domingo, 27 de setembro de 2015

Michel Foucault: Filosofia Contemporânea


Michel Foucault ao lado do também filósofo francês Jean-Paul Sartre.


 
Há trinta anos, em junho de 1984, morria em Paris Michel Foucault. Um pensador do século XX que inventou certo modo radical de pensar, que atravessa este início de século: suas reflexões permanecem fundamentais para os movimentos de contestação política e social; para todos aqueles que desejam “saber como e até onde seria possível pensar de modo diferente”.

Foucault participou teórica e praticamente dos movimento sociais que poderíamos chamar de vanguarda de seu tempo, sobretudo durante as décadas de sessenta e setenta: a luta antimanicomial (sua experiência num hospital psiquiátrico foi uma das motivações que o levou a escrever História da Loucura); as revoltas nos presídios franceses (junto com Gilles Deleuze criou o GIP – Grupo de Informação sobre as Prisões, que buscava dar voz aos presos e às outras pessoas diretamente envolvidas no sistema prisional; com base nessa experiência escreveu Vigiar e Punir); o movimento gay (uma das motivações para sua História da Sexualidade).
 
O pensador francês também escreveu artigos para jornais e revistas no calor da hora sobre acontecimentos importantes, deu conferências e entrevistas em diversos países, inclusive no Brasil. Contrapunha seu papel de intelectual ao “intelectual universal”, isto é, uma espécie de líder que pensa pelas massas e as dirige para a “verdadeira” luta. O filósofo via a si mesmo como um “intelectual específico”, aquele que em domínios precisos contribui para determinadas lutas em curso no presente. Parafraseando Deleuze, Foucault foi o primeiro a ensinar a indignidade de falar pelos outros.

Ele dizia que suas pesquisas nasciam de problemas que o inquietavam na atualidade: evidências que poderiam ser destruídas se soubéssemos como foram produzidas historicamente; por isso fez da ontologia (o estudo do ser, um modo de reflexão geralmente desligado da realidade histórica, uma vez que busca princípios – as ideias, para Platão; o cogito, para Descartes; o sujeito transcendental, para Kant – que antecedem e, por assim dizer, fundam a história) uma reflexão em cujo cerne está o presente e, portanto, a investigação histórica.

Através de estudos transdisciplinares (e não entre disciplinas, pois trata-se de colocar em questão os limites entre elas), Foucault deu forma a uma crítica filosófica que recorre sobretudo à pesquisa histórica, para questionar as maneiras pelas quais certas verdades e seus efeitos práticos vieram a se formar e se estabelecer no presente.

Questionava assim os sistemas de exclusão criados pelo Ocidende quando do início da época moderna (na cronologia de Foucault, desde fins do século XVIII):

Ø  o saber médico e psiquiátrico – a patologização e a medicalização como formas modernas de dominação sobre seres economica e socialmente inconvenientes, os loucos;

Ø  o nascimento das ciências humanas e da filosofia moderna como saberes que atestam a invenção do conceito de homem, transformando o ser humano, ao mesmo tempo, em sujeito do conhecimento e objeto de saber: o grande dogma da modernidade filosófica;

Ø  a prisão e outras instituições de confinamento (tais como a escola, a fábrica, o quartel) não como um avanço nos sentimentos morais e humanitários, mas como mudança de estratégia do poder, que visa o disciplinamento e a docilização dos corpos;

Ø  a sexualidade como dispositivo histórico de objetivação (o indivíduo como objeto de saber e ponto de aplicação de disciplinas) e subjetivação (o modo segundo o qual o sujeito se reconhece enquanto tal) do corpo, através dos quais se implica uma verdade essencial do homem. Não deixa de ser notável o fato de o Ocidente ter inventado um ritual singular segundo o qual algumas pessoas alugam os ouvidos de outras (os psicanalistas) para falarem de seu sexo.

Às suas pesquisas, ele chamou ontologias do presente: um modo de reflexão, segundo Foucault iniciado por Kant, em que está em jogo o vínculo entre filosofia, história e atualidade. A tarefa de pensar o hoje como diferença na história. Mas se a questão para Kant era a de saber quais limites o conhecimento deve respeitar (os limites da razão), em Foucault a questão se converte no problema de saber quais limites podemos questionar e transgredir na atualidade, isto é, “dizer o que existe, fazendo-o aparecer como podendo não ser como ele é” (2008, p. 325).

