Por: Claudio Fernando Ramos
Terminada uma tarefa extenuante, subo ao quarto, que acaba de ser limpo. Munido de uma cerveja não muito gelada, já são cinco horas da tarde e o dia foi chuvoso, sinto um irresistível desejo de escrever, oscilo entre esse desejo e um outro, escrever é melhor, concluo. Mas tenho um problema, não sei sobre o quê devo discorrer. Minha namorada, que desde cedo empenha-se na limpeza dessa velha e enorme casa, acaba de dar um grito, ao verificar sobre o que se trata, constato, como sempre, que tudo não passa de falso alarme, uma lagartixa afasta-se indiferente ao seu temor psicológico (um pouco mais cedo uma aranha não teve essa mesma prerrogativa, ou seja, a de ironizar e sair andando, diante de tanto “terror” explicitado, tive que desempenhar o meu papel de super, matei a coitadinha).
O quarto estremece de um jeito ritmado, o som que sai do aparelho, posto na sala, tem uma potência invejável. A voz melódica de um negro, esse tipo de voz só pode ser de um homem de cor, envolve e preenche todo o recinto, promovendo um espectro de nostalgia. Esse fato acaba por acirrar minha cede, sorvo um pouco mais de minha cerveja que, quase esquecida em um canto, esquentar rapidamente. Não faz muito tempo Sara esteve aqui, na companhia de outros amigos, depois de alguns anos, não sei ao certo quantos, foi bom tê-la visto novamente, como sempre, um ser humano determinado. Lembro-me dela no auge de uma adolescência singular. Hoje, adulta, casada e vivendo na Itália, sinto a força inapelável do tempo, ela continua bela, talvez um pouco mais, mas nós não somos mais os mesmos, se bem que não possa precisar em quê, especificamente, estamos diferentes.
Magra está no banho, já faz um tempo, é certo que está dando a atenção devida ao cabelo, todas fazem isso, talvez seja por isso que os cabelos tenham um duplo caráter: angústia e prazer de toda e qualquer mulher.
Nessa imensa América Católica, hoje diz-se semana santa, penso que mais santa ontem do que hoje. Meu país, a exemplo de outras economias modernas e “fortes”, passa por um processo acelerado de transformação, agora somos assumidamente consumistas. O sagrado tem valor, depende do quanto se cobra e de quantos querem pagar. Deus santificou o sábado (metáfora de descanso); os cristãos antigos, o domingo (lembrança de uma nova vida); a igreja, a semana (prefiro não saber o porquê).
Ainda agonizo na expectativa de encontrar um tema... Sobre o que escrever? Vida, morte, amor, ódio, ser, não ser, ter, não ter... Quer saber? Eu já terminei. Tudo o que eu precisava era escrever, e passado algumas dúzias de minutos, concluo que mesmo sem ao menos possuir um tema específico, foi isso o que fiz. Espere aí, estou terminando por que de uma forma ou de outra escrevi, por que não consigo encontrar um tema específico ou por que minha cerveja acabou? Vai saber! Cacau 21/04/2011