sábado, 31 de janeiro de 2015

HUMANISMO, RENASCIMENTO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

Disponível em: http://educacao.globo.com/historia/assunto/modernidade-na-europa/humanismo-renascimento-e-revolucao-cientifica.html


Vênus
HUMANISMO
No final da Idade Média a estrutura feudal, desgastada, começou a dar lugar a uma nova ordem social, econômica, política e cultural. Todas essas transformações trouxeram mudanças no modo de pensar de muitas pessoas, principalmente as mais ricas que residiam nas grandes cidades. Nesse contexto desenvolveram-se movimentos de caráter intelectual, científico e artístico, veremos três deles a seguir.

HUMANISMO
O humanismo foi um movimento artístico e intelectual surgido na Itália no século XIV e que valorizou a Antiguidade Clássica. Para os humanistas o homem era a medida de todas as coisas e estava no centro do universo (antropocentrismo). Assim, consideravam o homem não só uma criatura espectadora da obra de Deus, mas, dotado de razão, era autor de grandes realizações. Essa visão contrariava a Igreja que via o homem marcado pelo pecado e dependente da fé para a salvação da alma. Entretanto, os humanistas buscavam o equilíbrio entre os autores pagãos da Antiguidade e os ensinamentos cristãos da Bíblia.
Inspirados pelos humanistas, artistas italianos iniciaram um movimento cultural conhecido como Renascimento. O grande interesse dos renascentistas era recuperar elementos da cultura greco-romana para os seus dias.

RENASCIMENTO
O Renascimento teve seu início na Itália, pois lá se encontrava uma série de condições favoráveis, como: a ação mecenas (pessoas com boas condições financeiras que patrocinavam os artistas); a presença de vários intelectuais bizantinos que fugiram para a Itália após a queda de Constantinopla em 1453; inúmeros elementos preservados da Antiguidade; o acúmulo de riquezas de algumas cidades que foi utilizado nas artes.
Com o Renascimento houve também um aumento na qualidade e quantidade das obras produzidas, contribuíram para essa expansão o desenvolvimento da imprensa por Johann Gutenberg e a ação dos mecenas. Mas, mesmo com o grande número de obras produzidas, o Renascimento apresentou características comuns como a diversificação dos temas das obras (antes monopolizados pela Igreja) e o desenvolvimento de novas técnicas como a pintura a óleo e a perspectiva, que permitia a percepção de volume e profundidade. Destacaram-se artistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Shakespeare, Luís de Camões, Miguel de Cervantes, entre outros.

REVOLUÇÃO CIENTÍFICA
O humanismo e o renascimento também influenciaram as mentes de cientistas e pesquisadores da época, dando início ao chamado Renascimento Científico. Este movimento surgiu para questionar as conclusões prontas, desenvolvidas por sábios da Antiguidade e absorvidas por teólogos cristãos. Os novos cientistas, valorizando a razão, apresentavam uma atitude crítica que os fazia observar os fenômenos naturais, realizar experiências, formular hipóteses e buscar sua comprovação. Claro que essa nova mentalidade científica enfrentou resistências principalmente da Igreja, presa às tradições medievais.
Alguns eventos merecem destaque, como o trabalho de Miguel de Servet, médico e teólogo espanhol que descobriu o funcionamento da circulação sanguínea dissecando cadáveres. Mas essa prática foi condenada pelos cristãos e Servet acabou morto na fogueira, na Suíça, pelo governo de Calvino. Nicolau Copérnico, sacerdote católico e astrônomo, desenvolveu uma das mais importantes teorias científicas da sua época, o heliocentrismo (diz que a Terra e os demais planetas se movimentam ao redor do Sol), que se contrapôs à teoria geocêntrica (afirmava que o Sol e os planetas se movimentavam ao redor da Terra). Despertou severas críticas, principalmente de religiosos.
Vários cientistas foram igualmente importantes como Galileu Galilei, astrônomo italiano que aprofundou os estudos de Copérnico; Johannes Kepler, discorrendo sobre os eclipses lunar e solar; Francis Bacon, criador do “método científico”; René Descartes, “pai do racionalismo”; Isaac Newton, “pai da física e da mecânica modernas”. O humanismo, o renascimento e a revolução científica do século XVII mudaram o mundo para sempre, desenvolvendo uma nova mentalidade, crítica, racional e ativa diante da passividade e tradicionalismo remanescentes do medievalismo. A partir desse momento, as transformações no mundo começariam a se acelerar e as estruturas político-sociais a sofrer forte abalo.

