Período Naturalista pré-socrático, em que o
interesse filosófico é voltado para o mundo da natureza.
O primeiro período do pensamento grego toma a
denominação substancial de período naturalista, porque a nascente especulação
dos filósofos é instintivamente voltada para o mundo exterior, julgando-se
encontrar aí também o princípio unitário de todas as coisas; e toma, outrossim,
a denominação cronológica de período pré-socrático, porque precede Sócrates e
os sofistas, que marcam uma mudança e um desenvolvimento e, por conseguinte, o
começo de um novo período na história do pensamento grego. Esse primeiro
período tem início no alvor do VI século a.C., e termina dois séculos depois,
mais ou menos, nos fins do século V.
Surge e floresce fora da Grécia propriamente dita,
nas prósperas colônias gregas da Ásia Menor, do Egeu (Jônia) e da Itália
meridional, da Sicília, favorecido sem dúvida na sua obra crítica e
especulativa pelas liberdades democráticas e pelo bem-estar econômico. Os filósofos deste período preocuparam-se quase
exclusivamente com os problemas cosmológicos. Estudar o mundo exterior nos
elementos que o constituem, na sua origem e nas contínuas mudanças a que está
sujeito, é a grande questão que dá a este período seu caráter de unidade. Pelo
modo de encarar e resolver, classificam-se os filósofos que nele floresceram em
quatro escolas:
A) Escola Jônica;
B) Escola Itálica;
C) Escola Eleática;
D) Escola Atomística.
A) Tales de Mileto (624-548 a.C.) "Água"
Tales de Mileto, fenício de origem, é considerado o fundador da escola
jônica. É o mais antigo filósofo grego. Tales não deixou nada escrito, mas
sabemos que ele ensinava ser a água a substância única de todas as coisas. A
terra era concebida como um disco boiando sobre a água, no oceano.
Cultivou também as matemáticas e a astronomia,
predizendo, pela primeira vez, entre os gregos, os eclipses do sol e da lua. No
plano da astronomia, fez estudos sobre solstícios a fim de elaborar um
calendário, e examinou o movimento dos astros para orientar a navegação.
Provavelmente nada escreveu. Por isso, do seu
pensamento só restam interpretações formuladas por outros filósofos que lhe
atribuíram uma idéia básica: a de que tudo se origina da água. Segundo Tales, a
água, ao se resfriar, torna-se densa e dá origem a terra; ao se aquecer
transforma-se em vapor e ar, que retornam como chuva quando novamente
esfriados. Desse ciclo de seu movimento (vapor, chuva, rio, mar, terra) nascem
as diversas formas de vida, vegetal e animal. A cosmologia de Tales pode ser
resumida nas seguintes proposições:
A) A terra flutua sobre a
água;
B) A água é a causa material
de todas as coisas;
C) Todas as coisas estão
cheias de deuses.
D) O imã possui vida, pois
atrai o ferro.
B) Anaximandro de Mileto (611-547 a.C.) "Ápeiron"
Anaximandro de Mileto, geógrafo, matemático,
astrônomo e político, discípulo e sucessor de Tales e autor de um tratado Da
Natureza, põe como princípio universal uma substância indefinida, o ápeiron
(ilimitado), isto é, quantitativamente infinita e qualitativamente
indeterminada.
Deste ápeiron (ilimitado) primitivo, dotado de vida
e imortalidade, por um processo de separação ou "segregação" derivam
os diferentes corpos. Supõe também a geração espontânea dos seres vivos e a
transformação dos peixes em homens. Anaximandro imagina a terra como um disco
suspenso no ar. Eterno, o ápeiron está em constante movimento, e disto resulta
uma série de pares opostos - água e fogo, frio e calor, etc. - que constituem o
mundo.
O ápeiron é assim algo abstrato, que não se fixa
diretamente em nenhum elemento palpável da natureza. Com essa concepção,
Anaximandro prossegue na mesma via de Tales, porém dando um passo a mais na
direção da independência do "princípio" em relação às coisas
particulares. Para ele, o princípio da "physis" (natureza) é o ápeiron
(ilimitado).
Atribui-se a Anaximandro a confecção de um mapa do
mundo habitado, a introdução na Grécia do uso do gnômon (relógio de sol) e a
medição das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o
iniciador da astronomia grega). Ampliando a visão de Tales, foi o primeiro a
formular o conceito de uma lei universal presidindo o processo cósmico total.
