Disponível em: http://umfilosofonaweb.blogspot.com.br/2012/11/enem-2012-filosofia-comentada-e.html
Questões de Filosofia do ENEM 2012,
Resposta e Comentário.
Questão 1: É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer; mas a
liberdade politica não consiste nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o
que é independência e o que é liberdade. A liberdade é o direito de
fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que
elas proíbem não teria mais liberdade, porque os outros também
teriam tal poder.
MONTESQUIEU. Do Espirito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultura, 1997 (adaptado).
A) ao status de cidadania que o
individuo adquire ao tomar as decisões por si mesmo.
B)
ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à conformidades às leis.
C) à possibilidade de o cidadão
participar no poder e, nesse caso, livre da submissão às leis.
D) ao livre-arbítrio do cidadão em
relação àquilo que é proibido, desde que ciente das consequências.
E) ao direito do cidadão exercer sua
vontade de acordo com seus valores pessoais.
Comentário: Montesquieu
(1689-1755) foi um político, filósofo e escritor francês. Reconhecido pela sua
Teoria da Separação dos Poderes, atualmente consagrada em muitas das modernas
constituições internacionais, sobre tudo na Europa. Essa questão faz uma
ligeira referencia as ideias do Iluminismo. É acerca da forma de como os cidadãos
são condicionados conforme as leis do Estado pelo ideal de liberdade. Saiba
mais: O Espírito das Leis.
Questão
2:
Na França, o rei Luís XVI teve sua
imagem fabricada por um conjunto de estratégicas que visavam sedimentar uma
determinada noção de soberania. Neste sentido, a charge apresentada demostra:
A) a humanidade do rei, pois retrata um
homem comum, sem os adornos próprios à vestimenta real.
B) a unidade entre o publico e o
privado, pois a figura do rei coma vestimenta real representa o publico e sem a
vestimenta, o privado.
C) o vinculo entre monarquia e povo,
pois leva ao conhecimento do publico a figura de um rei despretensioso e
distante do poder politico.
D) o gosto estético refinado do rei,
pois evidencia a elegância dos trajes reais em relação aos de outros membros da
corte.
E) a
importância da vestimenta para a constituição simbólica do rei, pois o corpo
politico adornado esconde os defeitos do corpo pessoal.
Comentário: Não só é a resposta mais completa em relação aos elementos da charge
como a vaga referencia ao Absolutismo na França do séc.XVIII lembra que os
monarcas buscavam passar uma imagem de si mesmo não apenas de poder e riqueza,
mas também de divindade utilizando de artifícios simbólicos.
Saiba mais: Luís XVI da França
(1774-1791).
Questão 3: Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio
é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seus entendimentos sem
a direção de outro individuo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade
e se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de
decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem, Tem coragem
de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A
preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos
homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha,
continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida.
KANT, I. Resposta à pergunta: O que
é esclarecimento? Petrópolis: Vozes,1984 (adaptado).
Kant destaca no texto o conceito de
Esclarecimento, fundamental para a compreensão do contexto filosófico da
Modernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant, representa:
A) a
reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade.
B) o exercício da racionalidade como
pressuposto menor diante das verdades eternas.
C) a imposição de verdades matemáticas,
com caráter objetivo, de forma heterônoma.
D) a compreensão de verdade religiosas
que libertam o homem da sua falta de entendimento.
E) a emancipação da subjetividade
humana de ideologias produzidas pela própria razão.
Comentário: o conceito de Esclarecimento (em alemão Aufklärung) criado por Immanuel
Kant (1724-1804) filósofo prussiano, geralmente considerado como o último
grande filósofo dos princípios da Era Moderna; é um sinônimo do período
Iluminista em sintonia com a Modernidade, que tinha como característica a super
valorização da Razão e das Ciências.
Questão 4: Na regulação de matérias culturalmente delicadas, como, por exemplo, a
linguagem oficial, currículos da educação pública, o status das Igrejas e das
comunidades religiosas, as normas do direito penal (por exemplo, quanto ao
aborto), mas também em assuntos menos chamativos, como, por exemplo, a posição
da família e dos consórcios semelhantes ao matrimonio, a aceitação de normas de
segurança ou a delimitação das esferas pública e privada - em tudo isso
reflete-se amiúdes apenas o autoentendimento ético-politico de uma cultura
majoritária, dominante por motivos históricos Por causa de tais regras de
uma comunidade republicana que garanta formalmente a igualdade de direitos para
todos, pode eclodir um conflito movido pelas minorias desprezadas contra a
cultura da maioria.
HABERMAS, J. A Inclusão do Outro:
estudos de teoria politica. São Paulo. 2002.
A reivindicação dos direitos culturais
das minorias, como exposto por Habermas, encontra amparo nas democracias
contemporâneas, na medida em que se alcança:
A) a secessão, pela qual a minoria
discriminada obter a igualdade de direitos na condição de suas
concentração espacial, num tipo de independência nacional.
B) a reunificação da sociedade que se
encontra fragmentada em grupos de diferentes comunidades étnicas confissões
religiosas e formas de vida, em torno da coesão de uma cultura politica
nacional.
C) a
coexistência das diferenças, considerando a possibilidade de o discurso de
autoentendimento se submeterem ao debate público, cientes de que estarão
vinculados à coerção do melhor argumento.
D) a autonomia dos indivíduos que, ao
chegarem a vida adulta, tenham condições de se libertar das tradições de suas
origens em nome da harmonia da politica nacional.