Nesse sentido, o filósofo procurava dar visibilidade às partes ocultas que formam o presente e os fragmentos de narrativas que nos constituem lá mesmo onde não há mais identidade, onde o “eu” se encontra fracionado pela história plural que o engendrou. De modo que esse questionamento histórico-filosófico não nos conduz à reafirmação de nossas certezas, de nossas instituições e sistemas, mas ao afastamento crítico dessas instâncias e de si próprio como exercício ético e político. Como indica Deleuze (1992, p. 119): “a história, segundo Foucault, nos cerca e nos delimita; não diz o que somos, mas aquilo de que estamos em vias de diferir; não estabelece nossa identidade, mas a dissipa em proveito do outro que somos”.

A história (não a narrativa histórica ou a escrita da história, mas as condições de existência dos homens no decorrer do tempo, que lhes escapa à consciência), não é da ordem da necessidade; ela diz respeito à liberdade, à invenção; pertence à ordem mais da casualidade do que da causalidade; é feita mais de rupturas e violência do que de continuidades conciliadoras. Esse modo de conceber a história se opõe à imagem tranquila que a narrativa histórica tradicional criou: a história do homem como a manifestação de um progresso inevitável – o lento processo de realização de uma utopia –, que seria alcançado após o iluminismo pela aplicação dos métodos racionais. Como se a ciência, o pensamento e a vida estivessem continuamente mais próximos de verdades que aos poucos são reveladas como o destino final do homem.

Se os estudos de Foucault mostram que os seres humanos não dominam os acontecimentos que constituem o solo de suas experiências, eles atestam ao mesmo tempo que, no espaço limitado do presente, as pessoas dispõem da possibilidade de questionar o que muitas narrativas apresentam como necessário, assim como as formas de poder e dominação que se pretendem absolutas.
 
Os procedimentos de Foucault postulam, tal como Nietzsche descobrira no final do século XIX, que é possível fazer uma história de tudo aquilo que nos cerca e nos parece essencial e sem história – os sentimentos, a moral, a verdade etc. Essa descoberta indica que, mesmo esses elementos aparentemente universais ou imunes à passagem do tempo, se dão como contingências históricas, como coisas que foram criadas em um dado momento, em circunstâncias precisas.

Trata-se, assim, para Foucault, de pensar a história de determinadas problematizações: a história de como certas coisas se tornam problemas para o pensamento, dignas de serem pensadas por um ou outro domínio do saber e, através de formas de racionalização específicas, verdades são fabricadas. De maneira que suas pesquisas mostram que nossas evidências são frágeis e nossas verdades, recentes e provisórias.

http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/para-compreender-michael-foucault-9711.html
 
 

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Michel Foucault (1926-1984)


 
 
Esquematizado por: Claudio Fernando Ramos, em 16/09/2015. Cacau ":¬)
 
PRINCIPAIS OBRAS:

 Ø  Arqueologia do Saber

Ø  História da Loucura na era Clássica

Ø  As palavras e as Coisas

Ø  Vigiar e Punir 

Ø  História da Sexualidade

Ø  Microfísica do Poder

 INTRODUÇÃO

 - Utilizou um método de investigação histórica e filosófica.

 - Analisou as mudanças de comportamentos desde o início da modernidade; mudanças, sobre tudo, nas instituições prisionais e hospícios.

 - Refletiu sobre as condições do nascimento da psiquiatria.

 - Avaliou a loucura, a disciplina e a sexualidade, enquanto ideias construídas historicamente, a partir do século XVI.

 - Afirmou que há um forte nexo entre o saber e o poder.

 VERDADE E PODER

 - De acordo com a tradição: o saber antecede o poder; primeiro busca-se a verdade essencial, da qual decorre a ação.

 - Para Foucault o saber não se encontra separado do poder.

 - O poder é quem gera o que usualmente se considera como verdadeiro.

 CONCEPÇÕES: ARQUEOLOGIA E GENEALÓGICA

 Ø  Arqueológico – Esse processo identifica, em um determinado período, quais são as maneiras de pensar e certas regras de conduta que constituem um “sistema de pensamento”.

Ø  Genealógico – É uma tática posterior ao processo arqueológico, completando a investigação, na tentativa de explicar as mudanças ocorridas, para saber como a verdade foi “produzida” no âmbito das relações de poder.

 AS INSTITUIÇÕES FECHADAS

 - O conhecimento psiquiátrico não “existe” (constituição) para que se entenda o que é a loucura em si; mas sim, como instrumento de poder que propicia a dominação do louco e o seu consequente confinamento em instituições fechadas.

 - Crítica à tática de exclusão, onde os “diferentes”  (loucos, mendigos e criminosos) são tratados em separado. A exclusão separa:

 Ø  os loucos dos não loucos.

Ø  os perigosos dos inofensivos.

Ø  os normais dos anormais.