Diz-se também, que preveniu o povo de Esparta de um terremoto. Anaximandro
julga que o elemento primordial seria o indeterminado (ápeiron), infinito e em
movimento perpétuo.
C) Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) "Ar"
Segundo Anaxímenes, a arkhé (comando) que comanda o
mundo é o ar, um elemento não tão abstrato como o ápeiron, nem palpável demais
como a água. Tudo provém do ar, através de seus movimentos: o ar é respiração e
é vida; o fogo é o ar rarefeito; a água, a terra, a pedra são formas cada vez
mais condensadas do ar. As diversas coisas que existem, mesmo apresentando
qualidades diferentes entre si, reduzem-se a variações quantitativas (mais
raro, mais denso) desse único elemento.
Atribuindo vida à matéria e identificando a
divindade com o elemento primitivo gerador dos seres, os antigos jônios
professavam o *hilozoísmo e o panteísmo naturalista. Dedicou-se especialmente à
meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe sua luz do Sol.
Anaxímenes julga que o elemento primordial das coisas é o ar.
D) Pitágoras
de Samos
Pitágoras, o fundador da escola pitagórica, nasceu em Samos pelos anos 571-70 a.C. Em 532-31 foi para a Itália, na Magna Grécia, e fundou em Crotona, colônia grega, uma associação científico-ético-política, que foi o centro de irradiação da escola e encontrou partidários entre os gregos da Itália meridional e da Sicília.
Pitágoras, o fundador da escola pitagórica, nasceu em Samos pelos anos 571-70 a.C. Em 532-31 foi para a Itália, na Magna Grécia, e fundou em Crotona, colônia grega, uma associação científico-ético-política, que foi o centro de irradiação da escola e encontrou partidários entre os gregos da Itália meridional e da Sicília.
Pitágoras aspirava - e também conseguiu - a fazer
com que a educação ética da escola se ampliasse e se tornasse reforma política;
isto, porém, levantou oposições contra ele e foi constrangido a deixar Crotona,
mudando-se para Metaponto, aí morrendo provavelmente em 497-96 a.C.
Segundo o pitagorismo, a essência, o princípio
essencial de que são compostas todas as coisas, é o número, ou seja, as
relações matemáticas. Os pitagóricos, não distinguindo ainda bem forma, lei e
matéria, substância das coisas, consideraram o número como sendo a união de um
e outro elemento. Da racional concepção de que tudo é regulado segundo relações
numéricas, passa-se à visão fantástica de que o número seja a essência das
coisas.
A doutrina e a vida de Pitágoras, desde os tempos
da antiguidade, jaz envolta num véu de mistério.
A força mística do grande filósofo e reformador
religioso, há 2.600 anos vem, poderosamente, influindo no pensamento Ocidental.
Dentre as religiões de mistérios, de caráter iniciático, a doutrina pitagórica
foi a que mais se difundiu na antiguidade.
Não consideramos apenas lenda o que se escreveu
sobre essa vida maravilhosa, porque há, nessas descrições, sem dúvida, muito de
histórico do que é fruto da imaginação e da cooperação ficcional dos que se
dedicaram a descrever a vida do famoso filósofo de Samos.
O fato de negar-se, peremptoriamente, a
historicidade de Pitágoras (como alguns o fazem), por não se ter às mãos
documentação bastante, não impede que seja o pitagorismo uma realidade
empolgante na história da filosofia, cuja influência atravessa os séculos até
nossos dias.
E) Heráclito X Parmênides
Heráclito
procura explicar o mundo pelo desenvolvimento de uma natureza comum a todas as
coisas e em eterno movimento. Ele afirma a estrutura contraditória e dinâmica
do real. Para ele, tudo está em constante modificação. Daí sua frase "Não
nos banhamos duas vezes no mesmo rio", já que nem o rio nem quem nele se
banha são os mesmos em dois momentos diferentes da existência. Parmênides, ao
contrário, diz que o ser é unidade e imobilidade e que a mutação não passa de
aparência. Para Parmênides, o ser é ainda completo, eterno e perfeito.
Heráclito e Parmênides: o surgimento da filosofia entre o ser e o vir-a-ser
- PARMÊNIDES
a) Divergências
Conta-se
que Parmênides certa vez disse a respeito de Heráclito: "Fora com os
homens que nada sabem e parecem ter duas cabeças! Junto deles está tudo, também
seu pensamento, em fluxo. Eles admiram as coisas perenemente, mas precisam ser
tão surdos quanto cegos para misturarem assim os contrários!".
