domingo, 26 de fevereiro de 2012

JÁ PASSOU DA HORA DA REEDUCAÇÃO DE ALGUÉM



(Itália quer anular isenção tributária da Igreja Católica)



Por: Claudio Fernando Ramos 26/02/2012


Já não era sem tempo. “É chegada a hora da reeducação de alguém, do Pai, do Filho, do Espírito Santo amém...” Caetano, V. O estrangeiro.

Caetano Veloso

 Em um Estado que se diz laico, como é o caso não só da Itália, mas o da maioria das Repúblicas Modernas (inclusive o Brasil), as instituições que se dizem filantrópicas, e nesse caso em especial as igrejas cristãs, a muito perderam essa característica, se é que algum dia a tiveram. Movimentam quantias volumosas, expandindo seus negócios para as mais diversas áreas da economia, aferindo daí lucros exorbitantes. De posse desses lucros se estabelecem, principalmente, na grande mídia (a propaganda é a alma do negócio) aumentando, incomensuravelmente, seu séquito de fies e simpatizantes. Uns dirão: elas falam do amor de Deus, portanto, semeiam a paz, a fé e a salvação da alma ; eu vos direi: alegando possuir uma procuração divina, falam do seu próprio amor. Ao longo dos séculos, esse amor personalizado (denominações), pode até ter ajudado alguns milhares (isso é fato), mas também, jamais deixo de semear o sectarismo, o legalismo e a hipocrisia (isso também é fato). No século XVI, o maior erudito do Renascimento se expressou dessa maneira em sua obra mais famosa: “É curioso verificar que cada país se gaba de ter no céu um protetor, um anjo tutelar, de forma que, num mesmo povo, entre esses grandes e poderosos senhores da corte celeste, se encontrem as diversas incumbências do protetorado. Um cura dor de dentes, outro assiste ao parto das mulheres; aquele faz achar os objetos perdidos, este vela pela segurança e prosperidade do gado; uns salva os náufragos, outro confere a vitória nos combates. Suprimo o resto, porque será um nunca mais acabar.” E a Loucura do autor, que nessa obra fala em primeira pessoa, conclui: “Além desses, existem outros santos que gozam de um crédito e um poder universais, encontrando-se entre estes, em primeiro lugar, a mãe de Deus, a quem o vulgo atribui poder maior do que o do seu próprio filho. Ora as graças que os homens pedem aos santos não serão, talvez, insinuadas também pela loucura?” Rotterdam, E. O Elogio da Loucura.



Que as religiões, sem exceções, trazem variados benefícios à sociedade, isso deve ser reconhecido, valorizado e motivado. Porém, o cidadão, quando cidadão de fato, também faz o mesmo (guardada as devidas diferenças), mas nem por isso está isento de suas responsabilidades ante as exigências do Estado. Jesus, para não ser motivo de escândalo, pagou imposto ao Império Romano (Mateus 17.24-27), todo cristão esclarecido sabe dessa verdade, mas preferem continuar usufruindo de um benefício que pode até ser um direito, mas jamais foi ou será justo.

Dilma Rousseff


Para a casta política (que também vive de regalias), religião é tabu. Nossa atual líder de governo teve que capitular ante este inexorável poder institucional (na época da campanha presidencial, Dilma foi implacavelmente arguida, principalmente pela igreja, sobre sua “simpatia” pela flexibilização da lei contra o aborto); mesmo o aborto sendo um problema de saúde pública, portanto, uma questão de Estado; no Brasil, nesse e em outros quesitos, quem ditam as regras são as igrejas. Isso não constitui nenhuma novidade. Desde a Antiguidade, os monarcas alinhavam-se com os sacerdotes. Juntos, o poder secular e o espiritual tornavam-se irresistível para as pessoas comuns. Mas, como podemos ver, as coisas estão mudando. Já no início da modernidade os homens do Renascimento, rompendo com os dogmas obscurantistas, mas sem romper com a fé, provaram que o homem é capaz de muitas coisas boas (principalmente os avanços científicos), não por desprezarem a Deus, mas, exatamente, por serem suas criaturas. “Que obra prima é o homem! Como é nobre em sua razão! Que capacidade infinita! Como é preciso e bem-feito em forma e movimento! Um anjo na ação! Um deus no entendimento, paradigma dos animais, maravilha do mundo.” Shakespeare, W Hamlet, p. 51



Caso alguém se insurja, falando em nome de Deus, para que as coisas continuem tal como estão, ou seja, mil e uma formas de arrecadação e nenhuma ou pouquíssima forma de prestação de contas; identificando uma possível mudança como sendo aborrecível e vilipendiante para com Deus, temo que estejam, inconscientemente talvez, falando de um outro deus. Cacau :¬)





3 comentários:

  1. A questão é que crença em religião, tabus e dogmas estão acima da razão, e como pode cobrar imposto de algo fora da razão? O estado estaria se aproveitando da crença das pessoas.

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    1. Não concordo com você Douglas. O Estado arca com muitas despesas que seriam de responsabilidade da Igreja. Um exemplo é a reforma de alguns templos antigos. São patrimônios históricos sim, mas sob a tutela da Igreja que tem capital suficiente para arcar com a reforma. Alguns estão caindo aos pedaços e a Igreja fica esperando o Estado para arcar com essas despesas. E isso é só para citar um exemplo. A Igreja deveria, no mínimo, ressarcir o Estado de despesas com ela.

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    2. Religião, tabus e dogmas, podem e devem ser debatidos. Quanto a fé, o mesmo já não pode ser afirmado; é subjetiva demais para que logremos êxito ao fazê-lo. Quanto ao artigo escrito, em nenhum momento questionei a fé, mas os bens adquiridos e, acredite, são muitos. Cacau :¬)

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