimento” estava com todo o povo, pois o mito “pairava no ar”, fazia parte do povo e o mito era o “conhecimento”. Ele era passado de geração em geração de forma oral. Dessa maneira não se exigia muito, “bastava ouvir”, para captar o mito. O mito era componente desse povo.
Mas o que vem a ser esse mito? O termo grego mythos ‘’significa um tipo bastante especial de discurso, o discurso fictício ou imaginário, sendo por vezes até mesmo sinônimo de ‘mentira’. ’’ Como diz Marcondes (2005, p.20).  
Esse discurso difere-se do discurso do logos, como veremos mais à frente.

III - OS POETAS HOMERO E HESÍODO
Poetas como Homero, com a Ilíada e a Odisséia (séc. IX  a.C.), e Hesíodo (séc. VIII a.C.), com a Teogonia, foram indivíduos como diz Marcondes, “que registraram poeticamente lendas recolhidas das tradições dos diversos povos que sucessivamente ocuparam a Grécia desde o período arcaico (c. 1500 a.C.)”. (2005, p.20).
Provavelmente quando o homem começa a utilizar-se do mito a fim de buscar respostas para as diversas perguntas que certamente os questionavam, já estava procurando uma explicação para o que ocorria na natureza. Assim a primeira forma de compreender o espanto, o thauma gerado pelos fenômenos da natureza, pelos sentimentos humanos, e ainda aplacar a angustia, foi e muitas vezes ainda é o mito.

IV - O MITO COMO EMBRIÃO DO SABER
Então o mito foi um início de “caça” por algumas respostas (para usarmos um termo pertinente à época). O que de certa maneira gostaríamos de chamar de: o embrião da ciência. Mas evidentemente que não tem nada a ver com a ciência como vamos conhecê-la posteriormente, pois se difere desta em vários aspectos. Um deles é o investigativo, e como as explicações são dadas, ou seja, o discurso que os constituem.

V - O MITO COMO DOGMA

No mito o discurso pressupõe a adesão e a aceitação dos indivíduos que não o questionam, e assim ele pode ser dado sem fundamentação, e não se presta à crítica nem à correção.  Ao contrário, para os pensamentos filosófico-científicos, precisamos de uma lógica, uma coerência, é facultada à observação empírica, pode se criticar e corrigir eventuais desacertos. Mas o fato de não ser questionado, e de não ter uma lógica não impediu que fossem passados de geração em geração milhares de mitos, tal foi e tal é a força do mito.

VI - HERANÇAS MÍTICAS

Os mitos de criação, por exemplo, são inúmeros. Vários povos do passado tinham os seus particulares, muitos eram conflitantes, outros com algumas afinidades entre si. Conforme exemplifica Vieira: Para os Sumérios o universo fora criado pela união de Anu (deus do Céu) e Ki (Terra) e dessa união surgiram o Sol, a Lua, os planetas e todas as formas de vida. Encontramos a mesma mitologia na Grécia (união de Urano, deus do Céu, e Gaia, a Terra), no Egito (união de Nut, deusa do Céu, com Keb, Terra). O Centauro, Órion e  Hércules imaginados pelos gregos foram importados dos sumérios que os conheciam como Enkiru, Gilgamesh e Marduk, respectivamente. (2002, p.15).

VII - A “RAZÃO” NO MITO

É Interessante observar que grande parte dos mitos de criação tinha certa conexão cronológica, uma sequencia bem definida, uma causalidade embora mítica. Seria natural que esses povos, sem muitos “ferramentais” intelectuais disponíveis, buscassem na imaginação o seu “apoio”. É curioso observar que alguns destes relatos têm até fundamentação cronológica e científica apurada posteriormente. Não vamos aqui, tomar partido nem dar opiniões a este respeito, pois muitas destas questões estão no magistério da fé.

VIII - A MITOLOGIA JUDAICO-CRISTÃ

De todos os relatos da criação, a mais conhecida no ocidente é sem dúvida a do Gênesis da Bíblia Judaico-Cristã como comenta Cherman:
O mecanismo criador é o próprio Deus onipotente, que está além do Universo e o contém. “No princípio era o Nada e Deus disse ‘faça-se a luz!’ e fez-se a luz.” Esta idéia tem sua primeira semente no zoroastrismo (talvez a primeira religião a adorar um deus único) e sua figura de Aúra-Mazda, o sábio senhor. (2000, p.20).

Poderíamos citar diretamente da Bíblia de Jerusalém no Gênesis, capítulo 1º, o início deste relato da criação:
1 No princípio, Deus criou o céu e a terra. 2 Ora, a terra estava vazia e vaga,  as trevas cobriam o abismo, e um vento de Deus pairava sobre as águas.
3 Deus disse: “Haja luz” e houve luz. 4 Deus viu que a luz era boa, e Deus separou a luz e as trevas. 5 Deus chamou à luz “dia” e às trevas “noite”. Houve uma tarde e uma manha: primeiro dia. (1985, p.31).

IX - O MITO ONTEM E HOJE

A) IDENTIFICAÇÃO
Como vimos, antigas tradições míticas de nossos ancestrais nos foram transmitidas, e muitas ainda fazem parte de nossa cultura. Outras tradições deram nomes a “corpos celestes” incluindo-se: estrelas, constelações, planetas, nebulosas, galáxias, faixa luminosa no céu, etc. Essas situações, cenas que representavam suas lendas, deuses e heróis, batalhas, entre outras, ajudaram nossos antepassados a memorizar suas estórias e histórias; os ajudaram a se locomover sem se perder guiados pelas estrelas e constelações; os apoiaram na identificação da estação do ano em que se encontravam e sabiam quando viria à próxima e qual seria; sabiam quando era a época das enchentes dos rios; quando era época de plantar e de colher, etc.

