quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sou Mais Maquiavel (Filosofia de Boteco II)

Por: Claudio Fernando Ramos (Cacau) Natal-RN 22/09/2011

Todas às vezes que vejo e ouço os governantes, que em sua maioria não são estadistas, discursarem na ONU, só uma coisa me vem à cabeça: Maquiavel. Mesmo maquiavélico, como o rotulou a Igreja entre outros, Maquiavel sempre teve razão. O Príncipe(1513), obra prima de N. Maquiavel (1469-1527), e seu "Realismo Político", nunca estiveram tão atuais. A obra sepulta as aspirações dos bens intencionados, e os comentários de Napoleão (imperador francês) jogam uma pá de cal nas pretensas mudanças dos visionários.



Obama fala de democracia, mas atrela a soberania dos palestinos aos caprichos dos judeus, que se utilizam de uma falácia religiosa para dominar e oprimir o povo palestino. Dilma discursa sobre torturas (ela foi vítima da Ditadura Militar) e os direitos das minorias (mulheres, pobres, doentes etc.), mas nega-se a "receber" o novo representante da Líbia (diferentemente de todos os outros oradores, ela não lhe dá as boas vindas). Seria saudades do humanista e democrático Kadafi? Vai saber!



Em nosso país ocorrem coisas semelhantes, senão piores. Lembro-me de um ex-governador (Paulo Maluf) que afirmou com toda convicção do mundo, atitude bem apropriada para grandes sofistas (quero dizer sofismas), que se alguém encontrasse algum dinheiro seu, em contas localizadas em paraísos fiscais, poderia doá-lo para Nossa Senhora (é pra rir ou para chorar?). Lula, que ao longo de sua trajetória sempre lutou pelos direitos dos proletariados (definição marxista para operários)ante as grandes corporações, tornou-se inútil em face da cara-de-pau dos amigos (amigos dele, não do país; é importante frisar).



O PT passou boa parte de sua existência defendendo a implementação de um governo mais ético. Hoje, no poder a quase uma década, sabemos que a ética do PT tem uma estética definida: Antônio Palocci, José Dirceu e José Genoino. E agora José? Pergunta o famoso poeta Carlos Drummond de Andrade. Sem resposta diante dos fatos eu conclamo: Viva a hipocrisia do mundo.



A obra de Maquiavel, diferentemente do que alguns pensam, não é destituída de ética. Não, de jeito algum. O que ela tem é uma ética autônoma, e isso sempre soou de forma incomum. Ela causa espanto, repulsa e horror, por ser destituída de hipocrisia, e isso é algo que os fariseus de plantão não podem tolerar, nem perdoar. Por essas e por outras: sou mais Maquiavel!

Detalhe: não sou filiado, mas sou eleitor do PT. Porém nunca me esqueço: sou, acima de tudo, um cidadão do mundo!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Internet, o sonho não revelado de Aquiles.

Por: Claudio Fernando Ramos Cacau ":¬)    Natal-RN, outubro 2011


Informação é poder.


Não ser esquecido! Sobre essa proposição assentava-se toda a notória “coragem” de Aquiles. Para o herói grego, a importância da vida não residia, a exemplo do que pensa o homem moderno, na busca dos prazeres (o hedonismo de Epicuro). "A vida só vale a pena ser vivida quando não é  esquecida; mas para ser lembrado faz-se necessário ser ousado". Conclama, cheio de audácia, o herói grego através dos tempos. 

