Por: Claudio Fernando Ramos (Cacau) Natal-RN 22/09/2011
Pior do que não ser plenamente livre é acreditar sê-lo. (Cacau)
São inegáveis os avanços experimentados, na sociedade moderna, pelas mulheres. Tudo isso se deve, evidentemente, as transformações implementadas nas várias áreas do agir humano, tendo desdobramentos significativos no campo da ética. Nosso objetivo é o de averiguar metodicamente, se os fatos se deram motivados pela liberdade total que norteiam as pessoas, ou pelo determinismo social que a todos guiam.
Jesus de Nazaré |
Emanuel Kant 1724-1804 |
Jean-Paul Sartre 1908-1980 |
Por conta dos discursos religiosos: aquele que crer e for batizado será salvo, aquele que não crer já está condenado; e da necessidade de leis morais para reger os países e as sociedades (Imperativo Categórico, Kant), é incomensuravelmente mais coerente crer em seres que fazem escolhas o tempo todo. Seres com volições. Nesse caso o filósofo francês Sartre surge como grande expoente: o homem está condenado a ser livre. Porém, essa mesma celeridade em afirmar a existência do livre-arbítrio em toda a esfera do agir humano, não se repete quando o assunto é sobre a natureza e tudo que a envolve. Seria o homem um caso particular da existência?
Nosso mundo já pensou da seguinte forma: a terra é o centro do universo; o homem é a coroa da criação; a razão é a única faculdade humana capaz de atingir o conhecimento verdadeiro.
Galileu Galilei 1564-1642 |
Charles Darwin 1809-1882 |
Sigmund Freud 1856-1939 |
Vejamos agora cada uma dessas proposições. Na Primeira das afirmativas acima, tivemos uma instituição religiosa apresentando-se como grande e única guardiã das verdades, inclusive as astronômicas. Calcada nas convicções de homens infalíveis (os papas, os pais da igreja, os mártires e alguns filósofos), o mundo católico, por meio de uma pira ameaçadora, acreditava poder conter o ímpeto de um determinado italiano, que por influência de um polonês, conclamou aos quatro cantos que a terra estava em movimento. Mesmo impedido de falar (graças a Inquisição) o Italiano franqueou-nos a possibilidade de ver e saber que a imobilidade da terra é apenas aparente. Galileu saiu “chamuscado” dessa aventura científica, menos mal, por pouco sua verdade, que hoje é a verdade de todos, não virou literalmente cinzas.
No segundo caso, talvez um pouco mais difícil que o primeiro, o temor daquele que discordou não deveu-se tanto ao temor de desagradar uma ou outra instituição religiosa(mesmo que esse temor ainda encontra-se eco em seus dias), mas sim, a angustiante e inexorável certeza de desestabilizar a necessária e reconfortante esperança da maioria das pessoas: a de sermos produtos da criação divina. A certeza de que o melhor ainda está por vir. Darwin mostrou-nos há princípios biológicos que regem a natureza e que os mesmos também se aplicam aos homens.
Na terceira e mais polêmica das proposições acima, a razão é questionada; porém os seus conhecidos e famosos argumentos (princípios: da identidade, não-contradição, terceiro excluído e razão suficiente) não são levados em consideração. Para o austríaco Sigmund Freud o que prioritariamente nos move é o inconsciente (local onde tudo está guardado, mas jamais esquecido).
Como podemos ver, a forma de pensar da humanidade vem ao longo dos séculos sofrendo significativas transformações. Com Galileu, deixamos de ser o centro do universo. Com Darwin, deixamos de ser a cora da criação. E com Freud, não temos mais o sonhado controle ou faculdade incontestável que nos possibilitava conhecer plenamente. Esses três exemplos observados podem nos dar a ideia de como tudo isso só tem data para começar. Mas como esses fatos podem nos auxiliar em nossa épica tarefa de encontrar aspectos deterministas nas conquistas das mulheres modernas? Essa pergunta me faz lembrar uma frase ouvida há muitos anos passados. Em tons de galhofa um jovem afirmou: “[...] a culpa é da Princesa Isabel, não fosse ela os negros ainda seriam escravos”. Na época faltava-me o conhecimento básico para contra-argumentar de uma forma coerente. Hoje, sabemos que o fato em si (a Abolição da Escravatura 1888) nada teve a ver com o querer da Princesa. Forças internacionais, motivadas, principalmente, por uma premente necessidade comercial, fez aquilo que se deveria fazer. A princesa foi apenas um instrumento, caso ela se negasse, alguém, mais cedo ou mais tarde, o faria.