De
fato, enquanto um se baseava na lenta e dolorosa escalada da lógica pura, e
outro muitas vezes parecia estar guiado pela intuição e até por um misticismo
confuso, era natural que não apenas discordassem, mas que se desenvolvessem
ânimos entre eles. No entanto, esse conflito nos é fundamental, pois teria sido
o primeiro choque de idéias que ainda hoje encontra força e significado;
afastando-se lentamente da Filosofia da Natureza e do misticismo de Pitágoras, Heráclito e Parmênides começam a desbravar um território que ainda hoje nos
assombra - o estudo dos seres e dos não-seres. Ao questionar o que eles são,
até que ponto eles são válidos e reais, ponto de divergência entre os dois, o
que é, como ocorre e se ocorre o vir-a-ser (isto é, não ser então tornar-se)
eles partem para um estudo mais aprofundado da realidade além de onde a ciência
ou qualquer outra área do conhecimento com a exceção da filosofia alcançam.
b) O pensamento
Parmênides
nasceu em Eleia na Itália, por volta de 530 a. c. Sua filosofia, dita Eleata,
contrasta-se com a de Heráclito, dita Jônica, por seu tom cinza, frio e
penetrante, mostrando um processo lógico de passos lentos, porém firmes; a
filosofia de Parmênides pode ser dividida em duas fases, que servem inclusive
para dividir o pensamento pré- socrático; em sua primeira fase, o pensamento de
Parmênides é feito a partir de um sistema físico- filosófico; quando ele parte,
no entanto, para a teoria do Ser, ele marca a divisão entre um pensamento
anaximândrico e o pensamento parmenídico. Nos interessa, logicamente, apenas a
segunda parte, onde se concentra o que há de inovador em sua filosofia;
O
primeiro passo tomado por Parmênides é tentar ordenar a realidade; para isso,
faz uso de duas classes; aquelas que são, e aquelas que não são- ao observar a
luz e a escuridão, por exemplo, observou que a escuridão nada mais era que a
negação as luz; como uma qualidade negativa; a partir daí partiu para outros
pares de opostos, leve e pesado, sutil e denso, passivo e ativo, terra e fogo,
frio e quente, etc. Parmênides relacionava uma das características à luz, ou
positiva, e a sua oposta, à escuridão, ou negativa; depois que passou a
denominá-las, simplesmente, "ser" (positiva) e não-ser (negativa) , e
postula também, que "O Ser é, e o Não-Ser não é". Nessa seleção dos
opostos, em vários momentos evidencia-se a disposição para um pensamento lógico
livre de intuições sem fundamentos, uma característica que, aliás, marca
Parmênides.
c) A lógica
Parmênides
estava, então, diante de um grande problema; ele precisava explicar como ocorre
o movimento, ou o vir-a-ser (ou seja, a mudança; um não-ser que se torna ser,
ou um ser que se torna não-ser). Foi então que Parmênides fez uma constatação
sem precedente- ao decidir por seguir a lógica, somente a lógica, Parmênides
descobriu que não sabia de nada com certeza-livre de certezas intuitivas, não
fosse questionável, nada que fosse realmente claro e certo. Assim, Parmênides
partiu em uma busca por um pensamento fundamental, algo que fosse evidente em
si. Em Parmênides, esse pensamento se manifestou como o Princípio da Identidade
- "o que é, é", ou seja, "n" é igual a "n", e
somente igual a "n" - se "n" for igual a "a",
então nada mais pode ser do que "n" (você não pode ser igual e
diferente ao mesmo tempo). Isso parecia ser tão óbvio e tão evidente que
parecia ilógico que não fosse verdade.
Aqui
entram as complicações de Parmênides- diante do Ser e do Não-Ser, e da
Identidade, ele não podia enxergar um caminho para que ocorresse o vir-a-ser O
Ser é, e o não-ser não é, pensava Parmênides: como pode-se dizer que "algo
era", ou "algo será"? O ser não pode vir do não-ser, pois o não-ser,
é o nada e nada pode surgir do nada; e se viesse do Ser, o que seria isso senão
a criação de si mesmo? O perecimento - o deixar de ser - também sofre do mesmo
problema. Nesse momento, Parmênides marcha para sua conclusão final- não há
mudança, e, portanto, não há distinção entre seres e não-seres. O homem que
criticara Heráclito por sua cegueira e surdez agora tinha como palavra de ordem
a negação do que os "sentidos mentirosos" lhe mostravam - o Ser é
Uno, um único grande Ser eterno que jamais se altera e a qual tudo, Seres e Não-Seres,
são apenas ilusões de si mesmo.
