Por: Claudio Fernando Ramos - Natal-RN, 12 de Outubro 2012. Cacau “:¬)
Foto extraída da net.
Em mais um feriado religioso nesse país “laico”, a TV se encarregou de me confrontar com mais uma, das infinitas, contradição social do Brasil - um sertanejo, com voz embargada, tentava, sem lograr êxito algum, explicar o porquê da dificuldade em manter vivo o pouco que lhe restava de seus gados. Tendo como pano de fundo uma vegetação crestada pelo sol implacável, um açude sem água com superfície rachada, um chão de terra vermelha repleto de “cadáveres” e ossos de animais, que um dia já alimentaram a esperança do camponês de progredir na vida, o sertanejo chorou! Chorou pelo que via: miséria absoluta; chorou pelo que sentia: impotência; chorou pelo que, por não possuir letração, ignorava: descaso, conchavos, incompetência e desonestidade política.
Desde o início do ano os meteorologistas vêm alertando as autoridades que as chuvas na Região seriam abaixo do normal. Em lugares onde o planejamento, gestão e vontade política são coisas comuns, a seca não deixa de ocorrer, mas seus efeitos são, seguramente, menos nocivos.
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A água distribuída para a população vem de caminhões pipas (quando chegam), o milho subsidiado é vendido aos pecuaristas pela CONAB (quando tem)... Essas, além de outras ações, são implementadas pelo poder público, como forma de mitigar o problema; mas, ironicamente, é aí que reside o problema. Não há logística suficiente para que todos esses benefícios cheguem à ponta de forma satisfatória e em tempo hábil. Municípios, Estados e Governo Federal, trocam acusações e transferem responsabilidades, deixando a população sem respostas e, o que é pior, sem uma satisfatória ajuda.
Essa inoperância social não é generalizada, há alguns setores que estão seguros e resguardados. Todos os anos existem festas de todos os tipos na região, festas que são quase sempre mais intensas e competitivas no interior dos Estados nordestinos (locais onde a seca mais recrudesce): micaretas, festas juninas, aniversários de padroeiras etc. Necessariamente, não vejo as festas como um ou o problema, desejo apenas por em relevo os investimentos públicos que há nelas. Os gestores municipais, sabedores da realidade inexorável de uma seca cíclica, deveriam assegurar, a exemplo do que fazem com as festas (verdadeiros circos), investimentos periódicos em setores sociais, visando prevenção antecipada de suas funestas consequências. Mas não é o que se vê. O que vemos são as pessoas comportando-se como filhotes de pássaros, que impossibilitados de saírem do ninho (suas casas, terras e culturas), ficam com a boca aberta à espera das migalhas doadas pelo governo Estadual e Federal. Doações essas que serão devidamente lembradas em períodos de eleições.
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Bandas de Forró, pagodes e sertanejos (é só desses tipos que rolam) não são coisas baratas de se contratar. Estruturas para receber as bandas e o público participante, carecem de fortes investimentos, e todos sabemos que sem o aval financeiro dos municípios (quero dizer: vaidosos e inúteis prefeitos), esses projetos festivos, em sua maioria, seriam projetos falidos.
Bandas de Forró, pagodes e sertanejos (é só desses tipos que rolam) não são coisas baratas de se contratar. Estruturas para receber as bandas e o público participante, carecem de fortes investimentos, e todos sabemos que sem o aval financeiro dos municípios (quero dizer: vaidosos e inúteis prefeitos), esses projetos festivos, em sua maioria, seriam projetos falidos.
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Mas, como se pode perceber, as únicas coisas falidas no Nordeste são: a vida humana, a dignidade, o respeito ao próximo e a cidadania. Importando-se ou concordando-se, com tudo isso ou não, constata-se que circos não faltam, mas o mesmo não pode ser dito sobre os pães.
Esse pão que não chega, degrada aos que dele precisam; mas, se juntamente com o circo (que nunca falta) fosse farto, ainda assim não deixaria de ser aviltante: “A gente não quer só comida”.
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Os circos vêm tornando-se cada vez mais pujantes, não há ausência de públicos e de patrocinadores. Podemos tomar como exemplos algumas famosas gabolices midiáticas: uns gabam-se de possuírem a maior imagem de santo do mundo (turismo religioso), outros de organizarem o maior carnaval fora de época também do mundo (orgulho natalense), outros tantos vangloriam-se de serem os responsáveis pelo maior bloco de carnaval do planeta (supremacia pernambucana), e por aí vai. Os números da miséria do povo nordestino são bem maiores do que todos esses somados, mas, ao contrário dos "circos", esses números ninguém deseja que sejam propagados. A exemplo do racismo, falar sobre esses assuntos causam comichões, desconfortos, constrangimentos; hoje em dia, tudo isso pode gerar processo. Na perspectiva dos pseudos psicanalista e psicólogos, políticos messiânicos e dogmáticos religiosos de plantão: a culpa é quase sempre de quem fala ou denuncia, ou seja, é sempre a visão de uma pessoa amargurada, pessimista, incrédula e preconceituosa; não se deve dar muita atenção aos seus ditos, concluem; o que de fato falta ao denunciante são mais entretenimentos (futebol e novelas na TV), paixões (casar e fazer filhos), engajamentos (militar em partidos políticos), fé religiosa (conversão denominacional), ser feliz (satisfação plena dos desejos), ser eclético (gostar de tudo, não sendo contra nada).
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Já disseram que o nordestino é antes de tudo um forte, é possível. No entanto, enquanto pouco ou nada é feito, ao sertanejo resta olhar e clamar aos céus. Na condição de povo semianalfabeto, despolitizado e abandonado; mas, extremamente fervoroso, é bem possível que nesse doze de outubro, tomada de misericórdia, a Padroeira do Brasil, Aparecida, lamentando por ele, lave com suas lágrimas de intercessão a miséria tenaz que, apesar da fé e da fidelidade do sertanejo, nunca foi totalmente exorcizada da sua frugal existência. Cacau “:¬)