VÍDEOS AULAS

AULA 1: Michel Montaigne https://www.youtube.com/watch?v=2KnV1f03a8A

AULA 2: Eramos de Rotterdamhttps://www.youtube.com/watch?v=iP7MUYTOXKw

AULA 3: Tomás Morushttps://www.youtube.com/watch?v=14F7_ll553s


CAIU NO ENEM
(Enem 2011) Acompanhando a intenção da burguesia renascentista de ampliar seu domínio sobre a natureza e sobre o espaço geográfico, através da pesquisa científica e da invenção tecnológica, os cientistas também iriam se atirar nessa aventura, tentando conquistar a forma, o movimento, o espaço, a luz, a cor e mesmo a expressão e o sentimento.
SEVCENKO, N. O Renascimento. Campinas: Unicamp, 1984.

O texto apresenta um espírito de época que afetou também a produção artística, marcada pela constante relação entre
a) fé e misticismo.
b) ciência e arte. 
c) cultura e comércio.
d) política e economia.
e) astronomia e religião.
    

Gabarito: A resposta correta é a letra B. A expressão “renascentista” nos remete a um momento em que uma nova mentalidade desenvolvia-se em paralelo com a expansão da burguesia e do comércio. Ao resgatar valores greco-romanos, artistas, intelectuais e cientistas, se contrapunham com a visão medieval ainda predominante na sociedade, estimulando a reflexão e o senso crítico, com novas descobertas científicas, assim como uma nova arte, que refletia não apenas a adoção de novas técnicas, mas a valorização do ser humano e de sua vida cotidiana. 

Escola de Frankfurt: Crítica à sociedade de comunicação de massa

Disponível em:http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/escola-de-frankfurt-critica-a-sociedade-de-comunicacao-de-massa.htm

Filosofia Social



Qual é a influência de meios de comunicação de massa, como a TV, sobre uma sociedade? Como as pessoas são mobilizadas a acompanharem um noticiário como se estivessem assistindo a uma telenovela, como ocorreu no recente caso da morte da menina Isabella? Os primeiros filósofos que detectarem a dissolução das fronteiras entre informação, consumo, entretenimento e política, ocasionada pela mídia, bem como seus efeitos nocivos na formação crítica de uma sociedade, foram os pensadores da Escola de Frankfurt.

Max Horkheimer
 (1895-1973);

Theodor W. Adorno (1903-1969), são os principais representantes da escola, fundada em 1924 na Universidade de Frankfurt, na Alemanha. 

No local, um conjunto de teóricos, entre eles: 
Walter Benjamin (1892-1940); 
Jürgen Habermas (1929); 
Herbert Marcuse (1898-1979); 
Erich Fromm(1900-1980), 
desenvolveram estudos de orientação marxista.

Os estudos dos filósofos de Frankfurt ficaram conhecidos como Teoria Crítica, que se contrapõe à Teoria Tradicional. A diferença é que enquanto a tradicional é "neutra" em seu uso, a crítica busca analisar as condições sociopolíticas e econômicas de sua aplicação, visando à transformação da realidade. Um exemplo de como isso funciona é a análise dos meios de comunicação caracterizados como indústria cultural.


Indústria cultural
Em um texto clássico escrito em 1947, "Dialética do Iluminismo", Adorno e Horkheimer definiram indústria cultural como um sistema político e econômico que tem por finalidade produzir bens de cultura - filmes, livros, música popular, programas de TV etc. - como mercadorias e como estratégia de controle social.
A ideia é a seguinte: os meios de comunicação de massa, como TV, rádio, jornais e portais da Internet, são propriedades de algumas empresas, que possuem interesse em obter lucros e manter o sistema econômico vigente que as permitem continuarem lucrando. Portanto, vendem-se filmes e seriados norte-americanos, músicas (funk, pagode, sertaneja etc) e novelas não como bens artísticos ou culturais, mas como produtos de consumo que, neste aspecto, em nada se diferenciariam de sapatos ou sabão em pó. Com isso, ao invés de contribuírem para formar cidadãos críticos, manteriam as pessoas "alienadas" da realidade.