 ASCENSÃO DA BURGUESIA

 - Ao se constituir em classe hegemônica a burguesia precisou de uma disciplina que excluísse os “incapazes” e “inúteis para o trabalho” (loucos, vagabundos e mendigos).

 - Com o desenvolvimento do processo de produção industrial,  se criou também novos mecanismos de controle bem mais eficazes, esses mecanismos têm a finalidade de

 Ø  tornar os corpos dóceis (bons para serem controlados);

Ø  os comportamentos adequados (mais consumidores do que cidadãos);

Ø  os sentimentos coerentes ao novo modo de produção (Deus ajuda quem trabalha, tempo é dinheiro, etc.).

 A SOCIEDADE DISCIPLINAR
(Das Naus aos Hospícios)

 - A extensão progressiva dos dispositivos de disciplina ao longo dos séculos (modernidade) e sua multiplicação no corpo social configuram o que se chama “sociedade disciplinar”.

 - No passado renascentista havia as “naus dos loucos” ou “nau dos insensatos”, transportados para lugares distantes ou deixados à deriva, esse tipo de perversão social assombrava a imaginação das pessoas.

 - Na modernidade a loucura foi reduzida ao silêncio para não comprometer a relação entre a subjetividade e a verdade.

 - A nau transforma-se em hospícios - Além de expulsa por conta de uma razão dominadora (ver Razão Instrumental da Escola de Frankfurt), a loucura passa a ser vista como doença e a ser controlada em instituições fechadas.

 - Nos séculos XVII e XVIII, os processos disciplinares assumiram a formula geral de dominação exercida em diversos espaços:

 Ø  Hospitais e Hospícios

Ø  Colégios e Organização Militar

Ø  Oficinas  e Famílias

Ø  Medicalização da sexualidade

 - Com um olhar onipresente, o Estado e suas instituições sociais se encarregam de manter o controle do:

 Ø  Do tempo.

Ø  Do espaço.

Ø  Dos movimentos.

 O PODER: UM EXERCÍCIO, NÃO UMA POSSE

 - Na obra “Microfísica do Poder” Foucault identifica que o poder não se exerce de um ponto central como qualquer instância do Estado, mas se encontra disseminado em uma rede de instituições disciplinares.

 - São as próprias pessoas em suas relações recíprocas (pai, professor, médico e etc.) que fazem o poder “circular”.

 - Cabe a Genealogia do Saber (Nietzsche) investigar como e por que esses discursos se constituíram, que poderes estão na origem deles, ou seja, como o poder produz o saber (ver o inverso com Francis Bacon).

 PANOPTICON
(Aquele(s) que tudo vê(em))
 
 

 - A reflexão de Foucault passa pelo projeto do jurista Jeremy Bentham (1748-1832) que fez um projeto denominado Panopticon (literalmente, “ver tudo”). O jurista imaginava uma construção de vidro, em anel, para alojar loucos, doentes, prisioneiros, estudantes ou operários. Controlados por uma torre central com absoluta visibilidade.

- O resultado é a interiorização do olhar que vigia, de modo que cada um não perceba a própria sujeição.

 O CONTROLE DA SEXUALIDADE
(Sob a égide dos especialistas)

 - Na obra História da sexualidade, Foucault destaca que na contemporaneidade fala-se muito de sexualidade, sobre tudo para proibi-la.

 - Os especialistas, sobre tudo os da área das exatas, são céleres em apresentarem padrões sobre:

 Ø  O que é normal e o que é patológico.

Ø  Classificações de tipos de comportamentos.

 - Ao “competente especialista” cabe a última palavra sobre as coisas que importam. Através desse expediente “vigia-se” e “controla-se” as ações fundamentais:

 Ø  Estudo.

Ø  Sexo.

Ø  Trabalho.

Ø  Relacionamentos.

Ø  Religião.

 - Desse modo o discurso científico naturaliza tudo, ou seja, as coisas são apenas naturais, não culturais também; com isso tudo se reduz a uma visão “biologizante”.

- As mulheres durante muito tempo viveram (algumas ainda assim vivem) presas a essa biologização da existência:

Ø  Esposa exemplar, geradora de filhos, mãe zelosa, rainha do lar, objeto de desejo masculino.

- Segundo Foucault, a partir de 1870 os psiquiatras começaram a constituir a homossexualidade como objeto de análise médica. Tornando-se, a partir daí, ponto de partida de uma série de intervenções e de controles novos. Algumas dessas intervenções foram:

Ø  Na medida em que eram visto como pervertidos e libertinos sexuais - às vezes também como delinquentes, algumas punições eram bastante severas (algumas poucas vezes o fogo).

