(Conto II)
Por:
Claudio Fernando Ramos 17/01/2014. Cacau “:¬)
*Necessárias correções
ortográficas serão feitas à posteriore.
Grato pela compreensão!
Claudio F Ramos, autor. 01/2015 Cacau ":¬) |
Introdução
Esse
nosso segundo conto contempla um tema do interesse de todos, se não agora,
amanhã certamente. Se no primeiro conto falamos sobre o suicídio, nesse
discorremos sobre a velhice. Os temas são bastante abrangentes e, por conta
disso, polêmicos. Porém, entendemos que esses contos não são tratados
científicos, doutrinas religiosas ou até mesmo pontos de vistas pessoais. As
obras, agradáveis aos leitores ou não, são apenas de caráter fictícios. Portanto,
qualquer semelhança com uma possível realidade, deve ser arrolada como nada além
que uma mera coincidência. No mais, qualquer opinião, contra ou a favor da obra
de nossa autoria, ficará restrita ao universo que as cabem: meras opiniões. Boa
leitura! Cacau “:¬)
Texto
Depois...
Alguns
anos depois de tamanha claridade, brilho e intensa luz, uma sombra se fará
sentir.
Essa
sombra nunca é muito célere no seu aproximar, por conta disso alguns até acham
que ela falhará. Mas ela virá, acredite, ela sempre vem e, quando o fizer, se
fará extremamente eficiente no seu escurecer.
Leve
para uns, um fardo para outros, no
entanto, escura para todos.
Com
ela, o alvorecer cotidiano não deixará de existir, não necessariamente; porém,
a exuberância, desse mesmo alvorecer, saudosos e iluminados dias de outrora,
pecará pelo excesso de modéstia, limites e incontáveis contingências quando a
sombra o alcançar.
Muitos,
apesar da velocidade letárgica da mesma, serão atingidos por essa inexorável
penumbra do existir.
Outros
partirão antes de sua indeclinável presença.
Os
que partirão prematuramente, inconscientes ou não, no momento da partida implorarão
aos seus deuses, caso os possua, pelo privilégio de serem alcançados pela tal sombra.
Os
que receberem a graça de verem o seu desejo atendido, descobrirão impotentes
que não haverá razão alguma para agradecer pelo grande “milagre” obtido.
Mas
os que ainda assim insistirem na gratidão, não encontrarão oportunidade alguma
para o pleno regozijo.
Aos
que vivem com a luz, tudo é permitido; principalmente fazer, errar, reinventar...
Quanto
aos que sobrevivem sob a égide da sombra, restam-lhe a esperança...
Um
longo silêncio se fez.
O
jovem ficou no aguardo de mais algumas palavras do ancião. Mas elas não vieram.
Enquanto
olhava a lateral do rosto do senhor que estava sentado ao seu lado, do interior
do jovem surgiu um ímpeto questionador: - Esperança no quê Mestre?
Mas
ele, a exemplo do ancião, preferiu manter-se em silêncio. Não quis ser
inoportuno, talvez o mestre estivesse fazendo uma oração silenciosa ou coisa
que o valha; quem sabe até mesmo mensurando a extensão, peso e significado de
suas palavras. Quem sabe...
O
idoso tinha os olhos fixo em um ponto qualquer à sua frente, o jovem não sabia
bem no quê.
Do
local de onde estavam, era possível ter uma perfeita visão do vale mais abaixo.
Ao longe, sem ofender a serenidade harmônica do local, um pastor tangia algumas
dezenas de ovelhas. As cores dos animais contrastavam suavemente com o verde da
relva e, seus balidos, de forma fraca e agradável, chegavam até os seus ouvidos
como uma canção que só a natureza seria capaz de compor. Sentindo-se um pouco desconfortável
com as câimbras que impiedosamente fustigavam suas pernas, procurou uma posição
mais confortável; encostou as costas na grama verde, cruzou as mãos por trás da
cabeça, fazendo-as de travesseiro e, em seguida, pôs-se a pensar. Com singular humildade, era cônscio da dificuldade
que tinha em entender e aceitar boa parte de tudo o que havia ouvido. As
palavras do ancião foram calmas e agradáveis aos ouvidos, semelhantemente aos
balidos das coloridas ovelhas que tranquilamente pastavam no vale. Mas, apesar
dessa tranquilidade no falar do idoso e da sua própria limitação cognitiva
enquanto entendedor, algumas coisas lhe ficaram evidentes, a menos que
estivesse muito enganado, percebia muito pessimismo naquele discurso; notava um
quê de amargura fatalista por trás de cada frase, uma dor incontida entranhada
em cada sentença. Ficou cansado de pensar, não era de seu hábito fazer isso com
regularidade, inclinou levemente a cabeça para o lado esquerdo, a fim de poder,
novamente, contemplar as ovelhas; essas, conduzidas pelo pastor, estavam um
pouco mais distantes agora. Lenta, mas paulatinamente eram conduzidas para mais
distante ainda; parecia que o pastor as estava recolhendo. Permaneceu
observando enquanto elas e o pastor iam, aos poucos, sumindo no horizonte.
