“Se não queres repetir o
passado estude-o!”
I
- VIDA E OBRA
A) VIDA
- Nasceu em Amsterdam em 1632, filho de hebreus
portugueses, de modesta condição social, emigrados para a Holanda.
- Recebeu uma educação hebraica na academia
israelita de Amsterdam, com base especialmente nas Sagradas Escrituras.
- Demonstrando muita inteligência, foi iniciado na
filosofia hebraica (medieval-neoplatônico-panteísta) e destinado a ser rabino.
- Depois de se manifestar o seu racionalismo e tendo
ele recusado qualquer retratação, foi excomungado pela Sinagoga em 1656.
- Também as autoridades protestantes o desterraram
como blasfemador contra a Sagrada Escritura.
- Retirou-se, primeiro, para os arredores de
Amsterdam, em seguida para perto de Leida e enfim refugiou-se em Haia.
- Aos vinte e cinco anos de idade esse filósofo,
sem pátria; sem família; sem saúde; sem riqueza; se acha também isolado
religiosamente.
- Os outros acontecimentos mais notáveis na
formação espiritual especulativa de Spinoza são: o contacto com Francisco van
den Ende, médico e livre pensador; as relações travadas com alguns meios
cristão-protestantes.
- Van den Ende iniciou-o no pensamento cartesiano,
nas línguas clássicas, na cultura da Renascença; e nos meios religiosos holandeses
aprendeu um cristianismo sem dogmas, de conteúdo essencialmente moralista.
- Provia pois às suas limitadas necessidades
materiais, preparando lentes ópticas para microscópios e telescópios, arte que
aprendera durante a sua formação rabínica; e também aceitando alguma ajuda do
pequeno grupo de amigos e discípulos.
- Para não comprometer a sua independência
especulativa e a sua paz, recusou uma pensão oferecida pelo "grande
Condé" e uma cátedra universitária em Heidelberg, que lhe
propusera Carlos Ludovico, eleitor palatino.
- Uma tuberculose enfraquecera seu corpo. Após
alguns meses de cama, Spinoza faleceu aos quarenta e quatro anos de idade, em
1677, em Haia.
- Deixou uma notável biblioteca filosófica; mas a
sua herança mal chegou para pagar as despesas do funeral e as poucas dívidas
contraídas durante a enfermidade.
- Um traço característico e fundamental do caráter
de Spinoza é a sua concepção prática, moral, de filosofia, como solucionadora
última do problema da vida.
- E, ao mesmo tempo, a sua firme convicção de que a
solução desse problema não é possível senão teoreticamente, intelectualmente,
através do conhecimento e da contemplação filosófica da realidade.
B) OBRAS PRINCIPAIS
- As obras filosóficas principais de Spinoza são:
*Ethica (publicada postumamente em
Amsterdam em 1677), que constitui precisamente o seu sistema filosófico.
* Tractatus theologivo-politicus (publicado
anônimo em Hamburgo em 1670), que contém a sua filosofia religiosa e política.
II
- INTRODUÇÃO
- Privilegiou a ética na
construção do seu pensamento.
- Para ele o
conhecimento depende dos tipos de afetos que prevalecem nos indivíduos.
- Formulou uma concepção
inusitada das relações entre Deus e a natureza.
III - INFLUÊNCIA CARTESIANA
“A razão matemática, científica - espírito geométrico - que vale para o
mundo natural, Descartes tento fazer chega até Deus.”
- O cartesianismo forjou a mentalidade
(racionalista-matemática) dos maiores filósofos até Kant.
- O pensamento de Descartes exercerá
uma influência vasta no mundo cultural francês e europeu, diretamente até Kant e indiretamente
até Hegel.
- E exerceu tal influência não tanto como sistema
metafísico, quanto especialmente pelo espírito crítico, pelo método
racionalista, implícito nas premissas do sistema do filósofo.