Como afirmam no texto: "Filmes e rádio não têm mais necessidade de serem empacotados como arte. A verdade, cujo nome real é negócio, serve-lhes de ideologia. Esta deverá legitimar os refugos que de propósito produzem. Filme e rádio se autodefinem como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores-gerais tiram qualquer dúvida sobre a necessidade social de seus produtos."

Para Adorno, os receptores das mensagens dos meios de comunicação seriam vítimas dessa indústria. Eles teriam o gosto padronizado e seriam induzidos a consumir produtos de baixa qualidade. Por essa razão, indústria cultural substitui o termo cultura de massa, pois não se trata de uma cultura popular representada em novelas da Rede Globo, por exemplo, mas de uma ideologia imposta às pessoas.

Dominação política
E como a indústria cultural torna-se mecanismo de dominação política? Adorno e Horkheimer vislumbraram os meios de comunicação de massa como uma perversão dos ideais iluministas do século 18. Para o Iluminismo, o progresso da razão e da tecnologia iria libertar o homem das crenças mitológicas e superstições, resultando numa sociedade mais livre e democrática.

Mas os pensadores da Escola de Frankfurt, que eram judeus, se viram alvos da campanha nazista com a chegada de Hitler ao poder nos anos 30, na Alemanha. Com apoio de uma máquina de propaganda que pela primeira vez usou em larga escala os meios de comunicação como instrumentos ideológicos, o nazismo era uma prova de como a racionalidade técnica, que no Iluminismo serviria para libertar o homem, estava escravizando o indivíduo na sociedade moderna.

Nas mãos de um poder econômico e político, a tecnologia e a ciência seriam empregadas para impedir que as pessoas tomassem consciência de suas condições de desigualdade. Um trabalhador que em seu horário de lazer deveria ler bons livros, ir ao teatro ou a concertos musicais, tornando-se uma pessoa mais culta, questionadora e engajada politicamente, chega em casa e senta-se à frente da TV para esquecer seus problemas, absorvendo a mesmos valores que predominam em sua rotina de trabalho. É desta forma que a indústria cultural exerceria controle sobre a massa. Como resultado, ao invés de cidadãos conscientes, teríamos apenas consumidores passivos.

Totalitarismo eletrônico
Posteriormente, entre os anos 70 e 80, os frankfurtianos foram muito criticados por uma visão reducionista dos receptores, graças a pesquisas que demonstraram que as pessoas não são tão manipuláveis quanto Adorno pensava na época. Além disso, nem toda produção cultural se resume à indústria. Nas histórias em quadrinhos, por exemplo, temos Disney e Maurício de Souza, mas temos também quadrinhos alternativos e autorais.

Apesar disso, Adorno e Horkheimer tiveram o mérito de serem os precursores da denúncia de um "totalitarismo eletrônico", em que diversão e assuntos importantes são "mixados" num só produto; em que representantes políticos são escolhidos como se fossem sabonetes. Neste sentido, a crítica permanece atual.


Vídeo aula
https://www.youtube.com/watch?v=yJIF3QldGKk

Filosofia Social: os Gregos e a Democracia




"A era de Péricles" Phillipp von Foltz 1853
Discurso de Péricles sobre a democracia ateniense 
Homenagem aos guerreiros mortos na primeira batalha da guerra do Peloponeso

Era costume dos atenienses escolher alguém de sabedoria comprovada e reputação eminente para proferir um discurso fúnebre em homenagem aos mortos na guerra, após o seu sepultamento. Péricles, o grande general que comandou Atenas na guerra contra Esparta e reconhecido pela sua habilidade oratória, foi o escolhido para homenagear os guerreiros mortos na primeira batalha da guerra do Peloponeso. 
Na ocasião, em 431 a.C., o general fez o elogio de Atenas e sua democracia, indicando assim que eles haviam morrido por uma causa nobre. Na época, Atenas vivia o ápice da democracia e o discurso, além de ser um dos maiores clássicos da oratória política, é também uma perene exaltação deste sistema de governo. O discurso tornou-se, ao longo da história, um modelo adotado por oradores políticos para enaltecer o orgulho dos integrantes de uma comunidade - nação, cidade, instituição -, exaltando as virtudes e qualidades que a tornam superior ética e politicamente na comparação com outras. Procedendo desta forma, o político demonstra sua capacidade de "entender o espírito" da sua comunidade, estabelece uma profunda "comunhão de sentimentos" com seus ouvintes e identifica sua imagem e sua pessoa com aquelas virtudes que são por todos admiradas. O discurso de posse de Kennedy, em 1960, é um exemplo típico do uso desta estrutura de discurso nos tempos modernos. 