É
possível observar tocantes semelhantes de Parmênides e outros eleatas como
Xenófanes com o Hinduísmo, e até mesmo com correntes de pensamentos que
florescem em nosso tempo; e, embora várias críticas possam ser feitas a
Parmênides, talvez a mais fundamental seja quanto a seu curso da lógica- hoje
pensamos que a razão que deve se adequar à realidade, e não o contrário; assim,
se a "lógica pura e bruta" diz que tudo é uma ilusão, então a falha
deve estar na lógica, e não no mundo. Parmênides desenvolveu também um profundo
estudo do infinito, juntamente com seu discípulo Zeno (ou Zenão de Eléia).
- HERÁCLITO
a) O ser e o não-ser
Parmênides
cai no repouso universal; já um fragmento dos escritos de Heráclito diz:
"Tudo flui e nada permanece; tudo se afasta e nada fica parado... Você não
consegue se banhar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras
sempre vão fluindo... É na mudança que as coisas acham repouso..."
De
fato, enquanto Parmênides duvida do vir-a-ser, Heráclito faz deles um dos seus
pontos de partida; dessa maneira, afirma que nada é permanente, que tudo está
em constante mutação, incessantemente; nesse ponto enxerga-se um paralelo
curioso com o pensamento oriental, embora as civilizações de onde surgiram
conceitos tão semelhantes ainda não tivessem entrado em contato com umas com as
outras.
b) O pensador exótico
A
respeito de sua vida, Heráclito nasceu em Efésios; conhecido por desprezar
quase todos, senão todos, os pensadores e poetas da sua época, não teve mestre,
dizendo na adolescência que "não sabia nada", e, na idade adulta, que
"sabia tudo". Heráclito, em seu comportamento anti-social, resolveu
se afastar da cidade e habitar os campos, se alimentando apenas de ervas, o que
lhe trouxe hidropisia, que acabou lhe matando. Conta-se que teria retornado a
Efésios e perguntado se seria possível curá-lo esvaziando seus intestinos; como
diziam que não, dizem que deitou em praça pública e deu o comando que lhe
cobrissem de esterco, para que o calor fizesse evaporar a água que tanto lhe
atormentava; tendo então morrido por sob uma pilha de esterco, alguns dizem que
teria sido sepultado na própria praça pública, enquanto outros dizem que ele
teria sido devorado pelos cachorros que ali passavam.
c) O obscuro
Heráclito
foi também conhecido por Skoteinós, que quer dizer "O Obscuro"- de
fato, seus pensamentos muitas vezes parecem contraditórios e sem sentido, e
apesar de seu amor declarado por Lógos (a lógica, a razão) ele não parece
disposto a se utilizar tão exclusivamente dela, como Parmênides, mesmo que seus
pensamentos a respeito da lógica tenham sido de fundamental importância para
grandes pensadores como Aristóteles e Hegel. Heráclito declara que tudo está em
mutação, mas apenas o que permanece é - e o que permanece, senão a própria
mudança? Assim, ele denomina como Lógos essa lei universal da mudança- o modo
com que as coisas mudam- e ainda: "Todos fazemos e dizemos segundo a
participação do Lógos. Por isso devemos seguir apenas a este entendimento
universal. Muitos, porém, vivem como se tivessem um entendimento próprio; o
entendimento, porém, não é outra coisa que a interpretação (o tomar
consciência, a exposição, a convicção) dos modos da ordenação do todo. Por
isso, na medida em que tomamos no saber dele, estamos na verdade; mas, na
medida em que temos coisas particulares (próprias), estamos na ilusão".
d) Os
dois polos
Heráclito
também parte da divisão do universo entre dois pólos, "Seres" e
"Não-Seres", e, também, enxerga a unidade entre eles. No entanto,
enquanto a unidade de Parmênides é idêntica e imutável, a de Heráclito é
"tensionada entre dois pólos"; assim, mesmo que o Ser e o Não-Ser
sejam parte e coabitem o mesmo, e, como diz em suas obscuras palavras, "O
ser é tão pouco como o não- ser; o devir é e também não é", mesmo apesar
de tudo isso, não quer dizer que você possa descartá-los como simples ilusão.