Ø  Arrolados em uma espécie de parentesco global com os loucos e os doentes (tentativa da cura gay).

CONCLUSÃO
(Os micropoderes)

- Para Foucault a noção de verdade encontra-se ligada a prática de poder disseminadas no tecido social (os micropoderes).

- Esse poder não é exercido pela violência aparente nem pela força física, mas pelo adestramento do corpo e do comportamento.

 - O adestramento  do corpo e do comportamento possibilita o “fabrico” de indivíduos normatizados:

 Ø  O tipo de trabalhador adequado para a sociedade industrial capitalista.

 Bibliografia:
Aranha, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia com textos: temas e história da filosofia. São Paulo: Moderna 2012. p. 483-486.

 Exercício

 

“Máquina a vapor para a rápida correção das meninas e dos meninos. Avisamos aos pais e mães, tios, tias, tutores, tutoras, diretores e diretoras de internatos e, de modo geral, todas as pessoas que tenham crianças preguiçosas, gulosas, indóceis, desobedientes, briguentas, mexeriqueiras, faladoras, sem religião ou que tenham qualquer outro defeito, que o senhor Bicho-Papão e a senhora Tralha-Velha acabaram de colocar em cada distrito da cidade de Paris uma máquina semelhante à representada nesta gravura e recebem diariamente em seus estabelecimentos, de meio dia às duas horas, crianças que precisam ser corrigidas. (…)”
(Imagem e texto retirados do livro Vigiar e Punir, de Michel Foucault)

 Com base no que foi exposto acima, podemos afirmar que
I) Foucault foi extremamente influenciado por Nietzsche no que tange ao seu método genealógico de análise da história e das práticas sociais.
II) Foucault declara que o melhor método para se educar uma criança é aquele baseado no medo e na coerção.
III) Foucault compila a sua própria história sobre as práticas soberanas e disciplinares na medida em que não faz uma análise contínua e progressiva dos poderes e técnicas que surgem e desaparecem na sociedade.
IV) a intenção de Foucault não era a de mostrar a relação entre verdade, poder, saber e as instituições sociais.

Marque a alternativa correta.
A) Somente a alternativa III está correta.
B) As alternativas II e IV estão corretas.
C) As alternativas I e II estão corretas.
D) As alternativas I e III estão corretas.
E) NDO

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

David Hume (1711 - 1776)




“Em cada solução encontramos uma nova pergunta.”

 - Hume pretende aplicar o método de raciocínio experimental para entender melhor a natureza humana

- Usar um método científico, que era usado basicamente para entender os objetos, para interpretar também as pessoas, criando assim a ciência do homem.

- O filósofo acreditava que se explicarmos:

v  o que;

v  como são as pessoas;

v  qual a essência da natureza humana; explicaremos também todas as outras ciências.

- Isso acontece porque todas as ciências, como a matemática e a física, estão relacionadas diretamente com as pessoas, pois a própria razão, que é o fundamento da matemática e da física, faz parte da natureza humana.

DAS SENSAÇÕES AS IDEIAS

- Tudo o que temos em nossa mente é resultado das nossas sensações.

- Nossas ideias são percepções, mas existem diferenças entre o sentir e o pensar:

v  o sentir está relacionado às nossas sensações mais vivas, mais recentes e que nos marcam mais.

v  o pensar está relacionado às ideias, que é uma percepção mais fraca.

A ORIGEM DAS IDEIAS
“Nada é mais livre que a nossa imaginação.”

v  as ideias são como imagens que com o tempo vão perdendo cor e definição.

v  as ideias dependem das sensações, nós só temos ideias de algo depois de percebermos esse algo.

v  não existem ideias inatas, ideias que nascem com as pessoas.

MEMÓRIA E IMAGINAÇÃO
“As pessoas reclamam da falta de memória, mas não da falta de entendimento.”

- As ideias simples que temos através das sensações podem se relacionar e se transformar em ideias complexas através da memória e da imaginação.

- As ideias simples se associam em ideias complexas principalmente através:

·         da semelhança;

·         da proximidade no espaço e no tempo;

·         da relação de causa e efeito.

EXEMPLOS I

Ø  Quando olhamos uma fotografia lembramos uma pessoa, pois a imagem da fotografia é semelhante à pessoa.

Ø  Quando pensamos em comida podemos pensar logo depois em geladeira, supermercado ou restaurante, pois geralmente a comida está próxima destes lugares.

Ø  Quando pensamos em gol pensamos em alguém que chutou uma bola, pois o chutar a bola é a causa e o gol o efeito.

RELAÇÕES DE CAUSALIDADE
“A natureza é sempre maior que a teoria.”

- A relação de causa e efeito não pode ser conhecida a priori, pois ela depende da experiência.