Perguntou
para si mesmo:
-
Por que os homens precisam sempre encontrar respostas? Por que fazem sempre
perguntas? Tudo não seria bem mais fácil se aceitássemos a vida tal como ela é:
nascimento, vida e morte?
Sentiu
inveja das ovelhas que não mais podia ver, partiram. Teve vontade de rir de si mesmo
por conta desse sentimento incomum, encontrava-se às voltas com uma melancolia
barata e vulgar. Nada fez! No fundo, bem no fundo, sabia que era coisa séria o
que agora sentia. Para ele, elas podem não saber de nada, nem serem livres como
os homens acreditam que são; mas, mesmo sem terem consciência disso, possuem um
tesouro inestimável para qualquer ser vivente: finalidade específica na
existência. Por isso, sem rebeldias, vazios questionamentos e retóricas evasivas,
generosamente, dia após dia, elas ofertam leite, lã e, por fim, a própria carne;
tudo isso para que outras formas de vida possam continuar existindo,
independentemente se esses outros seres merecerem ou não essa dádiva
sacrificial.
-
E quanto a nós humanos?
Seres
superiores, inteligentes e racionais! Seus pensamentos estavam tomados de incontida
angustia.
-
Sabemos tanto, temos filosofias, tratados, ciências, religiões... No entanto,
passamos a vida toda para sabermos quem, o quê, e o porquê somos... E no fim de
tudo, só temos mais perguntas acompanhadas de capciosas respostas... Meu Deus,
o que tudo isso significa?
Assustado,
de um salto pôs-se de pé; sem aviso prévio dedos flácidos, mas determinados,
haviam lhe tocado.
-
Vamos! A sombra da noite se aproxima! Se formos alcançados por ela corremos o
risco de nos perder pelo caminho!
As
palavras do idoso interrompeu abruptamente sua imersão reflexiva. A força
melancólica das palavras do ancião, o tocou como uma profecia messiânica. Olhou
para o céu, não era mais possível ver o sol, no entanto, o horizonte ardia. Uma
espécie de batalha parecia estar sendo travada entre as cores. O azul, que
havia dominado o céu ao longo do dia, agora se encontrava meio que encurralado,
restrito a uma pequena faixa no oeste; dava a impressão de resistir bravamente
à investida do marrom-alaranjado que se formava um pouco acima do já combalido
azul. Do outro lado, no leste, subindo detrás das montanhas, uma sombra
poderosa surgia para revindicar todo o céu para si. À noite, com todas as suas
prerrogativas, em breve se faria sentir. Pensou em Heráclito: a guerra é a mãe
de todas as coisas! O universo, com tudo o que nele existe, não tem como
declinar desse imperativo. O dia vai para que a noite venha, a juventude
precisa ceder espaço à velhice, a morte porá fim à vida...
O
idoso já estava distante, não esperou pelo jovem, preferiu deixá-lo com seus
pensamentos por mais alguns segundos. - É sempre tão raro que se queira fazer
isso à luz do dia. A velhice trás mais e melhores pensamentos; esse é de fato
seu único mérito! Sentenciou o velho de si para si, em seguida, concluiu: - a
noite clama por uma boa cama, com lençóis limpos e travesseiros macios, onde
todos, não importando se velhos ou jovens, podem, com toda calma, refletir
sobre os mistérios da vida! - Esse, concluiu com certa satisfação, é um dos
motivos pelos quais não devemos temer as sombras da noite.
-
Mestre! O jovem o havia alcançado, e agora lhe falava com certa ânsia.
-
Lhe seria muito incomodo se... Bem, se em um dia qualquer pudéssemos retomar
essa significativa discussão? Eu tenho tantas dúvidas!
O
ancião nada lhe respondeu, simplesmente cobriu a cabeça com o capuz do roupão
que vestia, sentia frio nas orelhas. Protegido pela fraca luz do crepúsculo e
pela ocultação do capuz, seu rosto sustentava um sorriso enigmático; sorriso inacessível
para o jovem que o acompanhava tentando acelerar os passos. Andar rápido e
pensar ao mesmo tempo; mesmo do alto de sua juventude, não lhe era fácil fazer
as duas coisas concomitantemente. Cacau “:¬)
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