Aquiles, herói grego na luta contra os troianos.
Hoje, sem Homero (autor de Ilíada e Odisseia), não possuímos epopeias sobre magníficos heróis. Quanto às batalhas contemporâneas, não há o menor resquício dos virtuosos e honrados: Heitor (filho de Primos, irmão de Páris, herói dos troianos) e Odisseu (também conhecido como Ulisses, rei de Ítaca, marido de Penélope). O mesmo já não pode ser dito sobre os muitos “sofistas”, semelhantes a Páris (sedutor e “raptor” de Helena) e inconsequentes como Menelau (rei de Esparta, marido de Helena), que como praga não cessam de proliferar. Mas, esses são insignificantes ante o nosso colossal e  real adversário: o Tempo (Cronos). Voraz e inexorável por natureza. Sabedor da onipotência de Cronos, fica fácil concluir que jamais teremos uma justa batalha, e, como sabemos, não vale a pena lutar batalhas que não podem ser vencidas. Todavia, mesmo sem uma justa batalha, ao contrário do que Aquiles temia, não corremos o risco de sermos esquecidos. Modernas tecnologias nos garantem, com pouco ou sem esforço algum, uma longeva notoriedade. Vencidos, todos seremos (sem exceções), diante de nosso mais implacável algoz (o tempo); no entanto, não precisamos mais temer o obscurantismo nem a vergonha da “derrota”. No cyber universo, não é necessário ser o que se pode, mas, inusitadamente, se pode ser o que se quer. Nossa realidade virtual é, portanto, o sonho não revelado de Aquiles.
Agradeço a net por ter "lembrado", isso vem sendo feito há vários anos, nos sites de relacionamentos (ORKUT, FACE BOOK, e etc.), e a vocês (amigos virtuais) por terem escrito algo!

Hoje, quase um ano depois, reeditando esse texto, lembro-me que ele foi escrito por ocasião de meu aniversário (26/10/2011), na medida em que quase mil pessoas me felicitaram pela data, principalmente pessoas que nunca me viram pessoalmente, então resolvi brincar e brindar o fato. Fato esse que me torna, semelhantemente a milhares de outros internautas, verdadeiro Aquiles da contemporaneidade.   Cacau ":¬)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Não lhe prometemos um jardim de rosas (Feliz dia do professor)


Por: Claudio Fernando Ramos (Cacau) Natal-RN, outubro 2011


Na tentativa de educar o outro não devemos deseducar a nós mesmos...
Ver a face alheia quando do processo de educação, traz-nos não só o prazer da transformação, mas a dor da luta que se processa no mais intimo das pessoas, percorrendo todas as suas entranhas até chegar e eclodir em seu, nem sempre harmônico, semblante.
É, nesse campo de batalha que confrontos titânicos se desenrolam todos os dias, apesar das necessárias e gratificantes vitórias, os conflitos, tanto dos que ensinam quanto dos que aprendem, não são facilmente esvaziados.
Ao educar, o fazemos empiricamente, mas há em cada um de nós, escondido, não se sabe ao certo onde, um saber inato que nos acompanha.
Lembrar de alguém que se ajudou a educar (educador – educando)...  Ser lembrado por alguém em que se deu a contribuição da educação (educando – educador)... É garantia plena que, ao final desse delicado processo, prevaleceu o humano que em nós reside.
Humanidade sempre pronta a apaziguar as tempestades iminentes em todos nós...
O Deus da sabedoria nos permitiu um mundo onde a vida educacional sobrevive (Brasil), o pão nosso é bebido com o gosto salgado do suor (salários defasados), as mesmas lágrimas que regam o sorriso, inundam a tristeza(uns seguem em frente, outros abandonam), o grito de alegria também serve a dor (aprovações, violências)...
O controle diante do desafio, transforma-se facilmente em apatia diante da necessidade (estruturas comprometidas e pessoas desmotivadas)...
Assim sendo, educando e educadores têm uma longa, dolorosa e não menos gloriosa tarefa de perseverar. Abandonar o úmido, sombrio e mal cheiroso fundo da caverna é coisa bem dolorosa para os que partem, porém, é certamente desesperador para os que ficam(mesmo que lês não percebam isso). É com e por eles que devemos travar as nossas cotidianas batalhas, que nem sempre gratificam a contento, mas que também, nem sempre frustram em absoluto.

