domingo, 11 de agosto de 2013

PATRÍSTICA (ESQUEMA DE AULA)



“Toda verdade, dita por quem quer que seja, é do Espírito Santo”. (S. Ambrósio)

Por: Claudio Fernando Ramos, 11/08/2013. Cacau “:¬)

Agostinho cria e tenta resolver problemas filosóficos pensando em si e nos seus dilemas e inquietudes morais e intelectuais. O que ele expôs como filosofia e teologia foram geralmente respostas para questionamentos seus. As suas investigações têm como centro a próprias características morais e intelectuais.
            O objetivo de Agostinho é conhecer a alma, ou seja, a sua própria interioridade e para isso ele tem que passar pelo conhecimento de Deus. Ele busca desvendar os mistérios da fé e esta é o fim das suas inquisições, mas a fé é também uma exigência e guia para que as investigações sejam feitas.
            A fé é um antecedente necessário da filosofia de Agostinho e para ele a fé é a percepção de ter sido tocado de alguma forma por Deus. Essa percepção além de mudar a forma de pensar muda também a forma de viver. A filosofia é um meio para melhor pensar, para melhor compreender a fé. Mas a fé não se coloca no lugar da inteligência, a fé incentiva a inteligência, o pensamento é também condição para que exista a fé. O conhecimento também não elimina a fé, esta se torna mais forte através da inteligência. A fé procura e a inteligência localiza e descobre.
            Agostinho busca conhecer Deus e a alma, mas para ele essa busca é uma só, pois Deus se faz conhecer no interior da alma. Para conhecer Deus devemos conhecer a nossa alma. É em nossa interioridade que devemos tentar encontrar Deus. Se não buscarmos a nós mesmos, ao mais profundo de nós mesmos, não encontraremos Deus e não vamos conhecê-lo.
            Além de Deus ser amor, Deus é a condição para que exista o amor. Para que possamos conhecer o amor de Deus temos que estar amando as outras pessoas. A esse amor aos homens Agostinho chama de amor fraterno ou caridade cristã. Amar a Deus é algo natural e intrínseco à natureza humana, pois somos imagens de Deus nosso criador que é a verdade eterna e a verdadeira eternidade.

O tempo

            Deus é o criador de tudo que existe no tempo, mas ele é criador também do tempo. O tempo começou com a criação, antes dela não existia tempo e Deus está fora do tempo, pois é eterno. Em Deus não existe passado ou futuro, ele é imutável e um ser imutável como Deus vive um eterno presente.
            Para agostinho o tempo do homem é medido pela alma e para nós existe um passado e um futuro porque somos seres mutáveis e não podemos viver em um eterno presente. O passado é uma memória guardada na alma e o futuro é a alma que espera os acontecimentos. O presente é um constante deixar de ser tanto do futuro como do passado, é uma intuição. Existem, portanto três tempos presentes, o presente do passado, o presente do presente e o presente do futuro. Esses três tempos encontram-se em nossa alma.
            O mal em Agostinho é o amor por si mesmo e o bem é o amor por Deus. Os homens que vivem para amar Deus formam a Cidade de Deus e os homens que vivem para amar a si mesmo formam a Cidade dos Homens. Na cidade de Deus vive-se segundo as regras do espírito e na cidade dos homens vive-se segundo as regras da carne. As duas cidades vivem mescladas uma com a outra desde que iniciou a história da humanidade e assim ficarão até o fim dos tempos. Cada ser humano tem que se questionar para saber a qual das duas ele faz parte.
            Deus não criou o mal. Agostinho acreditava que um ser em que só pode residir o bem não pode ser o criador do mal. Tudo que existe é bom e o mal é a ausência desse bem, é a ausência de Deus. Deus nos concedeu o Livre-Arbítrio, que é a nossa capacidade de decidir conforme nosso entendimento, e é dele que vem o mal. Deus nos criou independentes para que pudéssemos decidir por nossa vontade e através de nossa liberdade escolher o bem e não o mal. Quando o homem escolhe o mal ele se afasta de Deus.

Sentenças:
- Se não existir caridade não existe justiça.
- Com caridade o pobre é rico, sem caridade o rico é pobre.
- A medida do amor é amar sem medida.
- Os ociosos caminham lentamente e por isso os vícios os alcançam.

- No interior de todo homem existe Deus.




Quem não se ilumina com o esplendor de todas as coisas criadas, é cego. Quem não desperta com tantos clamores, é surdo. Quem, com todas essas coisas, não se põe a louvar a Deus, é mudo. Quem, a partir de indícios tão evidentes, não volta a mente para o primeiro princípio, é tolo. (São Boaventura)



1 - Observações gerais:



1. 1 - A característica fundamental da filosofia medieval é a ênfase nas questões teológicas, com destaque para temas como: o dogma da Trindade, a encarnação de Deus-filho, a liberdade, a salvação, a relação entre a fé e razão.

