quarta-feira, 5 de agosto de 2015

ARISTÓTELES::A FELICIDADE COMO SABEDORIA PRÁTICA



“É feliz aquele que escolhe o que é mais adequado para si”.

VIDA E OBRA

- Aristóteles (384-322 a.C) nasceu em Estagira (Macedônia).

- Seu pai era médico do rei Felipe da Macedônia.

- É considerado juntamente com Sócrates e Platão um dos mais influentes filósofos gregos do mundo ocidental. 

- Foi aluno de Platão e educou Alexandre, o Grande.

- Criou o pensamento lógico e a biologia como ciência.  

- “Em suas obras sobre a natureza, Aristóteles tentou descobrir uma hierarquia de classes e espécies (…).

- Estava convencido de que a natureza tinha uma finalidade e que cada traço específico de um animal existia para cumprir uma determinada função”.

(Strathern, 1997, p.24)

- Foi o primeiro filósofo a valorizar a observação e a experiência em seus estudos e por isso pode ser considerado o pai do  método científico.

- Aos 17 anos foi para Atenas, o maior centro filosófico e artístico de toda antiguidade, matriculou-se na escola de Platão e lá permaneceu por vinte anos, até 347 a.C.

- Após a morte de seu mestre fundou sua própria escola, o Liceu.

- Ao contrário da Academia, que valorizava o pensamento teórico, o Liceu privilegiava as ciências naturais.

- Dirigiu o liceu até 324 a.C. Com a morte de Alexandre surgiram sentimentos xenófobos antimacedônios em Atenas, sentindo-se ameaçado Aristóteles fugiu afirmando não permitir que a cidade cometesse um segundo crime contra a filosofia, assim como cometerá com Sócrates.

- Apesar de sua escola ter privilegiados as ciências naturais Aristóteles também pensou os problemas políticos e sociais de sua época, assim como se debruçou sobre os problemas éticos e morais. 

- Em seu livro “Ética e Nicomaco” Aristóteles pensou profundamente sobre a felicidade humana.

A FELICIDADE

- Para Aristóteles a felicidade não está ligada aos prazeres ou as riquezas, mas a atividade prática da razão.

- Segundo ele a capacidade de pensar é o que há de melhor no ser humano, uma vez que a razão é nosso melhor guia e dirigente natural. 

- Se o que caracteriza o homem é o pensar, então esta e sua maior virtude e, portanto, reside nela à felicidade humana. 

“Aristóteles, fiel aos princípios de sua filosofia especulativa, e após ter feito uma análise e um estudo da psicologia humana, verifica que em todos os seus atos o homem se orienta necessariamente pela idéia de bem e de felicidade e que nenhum dos bens comumente procurados (a honra, a riqueza, o prazer) preenche esse ideal de felicidade. Daí a sua conclusão: primeiro, a felicidade humana deverá consistir numa atividade, pois o ato é superior a potência; segundo, deverá ser uma atividade relacionada com a faculdade humana mais perfeita que é a inteligência (…)”.

(Costa,1993, p.67)

A FORÇA DO HÁBITO

“Somente a prática leva a excelência”.

- Em seu livro “Ética e Nicômaco”  Aristóteles mostra-nos que os homens se tornam o que são pelo hábito:

a. os homens se tornam bons engenheiros construindo, e se tornam músicos tocando, da mesma forma um homem torna-se justo praticando atos justos e mal praticando atos maus:

b. um homem torna-se um bom ou mau músico por tocar bem ou mal;

c. um escritor torna-se um bom ou mau escritor por escrever bem ou mal;

d. um mau músico não tem o hábito de tocar, também o mau escritor não tem o hábito de pensar e escrever.   

- Dessa forma para se tocar música ou escrever bem é necessária a excelência, é necessário o engajamento, é necessário o hábito.

- A pratica continua de uma atividade ou de um comportamento nos possibilita internalizar aquele hábito.

- Somente a prática leva a excelência.

- Esse raciocínio serve para todas as atitudes e atividades humanas.