Morrer Mil Vezes (A justiça tarda e quase sempre falha)

Por: Claudio Fernando Ramos (Cacau)

Estando em nosso país, se quiseres os inocentes, dificilmente os encontrarás. Quanto às vítimas, temos incontáveis.  Porém, se procuras os culpados e culpadas, eis a maior delas: Lei Fleury - Lei no 5.941, de 22 de novembro de 1973.  Art. 408. § 2º Se o réu for primário e de bons antecedentes, poderá o juiz deixar de decretar-lhe a prisão ou revogá-la, já se encontre preso.
Não sou jurista, nunca estudei nada sobre o direito penal e civil de nosso país. O máximo à que chego, não passa da esfera do senso comum. Aliás, situação essa, bem semelhante à maioria de nossa população e, se me permitem a ironia, a de vários advogados formados em “faculdades” de ocasião (que o curso da OAB não deixe mentir). Assim sendo, permito-me uma pequena, mas nem por isso insignificante, reflexão sobre esse câncer que o Congresso Nacional insiste em não extirpar: a Lei Fleury.
                A Lei Fleury, sancionada na década de setenta, sob a gestão do então presidente militar: Emílio G. Médici, foi definitivamente consagrada em nossa Assembléia Constituinte de 1988. Visto que naquela época, as “verdades” de nossa nação não encontravam ecos como encontram em dias atuais, é muito provável que isso tenha contribuído para cegar os nossos parlamentares e juristas, sobre a face oculta dessa jovem, mas descaracterizada nação: Brasil, um país onde se morre várias vezes (de injustiça, de vergonha, de ignorância, de abandono, de assassinato...).
                Fala-se recorrentemente, principalmente na esfera do executivo, sobre a presunção de inocência, isso é ótimo; afinal, não se deseja que inocentes paguem o que não devem. Porém, é vexatória a situação com que temos de lidar diariamente: provas escritas (documentos), filmadas (áudio e vídeos), testemunhos oculares (geralmente com mais de uma testemunha), de pouco ou de nada servem; ante as leis extremamente flexíveis (principalmente para os que têm recursos financeiros). Aceitando ou não, me parece que somos uma nação propícia para a proliferação de criminosos contumazes. Ignora-se sistematicamente o significado e o valor da palavra honestidade. Às vezes, só às vezes, chego a pensar em conspiração, mas logo me recomponho desse delírio momentâneo e constato as presenças de nossas heranças coloniais e militares: clientelismos, favoritismos, corporativismos, nepotismos e a pior de todas: as impunidades. Tudo devidamente no plural. Afinal em uma nação com dimensões continentais, como é o caso da nossa, tudo deve ser proporcional. Essa última (a impunidade) é de longe a marca registrada de nosso país, desculpem-me os amantes do futebol.
                A Lei Fleury torna legal e, por conseguinte, legítimo, que uma pessoa possa recorrer a quantas instâncias houver nesse país. Até aí, tudo bem, visto que na maioria das nações onde o Estado de Direito está instituído, isso também ocorre. Só que em nosso caso o criminoso usa desse expediente em plena liberdade, ou seja, ele pode responder o processo fora das grades até que seja dada a sentença em última instância, isso se houver (veja o caso do ex-jogador Edmundo). Quando o que estiver em julgamento for um crime de menor monta, essa lei deve se fazer notar; mas a aplicação dessa mesma lei, deveria ser considerado ultrajante (no mínimo), quando o crime praticado for o de assassinato. Exemplos é o que não nos faltam: “Quase 11 anos depois de ter assassinado a ex-namorada, o jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, 73 anos, foi preso. Ele se entregou à Divisão de Capturas da Polícia Civil de São Paulo poucas horas após a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) determinar que o juiz da Comarca de Ibiúna (SP) executasse de imediato a prisão do réu confesso. Pimenta Neves foi condenado a 15 anos de cadeia, pena que terá de ser cumprida, inicialmente, em regime fechado [...].”