1. 2 - Toda cultura greco-romana foi considerada pela cultura cristã como sendo pagã (o não batizado pela igreja).

1. 3 - Toda doutrina ou filosofia que fosse contrária à doutrina cristã era além de pagã, taxada como sendo herética. Em sua origem grega, heresia significa escolha e, herege, todo aquele que escolhe uma determinada doutrina.

1. 4 - Os gregos não possuíam as concepções de criação e providência; acreditavam que as divindades eram indiferentes ao destino humano (Epicuro).

1. 5 - A lei moral para os gregos deriva da própria natureza (Estoicos), para os cristãos ela é um mandamento (sendo a sua desobediência um pecado).

1. 6 - A filosofia medieval pode ser dividida em quatro momentos principais:

a. O dos padres apostólicos – do início do cristianismo (séculos I e II), entre os quais se incluem os apóstolos, que disseminavam a palavra de Cristo, sobre tudo em ralação a temas morais (Paulo de Tarso, Pedro, João...).

b. O dos padres apologistas (séculos III e IV) – que faziam a apologia do cristianismo contra a filosofia pagã (Orígenes, Justino e Tertuliano); sendo esse último o mais intransigente na defesa da fé contra a filosofia.

c. O da patrística (do meados do século IV ao século VIII) – no qual se busca uma conciliação entre a fé e a razão (Agostinho de Hipona, como principal expoente).

d. O da escolástica (século IX a XVI) – na qual se buscou uma sistematização da filosofia cristã, sobre tudo a partir da interpretação da filosofia de Aristóteles (Tomás de Aquino). 

 2 - Aurélio Agostinho (354-430)

2. 1 - Bispo de Hipona (atual Argélia) – natural de Tagaste (atual Argélia), foi o maior nome desse período. “Compreender para crer, crer para compreender.”

2. 2 - Matriz platônica nos argumentos da fé (neoplatonismo de Plotino 204-270). Neoplatonismo, doutrina marcada pelo pensamento de Platão, sentimentos religiosos e crenças místicas:

a. Verdade - como conhecimento eterno.

b. Autoconhecimento – a busca pelo caminho da interioridade (instrumento legítimo na busca da verdade).

2. 3 - Tentativa de munir a fé com argumentos racionais, ou seja, busca de uma conciliação entre o cristianismo e o pensamento “pagão”.

2. 4 - Pecado original – peca-se por que se é pecador ou se é pecador por que se peca? O pecado é o afastamento de Deus.

2. 5 - Influência do Ceticismo – permanente desconfiança nos dados dos sentidos (mutáveis, fluentes e transitórios).

2. 6 - A superioridade da alma sobre o corpo – a alma, proveniente de Deus, foi feita para governar o corpo; mas o pecado original, juntamente com o inadequado uso do livre-arbítrio, leva o homem a inverter essa ordem. A consequência disso é a submissão do espírito à matéria, a subordinação do eterno ao transitório, da essência à aparência.

2. 7 - A verdadeira liberdade está na harmonia das ações humanas com a vontade de Deus. Ser livre é servir  a Deus, sendo o prazer de pecar a própria escravidão. A liberdade humana é própria da vontade (que no pecador é má) e não da razão (a razão conhece, a vontade decide); sendo por isso, errada a concepção socrática do intelectualismo moral (só erra quem não sabe).

2. 8 - Boas obras ou graça divina – a salvação do homem só é possível mediante a concessão imprescindível da graça divina. Doutrina oposta ao pelagianismo (Pelágio), que afirmava que por meio da boa vontade e das boas obras a salvação estaria segura.

2. 9 - O pelagianismo foi condenado pelo Papa Zózimo no Concílio de Cartago (417). Esse concílio pôs fim à autonomia, à ética e a todo humanismo herdados da cultura grega.

2. 10 - Precedência da fé sobre a razão – a fé revela verdades ao homem de forma direta e intuitiva. Vem depois a razão esclarecendo aquilo que a fé já antecipou. “Creio tudo o que entendo, mas nem tudo o que creio entendo. Todo o que compreendo conheço, mas nem tudo que creio conheço.” (Agostinho)


  2. 11 - Influência do Maniqueísmo – concepção dualista no âmbito moral, simbolizada pela luta entre o bem e o mal, a luz e as trevas, a alma e o corpo.

a. A origem do mal – o mal não possui uma existência real, mas é uma carência, a ausência do bem. Se vemos algo que se corrompe é porque antes era bom (Adão e Eva).

2. 12 – Principais obrasConfissões (obra autobiográfica que retrata a conversão de Agostinho) e Cidade de Deus (teologia e filosofia da história).



Bibliografia:

Cotrim, Gilberto                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              Fundamentos da Filosofia: história e grandes temas. - 16 ed. reform. e ampli. – São Paulo: Saraiva, 2006.
Aranha, Maria Lúcia de Arruda                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  Filosofia com textos: temas e história da filosofia: volume único. São Paulo: Moderna, 2012.





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