O Discurso 

"Nossos homens públicos, além da política, possuem atividades privadas, e nossos cidadãos, ainda que ocupados nos seus negócios, são julgadores sensatos das questões públicas. Mas qual foi a estrada que nos levou a atingir esta posição, qual a forma de governo sob a qual nossa grandeza desenvolveu-se, quais os hábitos nacionais que a geraram; estas são as perguntas que eu vou tentar responder antes de fazer o meu panegírico destes homens. Nossa constituição não copia as leis de outros estados; nós somos um modelo para os outros e não imitadores. Nossa administração favorece aos 'muitos' ao invés dos 'poucos' e é por isso que é chamada de democracia. Se olharmos as nossas leis, elas asseguram justiça igual para todos nos seus litígios privados; o progresso na vida pública depende da reputação, de capacidade e as considerações sobre classes não podem interferir com o mérito; se um homem é capaz de bem servir ao Estado ele não é impedido pela obscuridade de sua condição. A liberdade que gozamos no nosso sistema de governo estende-se também para a nossa vida em sociedade. Nós não exercemos uma invejosa espionagem uns sobre os outros (...) embora toda esta liberalidade nas relações privadas não nos torne cidadãos que não respeitam as leis. Este temor (desobediência às leis) é a nossa principal salvaguarda. Ele nos ensina a obedecer aos magistrados e às leis, tanto as que estão impressas em documentos, como as que integram aquele código que, embora não seja escrito, não pode ser quebrado sem causar conhecidas desgraças (lei natural). Além disso, nós nos proporcionamos meios em abundância para aliviar nossas mentes dos negócios e trabalhos. Celebramos jogos e sacrifícios durante todo o ano (...) ao mesmo tempo em que a importância de nossa cidade atrai a produção do mundo para nossos portos, de tal forma que, para o ateniense, os frutos de outros povos são luxos tão familiares quanto os que produzimos. Nossa política em matéria militar também difere da de nossos antagonistas. Nós mantemos nossa cidade aberta para o mundo e nunca excluímos os estrangeiros da oportunidade de aprender e de nos observar, ainda que os olhos de um inimigo possam beneficiar-se ocasionalmente de nossa liberalidade. Na educação, enquanto nossos rivais são treinados desde o berço para a guerra, em Atenas vivemos exatamente como queremos, e, assim mesmo, estamos preparados sempre para enfrentar qualquer desafio. Mas não são apenas estes os pontos em que nossa cidade é merecedora de admiração. Nós cultivamos o refinamento sem extravagância e a sensibilidade sem efeminação; a riqueza, preferimos empregar para o uso e não para exibição. Nossos homens públicos, além da política, possuem atividades privadas, e nossos cidadãos, ainda que ocupados nos seus negócios, são julgadores sensatos das questões públicas. Diferentemente de qualquer outra nação, nós não consideramos o cidadão que não participa das questões públicas como uma pessoa sem ambições e sim como um inútil. Nós Atenienses somos capazes de opinar sobre todos os temas, e, ao invés de encararmos as discussões como um obstáculo para a ação, nós as consideramos como a preliminar indispensável para qualquer ação prudente e sábia. Na generosidade também somos singulares. As amizades nós conquistamos fazendo favores e não os recebendo, e somente nós os atenienses, sem medo, outorgamos benefícios não por interesse e sim na expectativa da reciprocidade. Esta é a Atenas pela qual estes homens, na afirmação do seu desejo de não perdê-la, nobremente lutaram e morreram."

Disponível em: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=1124. Consultado em 31/01/2015.

Grécia Antiga, berço da cultura ocidental.