- O cartesianismo propôs os grandes problemas em
torno dos quais girou a especulação de vários filósofos, a saber: a relação
entre substância finita de um lado, e entre espírito e matéria do outro; a
harmonia preestabelecida de Leibniz e o panteísmo
psicofísico de Spinoza.
- Spinoza é a mais coerente e extrema expressão do
racionalismo moderno depois do fundador e antes de Kant.
IV
- DEFINIÇÕES CONCEITUAIS
a) Transcendência – na
teologia, significa que Deus é separado do mundo que criou e é superior a ele.
b) Imanência – na teologia,
significa que Deus faz parte do mundo, não sendo, portanto, exterior a
natureza.
c) Panteísmo – tudo é Deus,
Deus é imanente ao mundo.
d) Determinismo – ausência
do livre-arbítrio.
e) Conatus – termo latino
que designa esforço físico ou moral.
f) Heteronomia – do grego
hetero (diferente) e nomos (lei). Portanto, nossa ação não é comandada por nós
mesmo, mas por outros.
g) Paixão – em grego phatos,
significa padecer, sofrer, no sentido de algo que ocorre no sujeito independentemente
de sua vontade. Ao padecer não somos nós que agimos, mas sofremos a ação de uma
causa exterior.
V
- DEUS SIVE NATURA
(Deus, ou seja, natureza)
- O racionalismo cartesiano é levado a uma rápida,
lógica, extrema conclusão por Spinoza.
- Em geral, pode-se dizer que Descartes fornece a
Spinoza o elemento arquitetônico, lógico-geométrico, para a construção do seu
sistema, cujo conteúdo monista, em parte deriva da tradição neoplatônica, em
parte do próprio Descartes.
- Spinoza quereria deduzir de Deus racionalmente,
logicamente, geometricamente toda a realidade.
- O problema das relações entre Deus e o mundo é
por ele resolvido em sentido monista.
A) de um lado, desenvolvendo o conceito de
substância cartesiana, pelo que há uma só verdadeira e própria substância, a
divina;
B) de outro lado introduzindo na corrente
racionalista-cartesiana uma preformada concepção neoplatônica de Deus, a saber,
uma concepção panteísta-emanatista.
-
DITO DE OUTRO JEITO
- Os afetos e apetites humanos tratados como se fossem:
linhas de superfícies ou de volumes (geometria da afetividade humana).
- Deus não é um ser
transcendente, porém imanente.
- Espinosa é definido
por outros pensadores como sendo um filósofo panteísta.
- O panteísmo de
Espinosa possui uma sutileza: tudo está em Deus, sem que, no entanto, seja
Deus. Há uma singular diferença entre a substância divina (Deus) e os seus
modos (natureza).
- Deus é substância que
constitui o universo inteiro e não se separa de tudo aquilo que produziu: “Todas
as coisas são modos da substância infinita”.
- Deus é causa imanente
(e não transcendente) dos seus modos, dentre os quais figura o ser humano.
- O PENSAMENTO: DEUS
- A substância divina é eterna e
infinita: quer dizer, está fora do tempo e se desdobra em número infinito de
perfeições ou atributos infinitos.
- Desses atributos, entretanto, o intelecto humano
conhece dois apenas: o espírito e a matéria, a cogitatio e
a extensio.
- Descartes diminuiu
estas substâncias, e no monismo spinoziano descem à condição de simples
atributos da substância única.
- NATUREZA NATURANTE E
NATURADA
- A substância e os atributos constituem a natura
naturans. Da natura naturans (Deus) procede o mundo das
coisas, isto é, os modos.
- Eles (os modos) são modificações dos atributos, e
Spinoza chama-os natura naturata (o mundo).
- Os modos
- Os modos distinguem-se em primitivos e derivados.
- Os modos
primitivos - representam as determinações mais
imediatas e universais dos atributos e são eternos e infinitos: por exemplo,
o intellectus infinitus é um modo primitivo do atributo do
pensamento, e o motus infinitus é um modo primitivo do
atributo extensão.