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica-brasil-economia/2011/05/25/internas_polbraeco,253747/jornalista-antonio-pimenta-neves-e-preso-apos-11-anos.shtml
Como é possível recebermos novamente um criminoso no ceio de nossa sociedade, sem que ele tenha pago, se condenado (não importando em que instância), pelo  crime praticado? Caso sinta-se injustiçado, que faça uso de seu direito de recorrer, mas nunca, em liberdade. É do conhecimento de todos que no Brasil um criminoso, quando possui recursos, não contrata advogados para abrandar-lhe a pena, ou até mesmo inocentá-lo, mas o faz para enrolar o máximo possível, na perspectiva, quase certa, de que a lei irá prescrever ou coisa que o valha. Também não é segredo que por aqui “não temos” (ao menos não legalmente) pena de morte, nem prisão perpétua. Mesmo nas raras ocasiões em que se vai para cadeia é só uma pequena fração da pena que se paga em regime fechado (isso será sem dúvida o que ocorrerá com Pimenta Neves).
Com o avanço mundial dos direitos humanos (desde o Renascimento, encorpando-se na Revolução Francesa e consolidando-se no pós-guerra, com a criação da ONU) as leis penais tendem a serem flexibilizadas. Isso não é de todo mal, não devemos sonhar com o retorno de masmorras nos moldes medievais, nem com interrogatórios nos moldes da Inquisição Católica Romana. Porém, é mister que haja exceções. A família que teve seu ente querido morto por um delinquente social, não pode ficar exposta a essa situação injusta, vergonhosa, revoltante e constrangedora. Conviver com aquele que lhe fez o mal sem que a correção se apresente em tempo hábil, nos predispõem a ouvir as orientações da sedutora: vingança. Todos sabem que esta, diferentemente daquela, se constitui na pior das conselheiras. Quando isso ocorre quebra-se o pacto social, segundo Hobbes, volta-se ao estado de natureza, ou seja, tornamo-nos lobo de nós mesmos. Sem esse pacto, não há lei nem ordem, em função disso a segurança e a paz torna-se um sonho impossível.
                Enquanto os acomodados e, principalmente, os beneficiados se calam, a sociedade vem sucumbindo não uma, mas duas, três, mil vezes. Porém, há vozes discordantes que se levantam para se fazerem ouvir. Tomo como exemplo a do promotor Marco Aurélio Lima do Nascimento, disse ele: "Por mais hediondo que seja o crime, o criminoso nunca vai para a cadeia, porque pode se valer de uma infinidade de recursos judiciais, que retardam a aplicação da justiça por dez, vinte ou trinta anos.” Por isso é desejo do promotor que os deputados revoguem a Lei Fleury (Lei 5941/73), que permite ao condenado aguardar em liberdade o julgamento do recurso. Na opinião do jurista essa lei é um "entulho autoritário, um resquício da ditadura", e tem servido para garantir a impunidade dos criminosos que dispõem de condições econômicas para pagar bons advogados. http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/88530.html
                        Dizem alguns, principalmente os religiosos, que a morte é a mesma para todos e que no fim receberemos o mesmo destino: deixar de viver.  Quanto à morte em si, isso pode até ser verdade, mas isso certamente não se aplica a maneira como se morrer. Caso as autoridades (política e jurídica) resolvam promover uma, já tardia, reforma nas leis desse país; seguindo o bom senso e a orientação de homens coerentes e experientes, como é o caso do promotor público acima citado, e de todos os cidadãos comuns, que mesmo sem serem advogados, têm noção do certo e do errado. Eu, assim como todos os outros cidadãos, poderei, certamente, viver melhor. E quando chegar à hora de morrer, morrerei minha própria morte, não a que me impuserem. E o que é melhor: uma única vez.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O avanço social das mulheres: uma conquista determinada

