Por: Claudio Fernando Ramos - Natal-RN, 07/10/2012
No ano de 1989, mesmo com um governo civil desde 1985, pois foi só em 1989 que de fato houve eleição para a presidente da república, o povo desse imenso e lindo país, retornou aos trilhos da história! Enfim, a tão sonhada redemocratização lançou luz sobre os lúgubres e mal cheirosos cárceres do poder. Foi o fim de uma era com presidentes totalitários, governadores fantoches e prefeitos biônicos. Um povo oprimido pôde enfim ser feliz! Mas, por quanto tempo?
Desde o famigerado ano de 1964, quando fomos rechaçados e brutalizados por “defensores” da lei e da ordem (ordem essa que na prática, mostrou-se mais vil que a ameaça dos supostos subversivos), o povo brasileiro deixou de poder tomar, em suas próprias mãos, o destino de sua efêmera e vulnerável existência. Essa situação assemelhava-se a do período homérico, momento em que se acreditava fielmente nos deuses do Olimpo e havidamente consultava-se os oráculos, rendendo-se a inexorabilidade de suas mensagens. Até que pensadores, conhecidos historicamente como filósofos cosmológicos ou, mais popularmente, como pré-socráticos, roubaram a cena. Tales, Demócrito, Parmênides, Heráclito... Cada um há seu tempo e modo, mostraram aos homens que são eles mesmos os escritores, diretores, protagonistas e espectadores de sua arte mais cara e celebrada: viver e decidir a própria vida.
Mas, como todos sabemos ou ao menos desconfiamos, os mitos não morem, eles se transformam. Cuidar (cedo ou tarde) de si mesmo, nunca foi (desconfio se um dia será), tarefa das mais fáceis para nós mamíferos, sempre tão carentes de tudo e de todos. A democracia representativa em nossa terra, de forma análoga aos mitos gregos, vem confirmar essa nossa peculiar condição: procuramos um líder, pedimos por um guia, clamamos por um messias, imploramos por um salvador... Alguns desses conceitos eram estranhos até mesmo para os gregos, tomados que eram por crenças politeístas, estranho que não sejam para nós. Definitivamente, isso não vai nem pode acabar bem!
As propagandas dos políticos, que a cada dois anos são veiculadas aos meios de comunicações de massa, vêm produzindo estragos consideráveis e inclementes no espírito humano. Se como disse Rousseau, o espírito do homem já foi bom um dia, desconfio que isso já não faça mais sentido. Não é sem intenção que essas pessoas de pouco ou nenhum escrúpulo, utilizando-se da imagem dos mais humildes (economicamente falando), tentam (a qualquer preço) seduzir a maioria (que também é constituída de humildes). Ora, se todos eles, nesse caso há raríssimas exceções, ao longo de várias décadas, têm como finalidade última, o bem estar dos pobres; por que quê a cada 730 dias (quando as promessas voltam a ser feitas) temos a sensação (para os poucos entendidos) e a constatação (para os mais conscientes) de que possuímos menos hoje do que possuíamos anteriormente?
A razão disso repousa em nossa ganância pessoal e coletiva, ou seja, o homem nunca está satisfeito, desejando sempre mais e mais?
Talvez!
Ou seria as nossas percas secular: direitos roubados, espíritos corrompidos, valores desviados e crenças desmedidas, que tanto nos fragiliza?
É bem provável!
Dívidas históricas e sociais não se paga com umas escolas reformadas, uns postos de saúdes com alguns medicamentos e faltosos médicos, umas ruas calçadas com o mínimo de asfalto, algumas cestas básicas e uma tonelada de promessas. Os candidatos de minha cidade (moro aqui já faz mais de dez anos, portanto, posso fazer uso desse pronome possessivo) são parecidos, principalmente no quesito promessas. Quando diferem nesse ou naquele ponto (o que é muito raro) o efeito é nulo, ou seja, não faz a menor diferença na forma de gerir os rumos que a cidade deva tomar (o inimigo de hoje será o aliado de amanhã, o inverso também é verdadeiro). Esteja onde estiver Maquiavel deve estar dizendo:
- Eu já disse isso a mais de cinco séculos, porém me taxaram de ser maquiavélico!
Por não acompanhar estatística política com muita seriedade, não me é possível antecipar quais serão os derrotados no próximo escrutínio. Mas, isso não me impede de saber, mesmo sem ser um oráculo, quem será o perdedor (por mais quatro anos): o povo (principalmente aqueles que mais foram vistos nas campanhas: os humildes).
Como podemos ver, os mitos estão novamente no centro do universo, no cimo do Monte Olimpo. O panteão dos deuses modernos são as assembleias (Municipais, Estaduais e Federal). Nas casas das divindades há deus para tudo, não há necessidade humana que não possua seu equivalente em representatividade; aliás, representatividade nunca foi um problema nesse país de falsos beatos. Não é sábio ignorar que deuses (presidentes), semideuses (governadores) e herois (prefeitos, senadores, deputados e vereadores) são vaidosos, lutam entre si, amam desesperadamente o poder e sabem se vingar como ninguém. Alguns devotos seduzidos pela áurea das “divindades”, oferecem-lhes o “sacrifício” do voto comprado na expectativa de receberem o “milagre” do favor. Essa atitude devota ocorre mais regularmente em espaços de intensa “peregrinação religiosa”: morros /favelas (tuteladas pelo poder paralelo nos grandes centros urbanos) e sertões/agrestes (crestados pelo implacável calor da miséria).
Aos não devotos, resta a confiança em um tempo cíclico que nos remeta para além dos mitos contemporâneos. Que um novo período cosmológico desponte, trazendo-nos a luz da razão, semelhantemente ao ocorrido com os primeiros filósofos da Antiguidade, os pré-socráticos, favorecendo enfim o pensamento humano, tão necessário para a tomada de transformadoras e duradouras decisões. Talvez assim, nos apossemos da verdade, que, acreditem, nunca nasceu no topo do Monte Olimpo. Por que ter fé neste ou naquele candidato? O que justificaria essa atitude própria dos carolas? Aos que não se negarem o pensamento, não será difícil imaginar que uma sociedade mais justa só se constrói com homens justos, assim pensava Aristóteles; e essa, como todos nós sabemos, é uma prerrogativa que os deuses gregos nunca possuíram e, como não é novidade para ninguém, os nossos “deuses da política” também não. Cacau “:¬)
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