Inspirado no Grupo Arquivo Vivo
Por: Claudio Fernando Ramos – Natal-RN 31/01/2012
O ecletismo musical que largamente se propaga por aí, por não fazer uso da velha reflexão, desconhece sua verdadeira identidade e, por conta disso, acaba servindo de álibi para músicos desinformados (com o advento da net a desinformação tornou-se algo muito pouco provável, porém, é fato que excesso de informação também gera desinformação), acomodados ou, o que é bem mais corriqueiro, menos talentosos. Esses personagens, por uma questão de sobrevivência, o que é muito comum, ou por uma avidez compulsiva pela “fama”, o que é mais comum ainda, diariamente condicionam-se aos modismos-efêmeros, que por sua vez são produtos de um capitalismo voraz. Essa Hidra de Lerna (ser mitológico derrotado por Hércules no seu segundo trabalho) tem muitas cabeças (o lucro), para extirpar-lhe a vida não basta cortá-las, nasce outra, outra e mais outra. Lucro, lucro e mais lucro. Se para o filósofo alemão (Schopenhauer 1788-1860) a arte e sua contemplação é a única forma de libertação do eterno e imperativo querer humano, isso já não pode mais ser encarado dessa maneira. Fazemos e buscamos a arte pelos possíveis benefícios que dela obtemos. Esses benefícios são todos, ao menos hoje em dia, externos ao ser.
Ao ouvir o termo ecletismo e eclético, tudo o que consigo discernir são as palavras: massificação e massificado (aqui está a verdadeira face do ecletismo musical em nosso país). Um dos grandes nomes arrolado nos anais de nossa MPB, denunciou nas letras de “Admirável Gado Novo*” essa estranha “felicidade” de pessoas que, voluntariamente, se deixam marcar, como se fossem animais que possuíssem dono:
Zé Ramalho, cantor e compositor.
“Êeeeeh! Oh! Oh!
Vida de gado
Povo marcado, Êh!
Povo feliz!...”
Os ecléticos que encontro são, na sua arrebatadora maioria, oportunistas, ou, eufemisticamente falando, inocentes. Tocam e cantam o que está na moda, a “culpa” por estarem tocando músicas de qualidade duvidosas é de quem as pedem ou contratam a banda, nunca deles. Afinal de contas, sem os fãs não há fama que resista, mas,com eles não há identidade que sobreviva. Todos marcados. Todos com donos. Todos felizes. Subproduto da massificação. Isso me faz lembra um de nossos ex-presidentes, que após ser eleito declarou: “... esqueçam tudo o que escrevi antes...”. Muitos músicos fazem o mesmo depois da fama ou para chegar nela.
Quanto aos verdadeiramente ecléticos, esses são livres nas escolhas que fazem, livres nas decisões que tomam, isso implica, na maioria das vezes, em ficar do lado contrário do da maioria (o que não ocorre com os ecléticos de plantão). Cantam e tocam o que as pessoas querem, mas, não pautam seu trabalho nesse particular; não temem contrariar interesses (que são muitos: sexo, dinheiro, aplausos, etc.) quando sentem que a arte, as boas tradições, a “raiz”, a história e o bom senso assim o exigem.
Sócrates Jesus de Nazaré Sidarta Gautama
Pode parecer meio utópico desejar resgatar valores, princípios e tradições em um mundo onde a economia e cultura estão cada vez mais globalizadas. Nada é mais como parece ser. Tudo é um. O todo e a parte são as mesmas coisas. Porém, não devemos esquecer que o homem, assim como seus conceitos mais significativos, são concebidos nas utopias: Sidarta Gautama (O Buda) – contrariou alguns dos fundamentos do Hinduísmo e seu sistema de castas; Jesus de Nazaré (O Cristo) – manteve-se impávido diante da turba que gritavam pela sua crucificação; Sócrates (O Filósofo) – postou-se irredutível ante a tirania dos seus algozes. E quanto aos conceitos humanos mais conhecidos: liberdade, amor, perdão, arrependimento, justiça, verdade, humildade, solidariedade, sinceridade e etc., todos ainda são ideais a serem plenamente atingidos. Mas nem por isso deixam de ser desejados. Sem esquecer que existem aqueles que acreditam praticá-los integralmente todos os dias. Há alguma utopia maior que essa? Como podemos ver, só estou assumindo aquilo do que todos nós somos constituídos: utopia.