Por: Claudio Fernando Ramos (Cacau) Natal-RN 22/09/2011
                Pior do que não ser plenamente livre é acreditar sê-lo. (Cacau)
                São inegáveis os avanços experimentados, na sociedade moderna, pelas mulheres. Tudo isso se deve, evidentemente, as transformações implementadas nas várias áreas do agir humano, tendo desdobramentos significativos no campo da ética. Nosso objetivo é o de averiguar metodicamente, se os fatos se deram motivados pela liberdade total que norteiam as pessoas, ou pelo determinismo social que a todos guiam.
Jesus de Nazaré
                       

Emanuel Kant 1724-1804
                                                                                                                                                                                                  
Jean-Paul Sartre 1908-1980


                Por conta dos discursos religiosos: aquele que crer e for batizado será salvo, aquele que não crer já está condenado; e da necessidade de leis morais para reger os países e as sociedades (Imperativo Categórico, Kant), é incomensuravelmente mais coerente crer em seres que fazem escolhas o tempo todo. Seres com volições.  Nesse caso o filósofo francês Sartre surge como grande expoente: o homem está condenado a ser livre. Porém, essa mesma celeridade em afirmar a existência do livre-arbítrio em toda a esfera do agir humano, não se repete quando o assunto é sobre a natureza e tudo que a envolve. Seria o homem um caso particular da existência?
Nosso mundo já pensou da seguinte forma: a terra é o centro do universo; o homem é a coroa da criação; a razão é a única faculdade humana capaz de atingir o conhecimento verdadeiro.
Galileu Galilei 1564-1642
 