B) A VIA-LÁCTEA
Alguns nomes dados a esses “corpos celestes” merecem aqui referência a título de ilustração, como exemplo, a Via-Láctea - via-lactea,  (não confundir com a nossa galáxia local, também chamada de Via-Láctea).  Como diz Vieira é: Uma larga faixa luminosa que se vê a olho nu nas noites de céu estrelado. Segundo a mitologia grega, originou-se do leite jorrado dos seios de Juno, quando esta amamentou Hércules. Também para a mitologia grega era através da Via-láctea que se chegava ao Olimpo, ficando à direita e à esquerda as habitações dos deuses mais poderosos. É também por onde os heróis entram nos céus. (2002, p.29).

C) A CONSTELAÇÃO DE ÓRION
Outro exemplo interessante de nomes dados a esses “corpos celestes”, seria uma constelação, que de alguma forma faz referência ao nosso trabalho pois cita o amor pela astronomia. Como estamos falando da passagem do mito à filosofia enfocando o caso da astronomia, não poderíamos deixar de falar de Órion.  Segundo Vieira: Órion – Orion. É uma constelação muito antiga. Na Suméria representava o herói Gilgamesh. Na mitologia grega tomou o nome do filho de Hirieu. Tornou-se célebre por seu amor à Astronomia e pelo seu gosto à caça. Diana, a quem ele ousara desafiar, enviou à Terra um escorpião, cuja picada matou Órion. Escorpião e Órion foram, então, transformados em constelações. (2002, p.28).

D) O NOSSO SISTEMA SOLAR
Outros mitos fazem alusão ao Sol, à Terra, à Lua e aos diversos planetas conhecidos de então, os chamados “corpos errantes” ou planetas pois não seguiam os mesmos caminhos das estrelas: eram “errantes”. Aqueles planetas que podiam ser vistos a “olho nu” – sem a necessidade de telescópios –  também poderiam ser citados aqui; mas nosso principal objetivo é demonstrar a passagem do mito à filosofia e, portanto, só mencionamos aqueles exemplos anteriores,  para ilustrar um pouco a importância,  relevância e a conexão com a natureza que esses povos tinham já há muitíssimo tempo.

X - COSMOLOGIA: O INÍCIO DO MÉTODO

Cherman comenta no seu livro Cosmo-o-quê? Uma Introdução a Cosmologia, no capítulo intitulado – Cosmogonia – que há uma diferença substancial entre a Cosmologia e a Cosmogonia e que “qualquer tentativa de explicar o Universo sem a utilização das leis físicas que o regem será, aqui, denominada de teoria cosmogônica.” (2000, p.14).

XI - COSMOGONIA E COSMOLOGIA: DIFERENTES FORMAS PARA O MESMO PROBLEMA

Assim entendemos que para as diversas perguntas da humanidade sempre se tentaram respostas por diversos caminhos antes dos científicos.

Os gregos, diz Cherman, foram os que mais contribuíram para as teorias cosmogônicas: Nenhuma cultura contribuiu mais para as teorias cosmogônicas do que a da península do Peloponeso. Os gregos, ainda que afeitos às suas divindades, inauguraram um novo jeito de pensar o Universo. É verdade que ainda cantavam os feitos de Zeus (que seria Júpiter para os romanos), filho de Cronos, o titã que representava o tempo, neto de Uranus, a própria abóbada celeste, mas já ensaiavam um pensamento crítico que lhes permitia examinar a natureza com olhos de cientistas. (2000, p.21).

Sistematizado de:http://www.benitopepe.com.br/2012/02/20/do-mito-a-filosofia-o-caso-da-cosmologia/ Em 08/03/2015.

DIA INTERNACIONAL DA MULHER: DIA DE TODOS NÓS

Por: Claudio Fernando Ramos, 08/03/2015. Cacau “:¬)
A mulher moderna na sua plenitude. Cacau ":¬)
O feminismo apoia-se, como forma de justificação de sua existência, no machismo; enquanto este, o machismo, também carente de justificação e origem, apoia-se na herança cultural.
Essas justificativas mais parecem árvore genealógica.
O movimento feminista é “filho” do machismo, este, por sua vez, é “filho” da herança cultural; assim sendo, não fica muito difícil descobrir quem é a “bisavó” do feminismo: a sempre presente, mas incompetente ignorância.
Diferença, seja ela qual for, não é nem nunca foi, ao menos na essência, sinônimo de desigualdade!
Diferença não significa desigualdade! Cacau ":¬)
Homens e mulheres devem poder as mesmas coisas, no plano social; mas, tão importante quanto poder algo mais, esses mesmos homens e mulheres devem querer escolher ou não esse algo mais!
As restrições machistas são, definitivamente, tão tolas quanto às imposições feministas!
Segundo Aristóteles, a virtude reside no justo meio; daí a conhecida concepção de que todo extremo é perigoso.
Hoje (dia internacional da mulher) temos, nós homens, assumidos machistas ou não, mais uma oportunidade de ajudar a sociedade a superar, pela força do bom senso (antítese da ignorância), essas famigeradas restrições culturais que recaem indignamente sobre as mulheres.
Associado e isso, elas, nossas mães, irmãs, companheiras e amigas, devem e podem nos ajudar a deixar para trás essa herança cultural tão marcada pela ignorância.
Ganha a sociedade quando a ignorância perde!Cacau ":¬)
Juntos, sem machismos ou feminismos, descobriremos que fica bem mais fácil entender que nas diferenças entre os gêneros o ataque, ao diferente, sempre foi a pior defesa; posto que a diferença sempre distingue, mas nunca inferioriza. Cacau “:¬)