*"Admirável Mundo Novo", escrito por Aldous Huxley em 1931 é uma 'fábula' futurista relatando uma sociedade completamente organizada, sob um sistema científico de castas. Não haveria vontade livre, abolida pelo condicionamento; a servidão seria aceitável devido a doses regulares de felicidade química e ortodoxias e ideologias seriam ministradas em cursos durante o sono. Cacau :¬)
Por: Claudio Fernando Ramos – Natal-RN 31/01/2012
O ecletismo musical que largamente se propaga por aí, por não fazer uso da velha reflexão, desconhece sua verdadeira identidade e, por conta disso, acaba servindo de álibi para músicos desinformados (com o advento da net a desinformação tornou-se algo muito pouco provável, porém, é fato que excesso de informação também gera desinformação), acomodados ou, o que é bem mais corriqueiro, menos talentosos. Esses personagens, por uma questão de sobrevivência, o que é muito comum, ou por uma avidez compulsiva pela “fama”, o que é mais comum ainda, diariamente condicionam-se aos modismos-efêmeros, que por sua vez são produtos de um capitalismo voraz. Essa Hidra de Lerna (ser mitológico derrotado por Hércules no seu segundo trabalho) tem muitas cabeças (o lucro), para extirpar-lhe a vida não basta cortá-las, nasce outra, outra e mais outra. Lucro, lucro e mais lucro. Se para o filósofo alemão (Schopenhauer 1788-1860) a arte e sua contemplação é a única forma de libertação do eterno e imperativo querer humano, isso já não pode mais ser encarado dessa maneira. Fazemos e buscamos a arte pelos possíveis benefícios que dela obtemos. Esses benefícios são todos, ao menos hoje em dia, externos ao ser.
Ao ouvir o termo ecletismo e eclético, tudo o que consigo discernir são as palavras: massificação e massificado (aqui está a verdadeira face do ecletismo musical em nosso país). Um dos grandes nomes arrolado nos anais de nossa MPB, denunciou nas letras de “Admirável Gado Novo*” essa estranha “felicidade” de pessoas que, voluntariamente, se deixam marcar, como se fossem animais que possuíssem dono:
Zé Ramalho, cantor e compositor.
“Êeeeeh! Oh! Oh!
Vida de gado
Povo marcado, Êh!
Povo feliz!...”
Os ecléticos que encontro são, na sua arrebatadora maioria, oportunistas, ou, eufemisticamente falando, inocentes. Tocam e cantam o que está na moda, a “culpa” por estarem tocando músicas de qualidade duvidosas é de quem as pedem ou contratam a banda, nunca deles. Afinal de contas, sem os fãs não há fama que resista, mas,com eles não há identidade que sobreviva. Todos marcados. Todos com donos. Todos felizes. Subproduto da massificação. Isso me faz lembra um de nossos ex-presidentes, que após ser eleito declarou: “... esqueçam tudo o que escrevi antes...”. Muitos músicos fazem o mesmo depois da fama ou para chegar nela.
Quanto aos verdadeiramente ecléticos, esses são livres nas escolhas que fazem, livres nas decisões que tomam, isso implica, na maioria das vezes, em ficar do lado contrário do da maioria (o que não ocorre com os ecléticos de plantão). Cantam e tocam o que as pessoas querem, mas, não pautam seu trabalho nesse particular; não temem contrariar interesses (que são muitos: sexo, dinheiro, aplausos, etc.) quando sentem que a arte, as boas tradições, a “raiz”, a história e o bom senso assim o exigem.
Sócrates Jesus de Nazaré Sidarta Gautama
*"Admirável Mundo Novo", escrito por Aldous Huxley em 1931 é uma 'fábula' futurista relatando uma sociedade completamente organizada, sob um sistema científico de castas. Não haveria vontade livre, abolida pelo condicionamento; a servidão seria aceitável devido a doses regulares de felicidade química e ortodoxias e ideologias seriam ministradas em cursos durante o sono. Cacau :¬)
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