- Nenhuma pessoa quando for posta frente a um objeto do qual não conhece absolutamente nada vai poder raciocinar sobre ele, para que isso aconteça essa pessoa vai ter que experimentar o objeto e descobrir quais são suas causas e efeitos para somente depois poder criar sobre ele ideias e conceitos.

A FORÇA DO HÁBITO
“O hábito é o nosso grande guia.”

- Quando observamos algo repetidamente temos a tendência a acreditar que esse algo vai acontecer sempre, essa tendência torna-se um hábito.

- Através do hábito nós estabelecemos relação entre os fatos, mas isso não quer dizer que essa relação é necessária.

- Não é porque sempre vimos o sol se levantar toda manhã que necessariamente ele se levantará amanhã.

- Para Hume essa relação de necessidade existe nos eventos práticos da nossa vida, mas não existe como uma justificação racional e filosófica.

- O filósofo acredita que o que chamamos de experiência e realidade nada mais é do que um conjunto de ideias e sensações, mas não existe algo que una essas percepções.

SOBRE A PERENIDADE DO SER
“O gênio está próximo do louco.”

- Não existe:

v  uma subjetividade constante;

v  não existe um eu contínuo;

v  autoconsciente;

v  idêntico.

- Não existe um princípio de identidade permanente onde cada um de nós pode dizer esse sou eu.

- Nós somos algo parecido com um teatro móvel e anônimo onde são representadas sensações e ideias.

A MORAL
“Seja filósofo, mas não se esqueça de ser homem.”

- A moral é derivada mais dos sentimentos do que da razão.

- A razão pode até apoiar a moral com algumas orientações, mas o fundamento da moral são mesmo os sentimentos e especificamente os sentimentos de:

v  dor (vício);

v  prazer (virtude).

- A virtude provoca prazer e o vício a dor.

EXEMPLO II

Ø  Quando estamos diante de uma pessoa virtuosa sentimos um prazer característico, e o contrário acontece quando estamos diante de alguém com vícios.

Ø  A virtude nos provoca o elogio, e o vício a censura.

MORAL E RELIGIÃO
“A ignorância é a mãe da devoção.”

- A moral não é o fundamento da religião.

- A religião não fundamenta nem é fundamentada pela razão ou pela ética.

- A religião:

v  nasce do instinto;

v  e os deuses surgem por causa do medo que temos da morte;

v  e as crenças surgem da nossa inquietação com o nosso fim;  

v  determina, em grande medida, a nossa existência antes da morte.

SENTENÇAS:

- A beleza não está no objeto, mas na mente do observador.

- Afirmações extraordinárias exigem provas extraordinárias.

- O auto-domínio da mente é limitado da mesma forma que o domínio do corpo.

- O homem é o maior inimigo do homem.

- O trabalho e a pobreza são o destino da maioria.

- A razão é escrava das paixões.

- Um milagre é a violação das leis da natureza.

- Um erro é a mãe de outro.
 
EXERCÍCIOS
1. “Embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificaremos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência.”
(HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. Trad. de Anoar Aiex. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 36. Coleção Os Pensadores.)
De acordo com o texto, é correto afirmar que, para Hume:
a) os sentidos e a experiência estão confinados dentro de limites muito reduzidos.
b) todo conhecimento depende dos materiais fornecidos pelos sentidos e pela experiência.
c) o espírito pode conhecer as coisas sem a colaboração dos sentidos e da experiência.
d) a possibilidade de conhecimento é determinada pela liberdade ilimitada do pensamento.
e) para formar as idéias, o pensamento descarta os materiais fornecidos pelos sentidos.
2. “Para Hume, portanto, a causalidade resulta apenas de uma regularidade ou repetição em nossa experiência de uma conjunção constante entre fenômenos que, por força do hábito acabamos por projetar na realidade, tratando-a como se fosse algo existente. É nesse sentido que pode ser dito que a causalidade é uma forma nossa de perceber o real, uma idéia derivada da reflexão sobre as operações de nossa própria mente, e não uma conexão necessária entre causa e efeito, uma característica do mundo natural.”
(MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. p. 183.)
De acordo com o texto e os conhecimentos sobre causalidade em Hume, é correto afirmar que
a) a experiência prova que a causalidade é uma característica do mundo natural.
b) o conhecimento das relações de causa e efeito decorre da experiência e do hábito.
c) a simples observação de um fenômeno possibilita a inferência de suas causas e efeitos.
d) é impossível obter conhecimento sobre a relação de causa e efeito entre os fenômenos.
e) o conhecimento sobre as relações de causa e efeito independe da experiência.