Influenciado por esse fluxo de ideias, sou levado a desconfiar desse ícone maior da humanidade: liberdade. A rigor ninguém é absolutamente livre. As contingencias psíquicas, biológicas e sociais, estão sempre, a exemplo de uma sombra em dias de sol, a nos acompanhar. Mas o quanto pesa essa companhia? O quanto ela nos rege? Não houvesse havido o domínio de uns e a exclusão de outros, por parte do Império Romano, a potência teria chegado ao fim? Não tivesse o Cristianismo Romano monopolizado o saber por vários e angustiantes séculos, haveria um Renascimento? Não fosse o Renascimento, haveria o Iluminismo? Para que isso não se torne enfadonho, sejamos objetivos: sem o Iluminismo como pensar a Constituição Americana, a Revolução Francesa, a Inconfidência Mineira, os direitos humanos? Seguindo por esse viés, passo agora a responder a questão que desde o início faz parte dessa obra: o avanço social das mulheres deve ser visto como meritório ou causal? Certamente que “nunca” obteremos resposta absoluta para essa questão, mais isso não deve servir de empecilho.
As mulheres, antes de chegarem a fazer parte das fábricas, das faculdades, dos congressos... Tiveram, antes mais nada, que saírem de casa. Quem de lá as tirou? A necessidade: guerras, conflitos, adversidades climáticas, sistemas políticos, invenções tecnológicas, sistemas econômicos etc. Esses eventos, que em sua maioria, nem sempre estiveram sob o domínio absoluto do homem, varreram e mudaram a face do mundo para sempre. Nesse torvelinho histórico-social, não só as mulheres, mas também as crianças foram colhidas, todos necessários para suprir as necessidades de uma nova, e sempre renovada, ordem social. Os fatos me levam a crer que nossas escolhas, caso elas de fato existam, podem bem menos do que imaginamos. Quer criacionista ou evolucionista, somos o que podemos ser, não o que queremos ser. Ambicionamos a paz, mas é com a guerra que temos que conviver. Desde 1948 a ONU vem tentando costurar e manter essa utopia chamada paz, mesmo cheia do poder e da autoridade (outorgada pelas nações membro), nunca conseguiu justificar plenamente a razão de sua existência. O que leva as potências a não declararem guerra umas as outras, não é a ONU, mas sim, mesmo motivo que as levam a tentar viver em paz: necessidade (não conseguem plenamente nem uma, nem outra coisa). Existem outras guerras além das convencionais: fria (no passado), econômica (sanções, protecionismos), sociais (lutas de classes), de gênero (macho, fêmea), étnica (preto, branco, índio, amarelo etc.) e talvez a pior de todas: a guerra pessoal (crise existencial).
Quer por iniciativa própria, o que não muito provável, quer por necessidade, o que é mais coerente, as mulheres chegaram, e creio que, se a necessidade não se intrometer, aí ficarão e dificilmente abandonarão o posto. Esse fato é benéfico para todos, não só para as mulheres, isso é fato. Uma sociedade mais justa é uma sociedade onde as possibilidades são multiplicadas, ampliar as possibilidades torna menos absurda a ideia de liberdade plena. Nesse caso, faz um pouco mais de sentido acreditar que podemos porque queremos.
Texto produzido por ocasião de uma oficina de iniciação científica no Complexo Educacional Noilde Ramalho (Escola Doméstica/Henrique Castriciano/Farn). Natal-RN Setembro 2011
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