Dessa maneira, enquanto os eleatas mergulham fundo em busca da essência
verdadeira, daquilo que factualmente existe, Heráclito faz uso de uma
representação, o que, não se pode negar, é um avanço considerável.
e) A luta dos contrários
A
partir dessa nova visão dos pares de opostos Heráclito cria idéias
interessantes a partir de pares como "o todo e a parte", "o que
se une e o que se opõe"; dessa idéia de que os polos sejam simples
abstrações e habitem o mesmo, conclui que, em suas próprias palavras, "O
Um, diferenciado de si mesmo, une-se consigo mesmo, como a harmonia do arco e
da lira". Essa harmonia seria Lógos, a razão, que une os opostos em sons
consoantes; como a composição grega é horizontal e não vertical, por harmonia
entende-se a maneira como sons tocados em sequência equilibram-se entre si; daí
a metáfora torna-se perfeita, como mudança.
Heráclito
também teve uma participação marcante juntamente dos jônicos, voltando-se
novamente aos modelos físico- filosóficos; e nesse ponto a partir de diferentes
fontes encontra-se diferentes visões a respeito de qual seria a essência
ontológica; essas aparentes contradições parecem ruir, pelo outro lado, quando
se lembra que nada era permanente para Heráclito (senão Lógos, a mudança em si)
, e que ele parece estar mais preocupado com determinar o ciclo de mudanças e a
maneira como esta ocorre - e daí a indicação do tempo como uma das essências
ontológicas. Mesmo assim, ele acende e se apaga.
f) Antagonismos
De
um lado, um mundo em repouso, onde tudo que se movimenta é ilusão, nascida da
lógica; pelo outro lado, um mundo onde tudo é movimentado, onde as coisas
nascem mas, nas palavras de Buda, "Você deveria saber que todas as coisas
nesse mundo são efêmeras- unir-se significa inevitavelmente separar-se. Não se
entristeça, pois tal é a natureza da vida", uma visão gerada pela razão,
mas também por um recém-nascido método especulativo, baseado em como Lógos
alcança a mente humana, e, no fundo, muitos traços se intuição e misticismo,
condenáveis não ao pensador, mas ao ser humano por trás dele. E assim nascia a
Filosofia.
F) Zenão de Eleia
a) O defensor de Parmênides
Zenão floresceu cerca de 464/461 a.C. Nasceu em Eleia (Itália). Ao contrário de Heráclito, interveio na política, dando leis à sua pátria. Tendo conspirado contra a tirania e o tirano (Nearco?), acabou preso, torturado e, por não revelar o nome dos comparsas, perdeu a vida.
Zenão floresceu cerca de 464/461 a.C. Nasceu em Eleia (Itália). Ao contrário de Heráclito, interveio na política, dando leis à sua pátria. Tendo conspirado contra a tirania e o tirano (Nearco?), acabou preso, torturado e, por não revelar o nome dos comparsas, perdeu a vida.
Escreveu várias obras em prosa: Discussões, Contra
os Físicos, Sobre a Natureza, Explicação Crítica de Empédocles. - Considerado
criador da dialética (entendida como argumentação combativa ou erística), Zenão
erigiu-se em defensor de seu mestre, Parmênides, contra as críticas dos
adversários, principalmente os pitagóricos. Defendeu o ser uno, contínuo e
indivisível de Parmênides contra o ser múltiplo, descontínuo e divisível dos
pitagóricos.
A característica de Zenão é a dialética. Ele é o
mestre da Escola Eleática; nela seu puro pensamento torna-se o movimento do
conceito em si mesmo, a alma pura da ciência - é o iniciador da dialética.
G) Leucipo e Demócrito de Abdera
a) Separação (morte), união
(vida)
Para Demócrito é impossível o não ser. O ser é
pleno, o não ser é o vazio. As coisas nascem quando se juntam e a morte é a
separação das coisas. O que origina as coisas reais é um infinito número de
corpos que são invisíveis porque tem um volume muito pequeno. Esses corpos são
os átomos que em grego significa não divisível. Eles não são divisíveis porque
se fossem divisíveis ao infinito eles iriam se dissolver no vazio.