Nenhum povo do mundo antigo contribuiu tanto para a riqueza e a compreensão da Política, no seu sentido mais amplo, como o fizeram os gregos de outrora. Os nomes de Sócrates, Platão e Aristóteles, no campo da teoria, de Péricles e de Demóstenes na arte da oratória, estão presentes em qualquer estudo erudito que se faça a respeito e mesmo nos mais singelos manuais de divulgação.
Entendiam-na - a política - como uma ciência superior, determinante de qualquer organização social e com inquestionáveis reflexos sobre a vida dos indivíduos. Para Aristóteles era a arte de governar a cidade-estado (pólis). Por não conviverem com estados-nacionais, mas sim com organizações menores, as cidades, para os gregos, tornaram-se o objeto da sua maior atenção. Como nenhum outro povo, interessaram-se pela administração da coisa pública,
envolvendo-se nos intensos e acalorados debates políticos que afetavam a comunidade, manifestando extraordinária consciência sobre a importância e o significado da palavra eleutéria , entendida como liberdade e independência da cidade em relação a qualquer outro poder vindo de fora - num mundo cercado pelo despotismo e pela tirania. A sua contribuição não se confinou somente ao teórico, pois também legaram os grandes discursos de Demóstenes e de Ésquines que imortalizaram a oratória voltada para a ação...

A DEMOCRACIA


Demóstenes (384-322 a.C.) e seu rival Ésquines (389-314 a.C.).

As origens da democracia    


Harmódio e Aristógiton, os tiranicidas, considerados heróis da democracia.


Atenas, a mais próspera das cidades-estados da Grécia Ocidental, no decorrer do século IV a.C., estava sendo governada por um regime tirânico. Em 560 a.C. Pisístrato, um líder popular, havia tomado o poder por meio de um astucioso estratagema, tornando-se o homem-forte da pólis. Apesar da ilegalidade da sua ascensão, isso não o impediu de fazer uma administração que muito impulsionou a prosperidade e o bem-estar da capital da Ática. Seus filhos, Hípias e Hiparco, que o sucederam em 527 a. C., não tiveram o talento paterno para manter a fidelidade dos cidadãos. Em 514 a.C., Hiparco foi morto por dois jovens, Armódio e Aristógiton, que passaram a ser venerados como os tiranicidas. Sentindo a perda do prestígio do regime, Hípias fugiu de Atenas, refugiando-se num protetorado persa. A queda da tirania abriu caminho para que os dois partidos tradicionais da cidade, o dos ricos, chefiado por Iságoras, e o dos populares, liderado por Clístenes, passassem a disputar o controle de Atenas. Iságoras, apoiado pelo rei espartano Cleômenes, conseguiu desterrar Clístenes. 
Mas o povo se sublevou e conseguiu trazer o líder de volta, dando-lhe plenos poderes para elaborar uma nova constituição. A tirania havia perseguido os partidários da aristocracia, enfraquecendo a nobreza urbana, criando-se assim as condições para a implantação de um regime novo. A monarquia, por sua vez, já fora abolida há muitos séculos e o título de rei (basileus) era mantido apenas por tradição. O regime oligárquico, por seu lado, também sucumbira à tirania de Pisístrato. Abriam-se as portas, depois da expulsão do descendente do tirano, para uma experiência inédita: o regime governado diretamente pelo povo, a democracia.

Tucídides, historiador que registrou o discurso de Péricles.

A constituição democrática

Com poderes delegados pelo povo como nomotheta, Clístenes implementou uma profunda reforma política que tinha como objetivo deslocar o poder das mãos dos nobres para as dos demos, palavra que significava não apenas povo, como também os bairros e comunidades habitados.
A antiga divisão política da cidade de Atenas estava baseada nas quatro tribos (filiai) formadoras originais da região, denominadas de guerreiros (Hoples), cultivadores (Geleôn), pastores (Aegicoros) e artesãos (Argadês), todas filhas de um mítico antepassado, Ion (daí vem a palavra jônico, que denomina o povo que habitava Atenas e as regiões vizinhas). Cada uma delas era chefiada por um patriarca, o filobasileus, que mantinha uma relação de domínio sobre seus integrantes, favorecia os membros da nobreza, os quais integravam o sistema das tribos e exerciam sua autoridade baseada na tradição.
Deuses da pólis

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Clístenes, em 502 a.C., desativou a divisão por tribos e reestruturou a cidade em uma outra, baseada em 10 demos que estavam distribuídos pelo interior, na cidade e no litoral. Considerava-se cidadão (thetes) qualquer ateniense maior de 18 anos que tivesse prestado serviço militar e que fosse homem livre. Da reforma em diante, os homens da cidade não usariam mais o nome da família, mas, sim, o do demos a que pertenciam. Manifestariam sua fidelidade não mais à família (gens) em que haviam nascido, mas à comunidade (demói) em que viviam, transferindo sua afeição de uma instância menor para uma maior. O objetivo do sistema era a participação de todos nos assuntos públicos, determinando que a representação popular se fizesse não por eleição, mas por sorteio.