- Pelo hábito de sentir receio ou confiança tornamo-nos covardes ou corajosos.

- O mesmo se aplica aos desejos e a raiva, por se comportarem da mesma forma e do mesmo modo em todas as circunstâncias algumas pessoas tornam-se moderadas e amáveis, outras se tornam concupiscentes ou irascíveis.

- É por isto que devemos fazer uso da razão em nossas escolhas e atividades.

“Devemos sempre desenvolver nossas atitudes e atividades de uma maneira racional”.

ARETÉ: A VIRTUDE HUMANA

“Por sua própria natureza os homens buscam o bem e a felicidade, mas esta busca só pode ser alcançada pela virtude”.

- A felicidade para Aristóteles corresponde ao hábito continuado da prática da virtude e da prudência.

- A virtude é entendida como Arete – excelência.

- É somente através do nosso caráter que atingimos a excelência.

- A boa conduta, a força do espírito, a força da vontade guiada pela razão nos leva à excelência.

- Dessa forma, a felicidade está ligada a uma sabedoria prática, a de saber fazer escolhas racionais na vida.

A RAZÃO: NOSSO GUIA NATURAL

- A razão é a faculdade que analisa, pondera, julga, discerne. 

- Ela nos permite  distinguir o que é bom ou mau,  a distinguir os vícios das virtudes.

- Ela  nos permite fazer escolhas pertinentes para nossa felicidade.

Exemplo I

a. a temeridade é um vício por excesso;

b. a covardia é um vício por falta;

c. o meio termo é a coragem, que é uma virtude.

Exemplo II

a. o orgulho é um vício por excesso;  

b. a humildade um vício por falta; o meio termo é a veracidade, que também é uma virtude.

Exemplo III

a. a inveja é um vício por excesso;

b. a malevolência é um vício por falta;

c. o meio termo é a justa indignação.

A VIRTUDE ESTÁ NO MEIO TERMO

- Para Aristóteles toda escolha exige uma mediania, um equilíbrio entre o excesso e a falta. 

- Na vida não podemos ser imprudentes e impulsivos se arriscando em situações perigosas.

- Por outro lado,  também não podemos ser covardes e ter medo de tudo deixando que o medo nos domine.

- É necessário o meio termo entre esses dois sentimentos, devemos enfrentar os medos e perigos sabendo agir com bom senso.

- O mesmo raciocínio serve para alimentação, não podemos comer muito para passar mal do estômago, assim como não podemos evitar comer, pois também vamos adoecer. Devemos comer com moderação.

- Por esta ótica, também podemos pensar os sentimentos:

a. na vida não podemos ser vaidosos preocupando-nos apenas com nossas qualidades, satisfazendo sempre o nosso ego.

b. por outro lado, também não podemos ser muito modestos,  achando que somos inferiores.

c. é necessário auto-estima, sabendo reconhecer através da razão nossos defeitos e nossas qualidades.

- Para Aristóteles, portanto,  devemos sempre escolher o meio termo, sendo moderados em tudo que fazemos na vida. Somente assim atingiremos o bem e a felicidade.


Bibliografia

Aristóteles. Ética a Nicômaco. Edipro, São Paulo, 2007

Costa, José S. Tomás de Aquino: a razão a serviço da fé. São Paulo: Moderna, 1993

Stratheer, Paul. Aristóteles em 90 minutos.  Rio de janeiro: Jorge Zahar, 1997.

Exercício I

1. Leia o texto a seguir. A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consiste numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática.

(Aristóteles. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Livro II, p. 273.)

 Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada ética em Aristóteles, pode-se dizer que a virtude ética

a) reside no meio termo, que consiste numa escolha situada entre o excesso e a falta.

b) implica na escolha do que é conveniente no excesso e do que é prazeroso na falta.

c) consiste na eleição de um dos extremos como o mais adequado, isto é, ou o excesso ou a falta.

d) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em razão de preferências pragmáticas.

e) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com o fato de que a natureza é que nos torna mais perfeitos.