VI - CONHECIMENTO, LIBERDADE
E AÇÕES HUMANAS
“Toda coisa se esforça, enquanto está em si, por
perseverar no seu ser”.
- Não nega a causalidade interna (determinismo),
antes a considera adequada para que o ser humano atinja a sua essência.
- Defende e define a liberdade como sendo
autodeterminação.
- Conatus, no sentido de uma tendência natural e
espontânea de autoconservação.
- O ser quer existir de acordo com a natureza e não
contra ela.
- É o conhecimento racional que nos permite
distinguir os desejos verdadeiros (próprios de nossa natureza) daqueles que nos
afastam dela.
- Só o conhecimento adequado de si mesmo pode
promover a liberdade humana.
VII - ESCRAVIDÃO
- Desejos estranhos são os desejos exógenos, ou
seja, externos e inadequados ao ser.
- Os desejos externos são inadequados porque
escravizam o homem impedido a expressão plena da natureza do ser.
VIII - PAIXÕES DA ALEGRIA E
DA TRISTEZA
(Qual a diferença?)
“Alegrias e tristezas (sentidas) são dimensões de
nossa afetividade”.
- Alegria, a passagem do ser humano de uma
perfeição menor para uma maior.
- Tristeza, a passagem do ser humano de uma
perfeição maior para uma menor.
A) ALEGRIAS
“O amor é a alegria do amante, potencializado pela
presença do amado ou da coisa amada”.
- Quando a potência de existir, que é o desejo, se
realiza conforme nossa natureza, sentimos alegria.
- Aumenta o nosso ser e a nossa potência de agir
(conatus).
- Aproxima-nos do ponto em que nos tornamos senhor
da nossa própria potência de agir (dignos de ação).
- A realização do desejo que atende a uma
necessidade positiva nos permite agir para realizar nosso ser, o que nos traz
alegria e libertação, porque aumenta nossa potência de ser.
Exemplos de Expressões de
Alegria
- Contentamento; admiração; estima; misericórdia...
B) TRISTEZAS
Quando somos obrigados a realizar um trabalho que
não escolhemos, quando sofremos sob a égide de um governo autoritário, quando
sucumbimos aos apelos consumistas... Sentimos a “diminuição do nosso ser”.
- Quando a potência de existir é contrariada,
sentimos tristeza.
- A tristeza manifesta-se quando nos orientamos por
valores exteriores a nós mesmos, nos tornamos heterônomos.
- Afasta-nos cada vez mais da nossa potência de
agir (conatus).
Exemplos de Expressões de
Tristeza
- Ódio; aversão; temor; desespero; indignação;
inveja; crueldade; resentimento; melancolia; remorso; vingança...
IX - RELAÇÃO CORPO-MENTE
(Dualismo sem supremacia)
- Exceção à regra - superação da dicotomia: corpo e
mente (corpo-consciência).
- Sem hierarquias - buscou restabelecer a unidade
humana: não há hierarquia entre o corpo e a mente.
- Negando a tradição grega, afirmou que o espírito
não é superior ao corpo e que o corpo não determina a consciência.
- O problema, pois, das relações entre o espírito e
a matéria é resolvido por Spinoza, fazendo da matéria e do espírito dois atributos
da única substância divina. - Une os dois na mesma substância segundo um
paralelismo psicofísico, uma animação universal, uma forma de pampsiquismo.
X - CARACTERÍSTICAS DA ALMA
A) FORÇA
- A força da alma (poder) reside na atividade de
pensar, conhecer.
- Quando a alma se reconhece capaz de produzir
ideias, passa a uma perfeição maior e é afetada pela alegria.
B) FRAQUEZA
- A fraqueza da alma reside na ignorância.
- Quando não alcança o entendimento, a descoberta
de sua impotência prova o sentimento de diminuição do ser (tristeza).
- A tristeza proporciona a passividade da alma.
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