A crítica à democracia

Esse foi um dos aspectos da democracia ateniense que mais crítica sofreu por parte dos filósofos, especialmente de Sócrates e Platão. Eles não aceitavam que a nave do estado fosse conduzida aleatoriamente, ao sabor do acaso. Platão afirmava que adotar esse costume era o mesmo que realizar um sorteio entre os marinheiros, num mar escalpelado, para ver qual deles deveria ser o piloto a conduzir o timão para levar o barco a um porto seguro. Parecia-lhe evidente que se exigisse que mesmo as tarefas comuns fossem assumidas por profissionais, hoje diríamos técnicos; o estado só poderia ser dirigido por especialistas, pelos filósofos ou pelo rei-filósofo, como logo abaixo será exposto. O questionamento dele tornou-se, desde então, um tema clássico no debate político sobre quem deve reger o estado, a maioria ou somente os técnicos?


A família, núcleo das instituições.

A igualdade
Ágora grega

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A base da democracia é a igualdade de todos os cidadãos. Igualdade perante a lei (isonomia), e igualdade de poder se pronunciar na assembléia (isagoria), quer dizer, direito à palavra. Essas duas liberdades são os pilares do novo regime, estendidos a ricos e pobres, a nobres e plebeus. O sistema de sorteio evitava, em parte, a formação de uma classe de políticos profissionais que atuassem de uma maneira separada do povo, procurando fazer com que qualquer um se sentisse apto a manejar os assuntos públicos, eliminado-se a alienação política dos indivíduos.Procurava-se, com o exercício direto da participação, tornar o público coisa privada. Sob o ponto de vista grego, o cidadão que se negasse a participar dos assuntos públicos, em nome da sua privacidade, era moralmente condenado. Criticavam-no por sua apatia ou idiotia. Quem precisava de muros para se proteger era a comunidade, não as casas dos indivíduos.


Instituições da democracia:

A) O Conselho dos 500
Uma vez por ano, os demos sorteavam 50 cidadãos para se apresentarem no Conselho (Boulê) que governava a cidade em caráter permanente. Como eram 10 demos, ele denominava-se "Conselho dos 500". Entre estes 500 deputados eram sorteados 50 que formavam a pritania ou presidência do Conselho, responsável pela administração da cidade por 35 ou 36 dias. Cada demos era chamado, alternadamente, a responder pelos assuntos da pólis, durante um certo período. O Conselho determinava a pauta das discussões, bem como a convocação das assembléias gerais populares (a Ecclesia), que se realizavam duas vezes por semana.

B) A Ecclesia
A assembléia geral que reunia o povo inteiro não tinha um lugar fixo. A palavra ecclesia era utilizada para definir, genericamente, qualquer reunião para debater questões públicas, semelhante ao comício (comitiu) romano em sua forma original. Entretanto, em Atenas costumou-se fazer esses grandes encontros num lugar chamado Pnix, uma grande pedra que dominava uma colina, a qual comportava parte considerável dos cidadãos. Quando a ecclesia estava reunida, não só entravam na liça os problemas mais candentes da comunidade, como se escolhiam os magistrados eletivos. As funções executivas estavam divididas entre os magistrados sorteados e os escolhidos por voto popular. Eles eram responsáveis perante a ecclesia por todos os seus atos, podendo ser julgados por ela em caso de falta grave.

C) Os magistrados
As magistraturas eletivas concentravam maior prestígio. É o caso dos estrategos, que formavam uma espécie de estado-maior que reunia os comandantes militares que chefiavam os soldados de infantaria (hoplitas) em tempos de guerra. Cada estratego tinha que ser indicado (eleito diretamente) pelo seu demos e aprovado pela ecclesia. O comando supremo era entregue ao arconte-polemarco, chefe das forças armadas e virtual líder político da cidade. Explica-se a longa liderança de Péricles, por mais de 30 anos, de 460 a 429 a.C., como resultado de suas sucessivas reeleições para o cargo de estratego.
A segunda magistratura em importância era a dos juizes (arcontes) que formavam o Tribunal de Justiça (areópago), em número de nove. O título de rei (basileus), como já vimos, era mantido para o responsável pelo cerimonial religioso. A diferença entre as magistraturas escolhidas por sorteio das determinadas por voto é de que as primeiras não podiam ser reeleitas.