b) Os átomos e o alfabeto
Os átomos são naturalmente indestrutíveis, não
criados e imutáveis. Os átomos não se diferenciam quanto à qualidade, todos
eles são igualmente um ser completo, o que os diferencia é a forma ou a figura
geométrica que eles assumem. São diversos entre si como as letras do alfabeto,
mas podem formar diversas palavras e discursos através das suas combinações. O átomo tem uma forma originária e única. A forma
do átomo também é indivisível. O que diferencia um átomo dos outros é a sua
figura, a sua posição e a sua organização. Esses três elementos que distinguem
um átomo do outro podem assumir variações infinitas. Os nossos sentidos não
conseguem perceber o átomo, mas a nossa inteligência consegue conhecê-los. Eles
são eternamente contínuos o por isso diferente dos outros corpos que são a
junção de diferentes e diversos átomos. A qualidade de todos os corpos depende
da forma e da ordem dos átomos que os compõem.
c) As sensações são ilusórias
Os átomos possuem qualidades próprias como
movimento, número, dureza e forma, mas cor, sabor, odor, calor e frio são
aparências que provocam sensações em nossos sentidos, mas não pertencem aos
átomos. Os átomos provocam essas qualidades objetivas devido à suas
combinações.
d) Mundos infinitos
Os átomos são espontaneamente animados, eles se
chocam ou se ricocheteiam entre si, gerando o nascimento a morte ou a mudança
das coisas. As leis que regem o movimento dos átomos são imutáveis. O movimento
dos átomos é giratório e eles ao girar chocam-se em todas as direções
produzindo um vértice, nesse movimento as partes mais pesadas vão para o centro
e as mais leves vão para a periferia. No movimento vertical os átomos mais pesados
descem empurrando os átomos mais leves para cima. Através desse movimento são
gerados infinitos mundos que se criam e se dissolvem também infinitamente.
e) O aparente não é o real
O conhecimento também é explicado através desse
movimento. A imagem que emana do átomo produz nas pessoas uma sensação, essas
sensações são percebidas através do tato que é gerado pelo contato dos átomos
com o corpo das pessoas. Mas mesmo com essas possibilidades para Demócrito
nosso conhecimento ainda é limitado. Além de limitado o conhecimento modifica
de pessoa para pessoa e vai depender também das circunstâncias. Esse
conhecimento não nos dá um critério incontestável para definirmos a verdade e a
falsidade. Podemos chegar a um conhecimento mais aprofundado dessa realidade
utilizando o conhecimento racional que é uma ferramenta mais sensível que
possuímos. Através do conhecimento racional pode ser distinguida a aparência da
realidade.
f) A Ética
A concepção de ética em Demócrito não tem relação
com as suas concepções físicas. Para ele o mais nobre bem que o homem pode
alcançar é a felicidade. Essa felicidade não está no possuir as coisas, na
riqueza. A felicidade mora somente na alma. A justiça e a razão é que nos
tornam felizes. Somente através da razão vamos conseguir superar o medo da
morte. Os excessos perturbam a alma do homem pois geram nele movimentos muito
fortes. Os excessos geram movimentos de um extremo ao outro criando a
inconstância e o descontentamento no homem. A alegria espiritual não está
ligada ao prazer que não é em si mesmo um bem. O que é realmente necessário vai
vir do belo. Devemos respeitar a nós mesmos antes de qualquer coisa.
g) Casamento: mais é menos
Demócrito condenava o matrimônio porque este se
fundamenta nas relações sexuais e as relações sexuais reduzem o domínio que o
homem tem de si mesmo. Condenava o casamento também porque a educação dos
filhos diminui a dedicação ao trabalho.
Sentenças:
- Fama e riqueza sem inteligência não são posses
seguras.
- Para mim um homem vale tanto quanto uma multidão
e uma multidão tanto quanto um homem.
- O ignorante pensa sempre que não tem o que ele
não conheça.
- Tudo que existe no universo é fruto do acaso e da
necessidade.
- Não por medo, mas por obrigação, temos que nos
distanciar dos erros.
- Em matéria de virtude é necessário esforçar-se
por fatos e atitudes e não por palavras.
- É arrogância querer falar de tudo e não querer
ouvir nada.
- A música é a mais jovem das artes, porque não é
feita por necessidade, mas surge do supérfluo.
- Os homens em sua fuga da morte a vai perseguindo.
- Uma vida sem festas é um longo caminho sem
repouso.
- Nada existe além de átomos e do vazio.
- O animal é tão ou mais sábio do que o homem:
conhece a medida da sua necessidade enquanto o homem a ignora
Sistematizado de:
http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=13Em 08/03/2015. Cacau ":¬)
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