E) o desaparecimento de quaisquer
limitações, tais como linguagem politica ou distintas convenções de
comportamento, para compor a arena politica a ser compartilhada.
Comentário: Essa talvez seja a questão mais contextualizadas e avançada no que
diz respeito a Filosofia no ENEM desse ano. O multiculturalismo e o valor do
discurso no pensamento de Jürgen Habermas (1929) filósofo e sociólogo alemão
membro da Escola de Frankfurt, que até o presente momento continua muito
profícuo, publicando novos trabalhos a cada ano. Frequentemente participa de
debates e atua em jornais, como cronista político; estão muito bem apresentados
nessa questão.
Questão 5:
Texto I
Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o
elemento originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras
coisas provem de suas descendências. Quando o ar se dilata, transforma-se
em fogo, ao passo que os eventos são ar condensados. As nuvens formam-se a
partir do ar pro filtragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água. A
água, quando mais condensada transforma-se em terra, e quando condensada ao
máximo, transforma-se em pedras.
BAURNET, J. A aurora da filosofia
grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).
Texto II
Brasílio Magno, filósofo medieval,
escreveu: "Deus, como criador de todas as coisas, esta no principio do mundo
e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta
concepção, as especulações contraditórias dos filósofos para os quais o mundo
se origina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os Jônios, ou dos
átomos como julga Demócrito. Na verdade, dão a impressão de quererem
ancorar o mundo numa teia de aranha."
GILSON, E.; BOEHNER, P. Historia da Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).
Filósofos dos diversos tempos
históricos desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a partir de
uma explicação racional. As teses de Anaxímenes filósofo grego antigo, e
de Brasílio, filosofo medieval, tem em comum na sua fundamentação teorias
que:
A) eram baseadas nas ciências da
natureza.
B) refutavam as teorias de filósofos da
religião.
C) tinham origem nos mitos das
civilizações antigas.
D) postulavam
um principio originário para o mundo.
E) defendiam que Deus é o principio de
todas as coisas.
Comentário: Essa por sua vez me pareceu a mais fácil dentre as questões de
Filosofia. A busca pelo arché foi uma das primeiras investigações
trabalhadas pelo homem, até hoje ela continua.
Questão 6:
Texto I
Experimentei algumas vezes que os
sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já
nos enganou uma vez.
DESCARTES, R. Meditações Metafisicas. São Paulo: Abril Cultura, 1979.
Texto II
Sempre que alimentarmos alguma suspeita
de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado, precisamos
apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível
atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa
suspeita.
HUME, D. Uma investigação
sobre o entendimento. São Paulo, Unesp, 2004 (adaptado).
Nos textos, ambos os autores se
posicionaram sobre a natureza do conhecimento humano. A comparação dos excertos
permite assumir que Descartes e Hume.
A) defendem os sentidos como critério
originário para considerar um conhecimento legitimo.
B) entendem que é desnecessário
suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e
critica.
C) são legitimas representantes do
criticismo quanto à gênese do conhecimento.
D) concordam que conhecimento humano é
impossível em relação as ideias e aos sentidos.
E) atribuem
diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do
conhecimento.
Comentário: Uma bem elaborada questão na área de epistemologia, com nível de
dificuldade adequado e bem distinta sobre as posturas filosóficas de Descartes
(racionalista) e Hume (ceticista).
Questão 7:
Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que o que acontece no
mundo é decidido por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito aceita em nossos
dias, devido às grandes transformações ocorridas, e que ocorrem diariamente, as
quais não escapam inteiramente o nosso livre-arbítrio, creio que se pode
aceitar que a sorte decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos
permite o controle sobre a outra metade.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe, Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado).
Em O Príncipe, Maquiavel refletiu
sobre o exercício do poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demonstra o
vinculo entre o seu pensamento politico e humanismo renascentista ao:
A) valorizar a interferência divina nos
acontecimentos definidos do seu tempo.
B) rejeitar a intervenção do acaso nos
processos políticos.
C) afirmar a
confiança na razão autonomia como fundamento da ação humana.
D) romper com a tradição que valoriza o
passado como fonte de aprendizagem.
E) redefinir a ação politica com base
na unidade entre fé e razão.
Comentário: Essa questão mostra claramente o desprendimento de Maquiavel com
conceitos medievais de seu tempo. Ao contrario do que todos pensam, Maquiavel
não era maquiavélico, o que ele fez o analisar filosoficamente o cotidiano
politico de sua época.
Questão 8: Para Platão, o que havia de verdade em Parmênides era que o objeto de
conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer
uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou material que
privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas
irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formavam-se em sua mente.
ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo:
Odysseus, 2012 (adaptado).
O texto faz referencia à relação entre
razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427
a.C.-346 a.C). De acordo com o texto como Platão se situação de ante dessa
relação?
A) Estabelecendo um abismo
intransponível entre as duas.
B) Privilegiando os sentidos e
subordinado o conhecimento a eles.
C) Atendo-se à posição de Parmênides de
que razão e sensação são inseparáveis.
D) Afirmando
que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não.
E) Rejeitando a posição de Parmênides
de que a sensação é superior à razão.
Comentário: Essa questão assim como a de Descartes e Hume é uma
questão clássica da filosofia, o embate entre sentidos e razão. Muito
bem elaborada a questão, sem dificuldade extra para o candidato.
Gabarito: 1 B, 2 E, 3 A, 4 C, 5 D, 6 E, 7 C, 8 D.