A sota de Atenas, onde os sofistas e os filósofos atuavam.

Os excluídos

Quem participava efetivamente da vida democrática da cidade de Atenas? Estimativas calculam que sua população, no apogeu da cidade, nos séculos V-IV a. C., dificilmente ultrapassava 400 mil habitantes [ 130 mil cidadãos (thètes), 120 mil estrangeiros (métoikion) e 120-130 mil escravos (andrapoda)]. A sociedade ateniense vivia em parte do trabalho dos escravos, sendo esses estrangeiros, visto que, desde os tempos das leis de Sólon (cerca de 594 a.C.), gregos não podiam escravizar gregos. Além dos escravos, tanto os públicos como os domésticos (oikétès) - ex-prisioneiros de guerra ou comprados nos mercados de escravos - excluídos da cidadania, contavam-se os estrangeiros (métoikion) e seus filhos, que igualmente não eram considerados cidadãos. As mulheres, independentemente da sua classe social ou origem familiar, encontravam-se afastadas da vida política. A grande parte da população, dessa forma, não participava dos destinos públicos, estimando-se que os direitos de cidadania estavam à disposição, no máximo, de 30-40 mil homens, mais ou menos um décimo da população total.

O ostracismo
Sócrates, crítico e vítima da democracia.


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Uma típica instituição da democracia ateniense foi o ostracismo (ostrakón). Tratava-se da votação feita anualmente para excluir da vida política aquele indivíduo que fosse considerado uma ameaça às instituições democráticas. Consta ter sido Clístenes quem por primeiro se utilizou dele para banir da cidade velhos seguidores da tirania. Para o cidadão perder seus direitos políticos por 10 anos era necessário, entretanto, que seu nome fosse apontado, geralmente em pedaços de cerâmica, em eleições secretas por mais de 6.000 votos. Isso evitava que ele fosse vítima do capricho de um líder político que desejasse exilá-lo da comunidade. Pode-se considerar o ostracismo como uma prática civilizada, pois evitava-se executar o adversário político, sendo aplicado principalmente contra os chefes do partido aristocrático, que sempre conspiravam contra o bom funcionamento da democracia. Além do mais, não se tocava nos bens do atingido, comprometendo-se o estado a não causar nenhum dano a seus familiares, que ficavam sob sua proteção. Cumpridos os dez anos de exílio, ele podia retornar e assumir plenamente os seus direitos de cidadania.

Apogeu e crise da democracia
Péricles, encarnação viva dos ideais da democracia.





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Como qualquer outro regime político, a democracia ateniense foi testada pelas guerras. Por duas vezes os gregos estiveram ameaçados de perder sua liberdade. A primeira deu-se quando uma expedição naval dos persas tentou desembarcar nas praias de Maratona, sendo derrotada pelo general ateniense Milcíades, em 490 a.C., e a segunda, quando os persas invadiram a Grécia sob o comando do rei Xerxes, em 480 a.C., sendo novamente derrotados nas batalhas de Salamina e Platéias, desta vez por Temístocles. A vitória de Atenas projetou-a como líder das cidades gregas, formando-se então uma simaquia, ou liga federada entre as polis, denominada de Liga de Delos (formada em 478 a.C. e extinta em 404 a.C.). Durante o trintênio de Péricles, também considerado como o período do seu apogeu, aproveitou-se dessa liderança para lançar mão dos recursos financeiros da Liga para embelezar a cidade, restaurando então o célebre templo do Pártenon (em honra à deusa Atena Pártenos, a protetora) em mármore e ouro. Isso serviu de motivo para que as demais cidades integrantes da Liga de Delos se sentissem lesadas, situação que terminou sendo explorada por Esparta, que liderou uma confederação contra os atenienses, levando-os a uma guerra desastrosa: a Guerra do Peloponeso.