Charles Darwin 1809-1882

Sigmund Freud 1856-1939
Vejamos agora cada uma dessas proposições.  Na Primeira das afirmativas acima, tivemos uma instituição religiosa apresentando-se como grande e única guardiã das verdades, inclusive as astronômicas. Calcada nas convicções de homens infalíveis (os papas, os pais da igreja, os mártires e alguns filósofos), o mundo católico, por meio de uma pira ameaçadora, acreditava poder conter o ímpeto de um determinado italiano, que por influência de um polonês,  conclamou aos quatro cantos que a terra estava em movimento. Mesmo impedido de falar (graças a Inquisição) o Italiano franqueou-nos a possibilidade de ver e saber que a imobilidade da terra é apenas aparente. Galileu saiu “chamuscado” dessa aventura científica, menos mal, por pouco sua verdade, que hoje é a verdade de todos, não virou literalmente cinzas.
No segundo caso, talvez um pouco mais difícil que o primeiro, o temor daquele que discordou não deveu-se tanto ao temor de desagradar uma ou outra instituição religiosa(mesmo que esse temor ainda encontra-se eco em seus dias), mas sim, a angustiante e inexorável certeza de desestabilizar a necessária e reconfortante esperança da maioria das  pessoas: a de sermos produtos da criação divina. A certeza de que o melhor ainda está por vir. Darwin mostrou-nos há princípios biológicos que regem a natureza e que os mesmos também se aplicam aos homens.
Na terceira e mais polêmica das proposições acima, a razão é questionada; porém os seus conhecidos e famosos argumentos (princípios: da identidade, não-contradição, terceiro excluído e razão suficiente) não são levados em consideração. Para o austríaco Sigmund Freud o que prioritariamente nos move é o inconsciente (local onde tudo está guardado, mas jamais esquecido).
Como podemos ver, a forma de pensar da humanidade vem ao longo dos séculos sofrendo significativas transformações. Com Galileu, deixamos de ser o centro do universo. Com Darwin, deixamos de ser a cora da criação. E com Freud, não temos mais o sonhado controle ou faculdade incontestável que nos possibilitava conhecer plenamente. Esses três exemplos observados podem nos dar a ideia de como tudo isso só tem data para começar. Mas como esses fatos podem nos auxiliar em nossa épica tarefa de encontrar aspectos deterministas nas conquistas das mulheres modernas? Essa pergunta me faz lembrar uma frase ouvida há muitos anos passados. Em tons de galhofa um jovem afirmou: “[...] a culpa é da Princesa Isabel, não fosse ela os negros ainda seriam escravos”. Na época faltava-me o conhecimento básico para contra-argumentar de uma forma coerente. Hoje, sabemos que o fato em si (a Abolição da Escravatura 1888) nada teve a ver com o querer da Princesa. Forças internacionais, motivadas, principalmente, por uma premente necessidade comercial, fez aquilo que se deveria fazer. A princesa foi apenas um instrumento, caso ela se negasse, alguém, mais cedo ou mais tarde, o faria.
Influenciado por esse fluxo de ideias, sou levado a desconfiar desse ícone maior da humanidade: liberdade. A rigor ninguém é absolutamente livre. As contingencias psíquicas, biológicas e sociais, estão sempre, a exemplo de uma sombra em dias de sol, a nos acompanhar. Mas o quanto pesa essa companhia? O quanto ela nos rege? Não houvesse havido o domínio de uns e a exclusão de outros, por parte do Império Romano, a potência teria chegado ao fim? Não tivesse o Cristianismo Romano monopolizado o saber por vários e angustiantes séculos, haveria um Renascimento? Não fosse o Renascimento, haveria o Iluminismo?  Para que isso não se torne enfadonho, sejamos objetivos: sem o Iluminismo como pensar a Constituição Americana, a Revolução Francesa, a Inconfidência Mineira, os direitos humanos? Seguindo por esse viés, passo agora a responder a questão que desde o início faz parte dessa obra: o avanço social das mulheres deve ser visto como meritório ou causal? Certamente que “nunca” obteremos resposta absoluta para essa questão, mais isso não deve servir de empecilho.
As mulheres, antes de chegarem a fazer parte das fábricas, das faculdades, dos congressos... Tiveram, antes mais nada, que saírem de casa. Quem de lá as tirou? A necessidade: guerras, conflitos, adversidades climáticas, sistemas políticos, invenções tecnológicas, sistemas econômicos etc. Esses eventos, que em sua maioria, nem sempre estiveram sob o domínio absoluto do homem, varreram e mudaram a face do mundo para sempre. Nesse torvelinho histórico-social, não só as mulheres, mas também as crianças foram colhidas, todos necessários para suprir as necessidades de uma nova, e sempre renovada, ordem social. Os fatos me levam a crer que nossas escolhas, caso elas de fato existam, podem bem menos do que imaginamos. Quer criacionista ou evolucionista, somos o que podemos ser, não o que queremos ser. Ambicionamos a paz, mas é com a guerra que temos que conviver. Desde 1948 a ONU vem tentando costurar  e manter essa utopia chamada paz, mesmo cheia do poder e da autoridade (outorgada pelas nações membro), nunca conseguiu justificar plenamente a razão de sua existência. O que leva as potências a não declararem guerra umas as outras, não é a ONU, mas sim, mesmo motivo que as levam a tentar viver em paz: necessidade (não conseguem plenamente nem uma, nem outra coisa). Existem outras guerras além das convencionais: fria (no passado), econômica (sanções, protecionismos), sociais (lutas de classes), de gênero (macho, fêmea), étnica (preto, branco, índio, amarelo etc.) e talvez a pior de todas: a guerra pessoal (crise existencial).
Quer por iniciativa própria, o que não muito provável, quer por necessidade, o que é mais coerente, as mulheres chegaram, e creio que, se a necessidade não se intrometer, aí ficarão e dificilmente abandonarão o posto. Esse fato é benéfico para todos, não só para as mulheres, isso é fato. Uma sociedade mais justa é uma sociedade onde as possibilidades são multiplicadas, ampliar as possibilidades torna menos absurda a ideia de liberdade plena. Nesse caso, faz  um pouco mais de sentido acreditar que podemos porque queremos.