Elfíades e Péricles

Dois líderes do partido democrático se destacam naquela época de esplendor: Elfíades e Péricles. O primeiro conseguiu reduzir o poder do Areópago ateniense (espécie de senado vitalício e símbolo do poder dos aristocratas) e o outro introduziu o pagamento em forma de subsídio a todo cidadão pobre que participasse das tarefas políticas das cidades, denominado de mistoforia (o misthos ecclesiastikós). Dessa forma, os de origem humilde, podiam ter sua atividade garantida nas assembléias, bem como exercer algumas das magistraturas. Essa prática desagradou profundamente os nobres e os ricos. Sócrates, que não tinha simpatias pela democracia, lamentava que as assembléias estivessem tomadas por sapateiros, carpinteiros, ferreiros, tendeiros e até vendedores ambulantes, o que fazia com que as pessoas de bom gosto e fortuna se afastassem da vida pública, abandonando o campo da política nas mãos dos demagogos e dos sicofantas (delatores profissionais).


Irene, paz e boa ordem.

A guerra do Peloponeso


Aspasia, esposa de Péricles.

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Mas a verdadeira causa do declínio das instituições democráticas foi, como vimos, resultado da derrota ateniense, perante as forças espartanas na longa Guerra do Peloponeso (431 - 404 a.C.). A oligarquia tentou retomar o poder do meio do governo dos "Trinta tiranos", em 404-403 a.C., mas uma rebelião pró-democracia conseguiu restabelecê-la. Em 338 a.C. os atenienses sofreram um novo revés, dessa vez perante as forças do rei da Macedônia, Felipe II, e seu filho Alexandre, na batalha de Queronéia, fazendo com que a cidade terminasse por ser governada pelos sucessores (diádocos) macedônicos. Seu eclipse final ocorreu durante o domínio romano, quando a Grécia inteira se torna uma província do Império, a partir de 146 a.C.

O mito das virtudes democráticas
Platão, num dos seus diálogos, o Protágoras, ou os Sofistas, reproduz o seguinte mito, narrado pelo filósofo Protágoras a Sócrates, que duvidava ser a política uma atividade ao alcance de todos:
"O homem, ao participar das qualidades divinas (a sabedoria das artes úteis e o domínio do fogo), foi primeiramente o único animal que honrou os deuses e se dedicou a construir altares e imagens das deidades: teve, além disso, a arte de emitir sons e palavras articuladas, inventou as habitações, os vestidos, o calçado, os meios de abrigar-se e os alimentos que nascem da terra. Apetrechados dessa maneira para a vida, os seres humanos viviam dispersos, sem que existisse nenhuma cidade; assim, pois, eram destruídos pelos animais, que sempre, em todas as partes, eram mais fortes do que eles, e seu engenho, suficiente para alimentá-los, seguia sendo impotente para a guerra contra os animais; a causa disso residia em que não possuíam a arte da política (Politike techne), da qual a arte da guerra é uma parte. Buscaram, pois, uma maneira de reunir-se e de fundar cidades para defender-se. Mas, uma vez reunidos, feriam-se mutuamente, por carecer da arte da política, de forma que começaram de novo a dispersar-se e a morrer.

Zeus lhes envia o pudor e a justiça


Zeus distribuiu pudor e justiça.

Então Zeus, preocupado ao ver nossa espécie ameaçada de desaparecimento, mandou Hermes trazer para os homens o pudor e a justiça (aidós e dikê), para que nas cidades houvesse harmonia e laços criadores de amizade. Hermes, pois, perguntou a Zeus de que maneira deveria dar aos humanos o pudor e a justiça: "Deverei distribuí-los como as demais artes? Estas se encontram distribuídas da seguinte forma: um só médico é suficiente para muitos profanos, o mesmo ocorre com os demais artesãos. Será essa a maneira pela qual deverei implantar a justiça e o pudor entre os humanos ou deverei distribuí-los entre todos?" "Entre todos", disse Zeus, que cada um tenha a sua parte nessas virtudes, já que se somente alguns as tivessem, as cidades não poderiam subsistir, pois neste caso não ocorre como nas demais artes; além disso, estabelecerás em meu nome esta lei, a saber: que todo homem incapaz de ter parte na justiça e no pudor deve ser condenado à morte, como uma praga da cidade."(PLATÃO "Protágoras ou os Sofistas" In: Obras Completas. Madri: Aguilar, 1974, pp. 168/9.)

Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/politica/democracia5.htm. Consultado em: 31/01/2015.

VÍDEO AULA
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